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16 de fevereiro de 2018

"Novo não vinga e vamos nós com o velho mesmo" por Érico Firmo

Pela segunda vez em três meses, Luciano Huck desistiu de ser candidato a presidente. Com isso, cai por terra a grande aposta para o “novo” na próxima eleição. Há outras, nenhuma propriamente empolgante. Mais algumas devem surgir. É cada vez mais improvável que vinguem.
  
O meio político procura novidade não porque haja perfil em voga por aí. Faz isso porque sabe que o eleitor está cansado de “tudo isso que está aí”. Não há propriamente novos grupos ou ideias surgindo. Há os velhos e carcomidos nomes em busca de gente mais jovem para representar as mesmas personagens de sempre. Huck, por exemplo, tomou a bênção de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Pode-se gostar ou não de FHC, mas não dá para chamá-lo de novidade.

Huck esbarrou no ótimo emprego que tem na Globo e do qual teria de abrir mão. Além disso, deparou-se com os problemas para se firmar candidato e com os obstáculos a enfrentar numa campanha. Já descobriram que ele comprou jatinho com empréstimo a juros subsidiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Sabe ele lá o que mais poderiam escavacar.

Há várias tentativas de novidade, e outras tantas que tentam passar como se fossem. Do Judiciário, aparece Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) que realmente parece disposto a concorrer. E há Sergio Moro, cotado que sempre nega intenção de disputar. Dos movimentos sociais surge o nome de Guilherme Boulos, que negocia com o Psol - partido que nunca embarca nessa conversa de “novo” na política. Do meio financeiro - e, digamos, de palestras - há João Amoêdo, do Partido Novo.

Huck seria nome realmente estranho à política. É amigo de políticos, circula com eles nos meios sociais, faz campanha. Mas, até hoje parou aí. Amoêdo também, embora já esteja quase ficando velho na tentativa de se apresentar como novidade.

Moro e Barbosa não são do meio partidário, ainda, mas são protagonistas da política na última década. Boulos atua politicamente há muito tempo, mas não na arena institucional. No fim das contas, é capaz de nenhum deles concorrer.

As outras possibilidades de “novo” tentam, na verdade, esconder a idade política. Henrique Meirelles disputou só uma eleição, de deputado federal pelo PSDB, em 2002. Mas, teve de fazer muita política nos oito anos como presidente do Banco Central de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e nos quase dois anos como ministro da Fazenda de Michel Temer (MDB).
João Doria (PSDB) participou da última campanha para prefeito de São Paulo. Antes, foi secretário de Mário Covas na Prefeitura de São Paulo e presidente da Embratur quando José Sarney (MDB) ocupava o Palácio do Planalto. Vão lá mais de mais de 30 anos. Fernando Haddad (PT) disputou duas eleições para prefeito. Antes, ocupou cargos na gestão de Marta Suplicy na prefeitura paulistana e nas gestões de Lula e Dilma Rousseff (PT).

O mais que há por aí nem cara tem de se passar por novo.

Lula, líder de todas as pesquisas, obviamente não é novo. Disputou sete eleições, cinco delas a presidente. Jair Bolsonaro (PSC-RJ) até tenta passar como algo de diferente, como alguém que não se encaixa na política que se faz. Pois saiba que ele disputou ainda mais eleições que Lula: oito.

Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, tenta se colocar como político da nova geração. Já disputou seis campanhas. Jaques Wagner é hoje o mais cotado substituto de Lula dentro do PT. Ele já concorreu sete vezes, além da penca de cargos que ocupou, em diversos níveis.

Geraldo Alckmin (PSDB), esse é que é veterano mesmo. Disputou 12 eleições. Fernando Collor de Mello concorreu oito vezes, e isso porque passou oito anos com direitos políticos cassados, sem poder se candidatar. Ciro Gomes (PDT) tenta há 20 anos romper a dicotomia PSDB/PT. Concorreu em sete eleições. Mesmo número de vezes que Marina Silva (Rede) foi candidata. E há Álvaro Dias (Podemos), de todos eles quem há mais tempo disputa eleição. A primeira de duas dez campanhas foi em 1968.

O novo não vingou e não parece que vingará. O velho não empolga, mas, por exclusão, parece que é o que restará.


Publicado originalmente no portal O Povo Online

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