Páginas

15 de novembro de 2013

Proclamação: dificuldades da cultura republicana no Brasil

Hoje, a República brasileira completa 124 anos de vigência. O feriado que acompanha sua Proclamação nunca conseguiu entusiasmar significativamente os brasileiros – nem mesmo alcançar os níveis modestos registrados no 7 de Setembro.

De onde vem tal “platitude” dos brasileiros em relação a essas duas datas nacionais? Talvez, provenha da gênese dos episódios que ambas evocam. A Independência foi um ato vindo de cima para baixo pela decisão voluntariosa de um membro da Casa Real dominante. Ele sentiu-se desafiado em seus brios pela decisão do parlamento português de “enquadrá-lo”, depois da revolução liberal do Porto que desbancou o absolutismo real na Metrópole. 

A revolução liberal pouco afetou o tratamento dado às colônias, tão opressor como antes. O Brasil independente, surgido com o brado do príncipe humilhado, não era aquele idealizado pelos nativistas autênticos. A solução encaminhada fora justamente na direção de impedir uma ação consequente desses nativistas que mexesse na estrutura social interna. A estratégia era de se antecipar antes que “algum aventureiro” fizesse uma independência com rupturas internas e externas efetivas.

Já no caso da República, não foi muito diferente. A Proclamação é fruto de outro brio ferido: o de um chefe militar que se sentira humilhado com a nomeação de um desafeto para o governo. Claro, era a gota d’água da insatisfação corporativa do Exército, que se ressentia de voltar ao segundo plano, depois do destaque alcançado durante a Guerra do Paraguai e da convivência da tropa com colegas vizinhos que mandavam e desmandavam em seus países, sem ter de prestar contas aos “casacas” (civis).

O levante não era nem mesmo contra a Monarquia, mas para depor o primeiro-ministro. O sistema era parlamentarista monárquico. Por falta de habilidade do governo, a deposição estendeu-se ao Imperador e ao regime, graças à manobra maquiavélica de um diminuto grupo de militares republicanos encarregado de instigar ainda mais o brio ferido do velho marechal monarquista. “O povo assistiu àquilo bestializado”, segundo uma testemunha. Supunha ser apenas uma parada militar fora de época.

De lá para cá, o conceito de republicanismo ainda não conseguiu introjetar-se de todo nos costumes políticos brasileiros. Mas, nunca é tarde.

Editorial do Jornal O Povo Online

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.