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15 de novembro de 2015

“O intruso Lula” por Mauricio Dias

Lula cometeu um “erro” fundamental, nos oito anos na Presidência da República, ao oferecer a 40 milhões de excluídos da sociedade o status de cidadãos brasileiros. Ele paga o preço.

Uma parcela da população facilmente identificável reage a isso e se horroriza, por exemplo, com a frequência dos novos passageiros de aviões. Eles teriam dado aos aeroportos uma aparência de rodoviária. Eis aí um preconceituoso ponto de vista. 

Mas há uma hostilidade precedente a esta. Foi motivada pela ascensão de Lula, um ex-operário metalúrgico que chegou ao topo do poder. Em 2002, na 19ª vez em que foi às urnas para eleger um presidente, o eleitor subverteu a regra imperante, em 103 anos de uma República mal resolvida, e elegeu o filho do excluído Aristides Inácio da Silva, falecido 15 anos antes. Por falta de documentação, foi enterrado como indigente.

Antes de Lula, a regra para ingressar no “Clube dos Eleitos” exigia um diploma de bacharel. Em alguns casos, a porta foi arrombada por alguém com uma espada na mão. Excluída a intromissão ilegal dos militares valem, para esta constatação, os eleitos pelo voto popular.

Os presidentes-advogados prevalecem: Prudente de Morais, Campos Sales, Rodrigo Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha, Venceslau Brás, Epitácio Pessoa, Artur Bernardes, Washington Luís, Getúlio Vargas e Jânio Quadros. Além do médico Juscelino Kubitschek, do economista Fernando Collor de Mello e do sociólogo Fernando Henrique Cardoso.

A expressão “Clube dos Eleitos” é de FHC, criada muito antes de ele próprio chegar ao poder com o diploma de sociólogo em mãos. A porta do clube abriu-se comodamente para o vaidoso FHC, mas não engoliu um inesperado metalúrgico.

Lula tornou-se um intruso ou, popularmente, um penetra no “Clube dos Eleitos”, mas não assinou a ficha de sócio.

O pernambucano Lula, imbuído de alma popular, não migrou de classe. E tem a compreensão desse processo. Em entrevista recente, referiu-se a isso ao fazer o contraponto entre ele e FHC, chamado por seus pares de “príncipe da sociologia”. “Ele tem um problema comigo, que é um problema de soberba. Ele sofre com o meu sucesso.”

Segundo Lula, o ex-presidente tucano, ao deixar o poder após dois mandatos, teria pensado assim: “O Lula vai ganhar, é um coitadinho. Não vai saber nada, não vai dar certo. Quando chegar em 2006, eu vou voltar pelos braços do povo (...) Acontece que, quando o meu governo teve sucesso, em vez de dizer ‘eu ajudei esse menino a vencer’, ele começou a ficar com bronca”.

Lula não tem alternativa política. De frase em frase, ele vai se aproximando da inevitabilidade da candidatura em 2018. A última declaração dele foi incisiva: “É importante defender um projeto político de inclusão. Para defender esse projeto, eu estou disposto a ser candidato”.

Em vez de cadeia, talvez a cadeira presidencial.

Publicado originalmente no portal Carta Capital

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