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19 de outubro de 2013

Das Jornada de Lutas no Cariri: Juazeiro ferve por uma vida sem catracas

O Brasil vivenciou nos últimos meses jornadas de luta, de suor e de sangue. Foram milhares de pessoas, em centenas de cidades do país, que saíram às ruas movidos pelo desejo de mudar o impossível. As manifestações que foram notícias por dias – até hoje são – nos principais jornais nacionais começaram com o estopim do aumento da passagem de ônibus em São Paulo – de R$3,00 passou à 3,20. Diante de um cenário hostil para os movimentos sociais, estes enfraquecidos depois de anos de repressão, eis que o Movimento Passe Livre toma as rédeas da situação e decide que aquela é a hora para agir com grande peso. Dá-se o início das manifestações, são protestos, atos e marchas pelo Passe Livre universal (para todas e todos) em São Paulo, regados de muita violência e repressão policial.

As lutas não se resumiam contra o aumento da tarifa, mesmo que a pauta do MPL fosse essa única. Jovens estudantes, trabalhadores e trabalhadoras tomaram as ruas das cidades contra à corrupção que gira em torno da concepção de Copa das Confederações e do Mundo da FIFA, contra as remoções e despejos motivados pela Copa, contra à evangelização do Congresso Nacional, com políticos da bancada evangélica querendo impor de cima para baixo PLs como a Lei do Nascituro e  a “Cura Gay”. Tomaram às ruas e quebraram os paradigmas, decepcionados desde 1980 com a falsa democracia que vivemos, decepcionados com a politicagem que corrói o dinheiro público, contra os desvios de verba pública e tantas outras corrupções que sabemos acontecer todos os dias.
No Rio de Janeiro
Todas as cidades estavam em chamas, e em Juazeiro do Norte não poderia ser diferente. Cidade com largo histórico de lutas, foi aqui em Juazeiro que se deu início ao movimento Fora Collor. Ali mesmo, na praça do Memorial Padre Cícero, muitos estudantes e trabalhadores indignados e engasgados com a política em vigor deu o tiro inicial, que levou Collor ao impeachment da presidência. Luta pelas jornadas estudantis, marcha pelos professores, marchas em apoio aos índios Guaranis-Kaiwoás, marcha das Vadias, luta pelos direitos trabalhistas dos motoristas e cobradores de ônibus... Juazeiro ferve de desejos insubmissos.

Em Junho, nosso estopim foi o golpe contra os professores do município. O prefeito Raimundo Macêdo (PMDB) havia encaminhado para a Câmara de Vereadores um novo Plano de Cargos, Carreiras e Remunerações dos professores com um grande corte de verba. Foram retirados até 40% do salários dos professores (alguns casos chegaram à 50%). Confrontamos esse golpe dando apoio e pernas para à categoria dos professores e professoras. Fizemos história ao descermos a Rua São Pedro em marcha com mais de 10 mil pessoas ao lado. Encurralamos o prefeito em uma agência bancária e exigimos o cumprimento de nossas reivindicações, que iam desde revogação do PCCR, passando por reabertura das escolas e salas de aula fechadas em 2013 até construção de um terminal de integração intermunicipal.
Foto: Gustavo Ramos
Não tememos às repressões policiais e nos organizamos. Conseguimos construir outros tantos atos e pautar politicamente Juazeiro do Norte. Mas a vergonha que ocupa os cargos políticos do município nos surpreende mais uma vez. Um escândalo de compras superfaturadas de produtos de limpeza deixa a cidade em choque. Diante desse novo cenário, ocupamos a Câmara de Vereadores, acusados da compra de centenas de produtos de limpeza com dinheiro público (poderiam passar anos e anos limpando a câmara com o tanto de produtos comprados). O movimento ficou conhecido como Ocupa JuazeirodN. Por oito dias ocupamos, lutamos e negociamos com o poder público nossas pautas e nosso desejo de um Juazeiro melhor.
Foto: Passe Livre Cariri
Dentre as pautas elencadas na Ocupação, uma delas é o Passe Livre. De acordo com um Termo de Ajuste de Conduta fechado com a Câmara e com a Procuradoria, deverão ocorrer audiências e reuniões para pautar o passe livre municipal. Mas isso não é o bastante! E ontem, dia 17 de Outubro de 2013, saímos mais uma vez nas ruas da cidade querendo mudar o que nos dizem ser impossível. Ontem, fechamos um dos principais cruzamentos da cidade, batucando, gritando e exigindo melhorias no transporte público municipal, tarifa zero nos ônibus, terminais de integração intermunicipal e melhoria nas vias públicas. Olhamos ao redor e percebemos no caos que a sociedade se esboça. Carros, carros, carros. A lógica do individual, a lógica do poder econômico, a lógica de mercado. Fileiras e mais fileiras, chegando a ser quilométricas de carros engarrafados presenciando nosso ato por um transporte realmente público, acessível e de todos. “Desculpe o transtorno, estamos mudando o país”. O Passe Livre, mais do que um direito, é uma necessidade gritante dos trabalhadores, trabalhadoras e estudantes. Sua consolidação traria uma histórica conquista da luta de classes.

O transporte coletivo e público é um serviço essencial para que tenhamos livre acesso aos demais serviços, como saúde, educação e cultura. Mas nessa sociedade capitalista na qual vivemos, somos obrigados a utilizar e aceitar um transporte público sem qualidade e caro. Na lógica de que tudo é mercadoria, não temos amor pela cidade, pois não a desfrutamos, não temos acesso a ela. E como poderíamos ter se somos constantemente explorados e roubados? Pagamos caro por esse transporte para trabalhar, ir ao comercio e voltar para casa. A lógica perfeita para o empresário, para o capital.

Com a tarifa zero, ou seja, sem tarifação nenhuma para ter acesso ao transporte, a ruas da cidade se alargam para nos receber. Poderemos ter transporte para ir ao colégio, ao teatro, ao cinema, ao comercio, ao trabalho, aos parques, ao hospital, às praças públicas, à universidade e tantos outros locais que a cidade nos oferece e sem tarifas absurdas para isso! É a garantia do direito de ir e vir, de desfrutar a cidade, de ter acesso a nossos demais direitos. “A educação e a saúde só vão ser públicas de verdade se o transporte for público de verdade” Movimento Passe Livre SP.
O Passe Livre é viável e pode se tornar realidade na cidade de Juazeiro do Norte. Todo o dinheiro que o Estado investe na terceirização do transporte público, pagando aos empresários pelo serviço que também pagamos do nosso bolso - duas vezes! - deve ser revertido em investimento no setor público da sociedade. Sem subsídio para engordar os bolsos dos empresários do transporte.

Começamos essa batalha há muito tempo, mas agora estamos tomando corpo e forma. Lutamos por um transporte público e de qualidade, onde o Estado se responsabiliza pela sua efetivação, continuação e qualidade. Isso através de um Fundo de Transportes, que utilizará recursos arrecadados em escala progressiva dos impostos tributários, ou seja: quem pode mais paga mais, quem pode menos paga menos e quem não pode, não paga.

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