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4 de maio de 2014

Somos todos #ativistas?

O professor Tadeu Feitosa da UFC sustenta que o ativismo que se resumem às hashtags não aludem às questões básicas das causas (Foto: Viviane Pereira) 
Motivos reais não faltam para carregar bandeiras, ou melhor, para se engajar em hashtags no mundo virtual: os milhões de reais investidos em uma Copa do Mundo no Brasil, os números e as razões absurdas de estupros femininos, o desmatamento de centenas de árvores para o progresso seguir, o caso de racismo sofrido pelo jogador Daniel Alves no jogo do Barcelona contra o Villarreal (no dia 27 de abril deste ano) - para citar fatos dos últimos meses e que, entre fotografias de felicidades e pensamentos soltos, ainda são compartilhados na timeline. 

O ativismo virtual tem ganhado, cada vez mais, hashtags e gerado debates do Twitter ao Facebook, passando pelo Instagram. Mas, considerando a natureza instantânea desses canais de informação, até que ponto #somostodosativistas? “Não, necessariamente, todas as pessoas que aderem àquela manifestação têm um pensamento formado sobre aquilo”, avalia Cassio Politi, diretor de content marketing da Tracto e autor do livro Content Marketing - o Conteúdo que Gera Resultados (Bookess, 2013).

Politi, que atua na área de conteúdo online desde 1998, reconhece que as manifestações em redes sociais são “espontâneas, legítimas” - a exemplo de #SomosTodosMacacos. “A sociedade brasileira não tolera mais o racismo”, diz. Mas ressalva que “nem todo mundo que está usando aquela hashtag sairia para a rua... As pessoas não são ativistas daquele assunto e acabam se influenciando por esse viral que surge”.

Na análise do professor Tadeu Feitosa, chefe do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal do Ceará (UFC), os ativismos que se resumem às hashtags “são ativismos-prótese. Não aludem às questões básicas das causas que reclamam esse ativismo. Se comportam como prótese: algo que está no lugar da coisa temporariamente, nasce efêmera e permanece efêmera”.

Para o professor de Cultura e Mídia, na timeline ou em 140 caracteres, “há um posicionamento rasteiro de fenômenos (sociais) que são complexos”. A propósito, sobre o protesto virtual contra o racismo, movido a bananas, ele opina ser “ridículo e preocupante. Porque está reduzindo o fenômeno do racismo a macaquices e bananadas. Não se consubstancia em luta, mas no racismo permitido, travestido de um ativismo (superficial)”.

Tadeu Feitosa prefere falar em “mídia social” ao invés de redes sociais - “que são estabelecidas milenarmente” -, para dizer ainda sobre a falta de profundidade do ativismo virtual. “Nas mídias sociais, só interagimos com nossos grupos”, conclui.

“É impossível generalizar. Tem gente que compartilha e vira blogueiro de uma única causa, pode-se começar a virar ativista. Vai ter gente que vai compartilhar e ‘retuitar ‘por simpatia, porque gosta de alguém envolvido naquela campanha. E vai ter o ativista eventual”, dialoga Jamil Marques, doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas e membro do Conselho Consultivo de Leitores do jornal O POVO. “É um fenômeno natural e são reivindicações que vão se mostrando. E a gente vai ter que aprender a conviver com isso que não é, necessariamente, ruim”, equilibra.

Com informações O Povo Online

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