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21 de janeiro de 2018

“O Ceará que precisa olhar para o mar” por Irna Cavalcante

Usina poderá operar na Região Metropolitana (Foto: Evilázio Bezerra)
O Ceará é banhado por mais de 573 quilômetros de faixas de praia. É em torno delas que pulsam o turismo, a pesca, o lazer, dentre outros pilares da economia do Estado. Mas a água potável – aquela que se bebe, faz comida e é essencial para as atividades econômicas funcionem – vem distante. Mais precisamente dos açudes de Orós e Castanhão, que, mais uma vez, correm o risco de entrar em colapso, após seis anos consecutivos de seca. Em muitos países, dessalinizar a água do mar é a alternativa para evitar o desabastecimento do consumo humano.


Uma solução mais perene que a captação dos mananciais de água doce e transposições – hoje o Castanhão, maior reservatório público para múltiplos usos do Brasil, agoniza com apenas 2,42% dos 6,7 bilhões de metros cúbicos (m³) de água que poderia comportar – mas que tem um preço alto. O custo médio de uma usina de dessalinização é de US$ 1 a US$ 1,5 por metro cúbico de água. O que daria entre R$ 3,20 e R$ 4,81. Bem acima dos R$ 0,458 por m3 que a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) paga hoje para ter acesso à água que vem dos açudes.

Não se sabe ainda se esta vai ser a conta a ser paga pela água que virá da usina que o Governo busca implantar no Estado. Mas, pela primeira vez, este é um projeto que começa a ser colocado na ponta do lápis.

A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) lançou, em agosto de 2017, edital para escolher as empresas que farão os estudos da usina, estimada inicialmente em R$ 500 milhões e prevista para entrar em operação em 2020. A meta é suprir 12% da água potável da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).

Ao todo, 15 estudos de viabilidade (ambiental, econômico, modelagem do negócio, etc.) estão sendo desenvolvidos pela sul coreana GS Insima e a espanhola Acciona, que participam do certame. Elas têm até maio deste ano para apresentar propostas.

Porém, até o próximo mês, já será possível conhecer os locais mais indicados para receber o equipamento, que pode operar em Fortaleza ou na Região Metropolitana. “Até porque precisamos submeter ao processo de licença prévia da Semace (Superintendência Estadual do Meio Ambiente) para ver se estas áreas não têm algum impedimento ambiental”, afirma o gerente de Pesquisa e Inovação da Cagece, Silvano Porto.

O ex-presidente da Associação Internacional de Dessalinização (IDA), Emílio Gabrielli, consultor da Toray Brasil, diz que este é um caminho já trilhado por, pelo menos, 150 países. Na Arábia Saudita, Kuwait, Israel e Singapura, a tecnologia responde por mais de 80% do abastecimento. Na Austrália, é em torno de 40%.

O custo da usina é maior quando o preço da energia também é alto, como é o caso do Ceará. Mas ele acredita que a planta não deve ser muito mais do que US$ 1 por m³ de água. “Acho que em 20, 30 anos, quase todas as cidades costeiras e que tenham receio de seca vão investir nisso ou pensar sobre o assunto. É um seguro de que vai haver água, mesmo que o clima não ajude”.

Observa que, em lugarescom dessalinização, o usuário passou a pagar a mais pelo serviço. No entanto, pondera que é preciso levar em conta também o preço que se paga por não ter água disponível. “A própria sobrevivência do homem é ameaçada”.

O professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles alerta sobre o impacto que a natureza paga por estes empreendimentos. “É um custo ambiental seríssimo. O resíduo salino, quando é devolvido ao mar, muda a bioquímica do lençol freático”.

A ideia inicial é que a usina seja uma opção para os períodos de maior estiagem, como são as termelétricas. Quando a planta não operar, continua havendo gasto para manter o empreendimento.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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