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30 de setembro de 2017

"O que segura um governo impopular" por Érico Firmo

Dilma Rousseff (PT) sofreu impeachment com 9% de aprovação e Michel Temer (PMDB) não será afastado, mesmo com 3%. Isso ocorre por dois motivos: 1) A maneira como a impopularidade se expressa e 2) o fato de que a reprovação foi condição necessária, mas não foi a motivação para tirar Dilma.

Temer é alvo de desaprovação passiva. As pessoas não gostam do presidente nem de nada do governo dele, mas tampouco estão dispostas a qualquer coisa contra ele. É muito diferente da forma como se deu a desaprovação de Dilma. Ninguém está na rua para protestar contra o governo. Caso houvesse mobilizações de massa, nesse momento no qual a Câmara dos Deputados avalia a segunda denúncia contra o presidente, a situação poderia se complicar.

Não há protesto dos que se mobilizaram para derrubar Dilma e também reprovam o governo Temer. Mais que isso, também não tem protesto dos que defendiam o governo petista e foram contra o impeachment. Partidos de esquerda, sindicatos e movimentos sociais também não estão na rua contra o governo. Diante do presidente de maior impopularidade já medida, as ruas do Brasil estão silenciosas. Intrigante fenômeno. Isso é o primeiro aspecto.

O segundo ponto: Dilma não teria caído se não fosse tão impopular, mas a impopularidade, sozinha, não a derrubaria. As condições para que ela fosse afastada não se repetem com Temer, embora haja hoje mais motivos para impeachment do peemedebista do que havia em relação à petista.

Para tirar Dilma, foram determinantes a deterioração da economia, a perda de apoio político e a oposição dos meios empresariais. Essa equação foi fatal para a petista. Temer, por sua vez, mantém ambos os apoios e isso o tem blindado contra a rejeição popular.

Outro fator é conjuntural. A saída de Dilma tinha no vice, Temer, opção considerada segura pelos atores interessados no impeachment. Agora, a eventual destituição do presidente criaria cenário de incerteza, com eleição indireta.

Daqui a um ano, estaremos na semana da eleição. No meio político, mesmo quem defendia a saída do presidente parece convencido de que o mais simples talvez seja deixar o governo ir se arrastando enquanto a eleição do ano que vem não chega.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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