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16 de maio de 2010

"Um Brasil menos religioso" por Daniel Nunes

Em março deste ano um dos acontecimentos que abalaram o Brasil foi o assassinato do cartunista Glauco Vilas Boas e seu filho Raoni, ambos da igreja Céu de Maria, fundada pelo cartunista e que seguia os movimentos religiosos de Santo Daime. 

O assassino, um dos seguidores da religião, Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, O Cadu, de 24 anos.


A notícia colocou a religião em evidência. A maioria dos cristãos, ao se depararem com uma situação difícil do dia-a-dia, rezaria. Entretanto, essa não é a realidade de 7,3% da população brasileira que se considera sem religião, segundo pesquisa realizada em 2000 pelo Instituto Brasileiro da Geografia e Estatísticas, o IBGE.

Parte desse número é o jornalista Aurélio Moraes, 27 anos, ateu há 10 anos. Segundo ele, a “desconversão” não aconteceu de uma hora para outra. Foi uma questão de tempo para refletir e chegar numa conclusão. “Fui questionando aos poucos o cristianismo e chegando à conclusão de que não há motivos para se acreditar na existência de nenhum deus adorado por aí”, disse Aurélio.

Entre os universitários, estudo do Teólogo Pós-Doutor Jorge Cláudio Ribeiro, da PUCSP (Pontifícia universidade Católica de São Paulo), aponta que 12,2% dos estudantes do campus Paulista se dizem agnósticos ou ateus. Cerca de 19,8% dos pesquisados acreditam em deus, mas não seguem nenhuma religião. Foram ouvidos 520 estudantes de 17 a 25 anos. Esses resultados estão no livro ‘Religiosidade jovem pesquisa entre universitários’, publicado no ano de 2009.

A partir desse processo os ateus sofrem com a discriminação pela sociedade e até mesmo pela família.  É o caso do estudante, que cita apenas o nome de André. Ele não cedeu à pressão da família evangélica. “Minha família me ama e acha que sou uma pessoa normal, mas no fundo sei que eles ficam desapontados comigo pela minha escolha”, explica André.

Com os problemas em família por causa da religião o padre Paulo Renato, teólogo e filosofo, explica o posicionamento da igreja católica diante de situações, como o casamento entre cristãos e ateus e a relação com a ciência. “A igreja católica permite a união dessas pessoas, mesmo que uma delas não acredite nos caminhos de Deus. Ela receberá uma licença para poder se casar”, disse o padre.

Religião e ciência podem se conciliar, segundo o líder religioso. “Prova disso é a frase do Papa João Paulo II, de que a fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de conhecê-lo, para que, conhecendo-o e amando-o, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio”.

O principal argumento dos descrentes é a falta de respostas para questionamentos por eles considerados modernos. O Pós-Doutor em teologia, Jorge Ribeiro explica que os jovens se sentem autorizados a fazer uma adaptação para aquilo que é a vida deles. “Tudo acontece com muita rapidez e eles se deparam com situações que são próprias de suas gerações. Alguns querem fórmulas prontas para guiar a vida. Outros querem guiar a própria vida”, afirma o Teólogo.

O ateísmo é resultado de uma vontade própria de pensar e de pesquisas pessoais, de acordo com o Presidente da Atea (Associação Brasileira de ateus a agnósticos), Daniel Sottomaior. “Se uma pessoa não tem acesso a nenhum tipo de livro, a internet, fica mais difícil questionar qualquer idéia que seja dominante na sociedade em que ela vive. A educação tem papel fundamental, na medida em que estimula o pensamento crítico.

Por outro lado, o ex-correspondente do The New York Times, Chris Hedges, no livro American Fascists, lançado em janeiro de 2007, diz que nem sempre a educação é o caminho da razão, citando as idéias pregadas na Alemanha Nazista, país que considera extremamente educado. De acordo com o Apresentador da TV Novo Tempo, Leandro Quadros, Pós-graduado em Jornalismo científico e mestrando de Teologia da Universidade Adventista Del Plata, na Argentina, o ateísmo contradiz a filosofia. “Se um ateu diz que tudo é relativo? Eu pergunto: isso que você diz também é relativo? Muitos ateus afirmam que não existe uma verdade absoluta, mas estão absolutamente certos de que não existe uma verdade absoluta.”

Uma frase popular amplamente difundida é a de que se alguém não acredita em deus, então não acredita em mais nada. Valores morais e religião são conceitos unificados pela sociedade brasileira. O ateu Daniel Sottomaior discorda. “Se os ateus fossem imorais, um país Católico e crente como o Brasil, seria um paraíso de honestidade.”

Já o Adventista Leandro Quadros diz que se Deus sai de cena, então é possível viver de acordo com a própria vontade e arremata: “O ateísmo é sinônimo de desculpa para errar.” Quanto à moralidade, Quadros cita o filósofo britânico Antony Flew. Respeitado por muitas décadas pelo pensamento ateísta, o professor Flew admitiu no ano de 2004 a existência de Deus.

O ex-ateu concluiu que, como todos os seres humanos tem uma moralidade semelhante, mesmo em épocas diferentes, então deve existir um se moral superior para ter implantado esse sentimento na humanidade. Grande parte dos religiosos defende que Bíblia e Ciência só se contradizem quando dados são manipulados. Para eles, a bíblia mostra quem criou o universo, enquanto a ciência se preocupa em mostrar como o universo foi criado.

Publicada originalmente no portal Óbvio

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