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15 de novembro de 2017

"As vísceras expostas do mudancismo" por Érico Firmo

Tasso liderou o projeto mudancista que governou o Ceará entre 1987 e 2006 com Ciro de coadjuvante (Foto: Arquivo do jornal O Povo)
No bate-boca público do fim de semana entre Tasso Jereissati (PSDB) e Ciro Gomes (PDT), são remexidos alguns esqueletos no armário do projeto mudancista - que governou o Ceará entre 1987 e 2006, liderado por Tasso, com Ciro de coadjuvante de luxo. O tucano questionou o que considera tutela da família Ferreira Gomes sobre o atual governador.

“Nós voltamos a ter oligarquia no Ceará. Um é candidato aqui, outro é candidato ali (...) e o governador é mandado por eles. Assim não dá”, disse Tasso.

Ciro Gomes respondeu acusando Tasso de ser o verdadeiro oligarca: “É uma oligarquia bem interessante que os sociólogos deveriam estudar. É uma oligarquia que é dona de uma rede de shopping center do País, que tem R$ 100 milhões de créditos no Banco do Nordeste, é uma oligarquia que tem televisão em Fortaleza, rádio, jornal, portal de Internet. É a oligarquia que tem o senador mais rico do País, com patrimônio declarado”.

Ele foi ainda além. Com ironia, disse que Tasso destruiu o Banco do Estado do Ceará (BEC). “Entregou o dinheiro pros amigos, e os amigos não pagaram e quebraram o banco”.

Tudo isso já foi dito sobre Tasso, Ciro e Camilo. Não há novidades. O impacto está em as manifestações saírem da boca de Tasso e Ciro, que dividiram o poder no Ceará por vinte anos. Ao brigarem, eles não mentem, embora possam eventualmente exagerar na ênfase do que afirmam.

Sempre torço para políticos em posição de poder brigarem. Se Dilma Rousseff (PT) e Eduardo Cunha (PMDB) não brigam, muita coisa que apareceu ficaria no subterrâneo. Se Luiz Inácio Lula da Silva e Antonio Palocci (ambos petistas) não se digladiassem, também não ficaríamos sabendo o juízo que têm um sobre o outro o homem que foi o mais poderoso do Brasil e seu mais poderoso ministro.

A briga entre Renan Calheiros e Michel Temer (os dois do PMDB) expôs muito da situação interna do PMDB. O rompimento entre Cid Gomes (PDT) e Luizianne Lins (PT) também fez aflorar a percepção mútua dentro da aliança que controlava a máquina pública em todos os níveis. Esses conflitos sempre trazem à tona revelações, para o bem do interesse público.

A lavagem de roupa suja é positiva pelo que as personagens revelam dos ex-aliados, mas também pelo que revelam de si, quando falam. Por exemplo: os comentários sobre empréstimos do BEC a amigos e aliados são antigos. Também no Banco do Nordeste houve denúncias do tipo, que levaram à condenação judicial de Byron Queiroz, indicado por Tasso para presidir o órgão.

Porém, Ciro soube disso agora? O BEC foi federalizado pelo governo Tasso em 1999 e privatizado pelo governo Lula em 2005. Àquela altura, eles se mantinham aliados no governo do Ceará e mantinham encontros para decidir os rumos do Estado. O primeiro rompimento ocorreu em 2010.

Em 2001, não custa lembrar, a Assembleia Legislativa, que vinha em pé de guerra com Tasso, instalou a CPI no BEC. Em acordo com o PPS de Ciro Gomes, o PSDB conseguiu assegurar o controle da comissão. Para presidente, foi indicado Mauro Filho, secretário da Fazenda nos governos de Cid e de Camilo Santana, secretário de Finanças de Ciro na Prefeitura de Fortaleza e titular do Planejamento e depois da Casa Civil quando Ciro era governador.

A acusação de Ciro contra Tasso é grave: tráfico de influência e favorecimento ilícito. É crime. Por sua vez, o mais velho dos irmãos Ferreira Gomes expõe também a si próprio. Se houve crime, ele não ficou sabendo hoje. Era aliado de Tasso na época e, inclusive, participou do acordo político que evitou que a CPI fosse mais a fundo. Caso tenha havido irregularidade, Ciro ajudou a acobertar.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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