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28 de junho de 2018

O perfil ideológico da candidatura Ciro por Érico Firmo


A história política de Ciro Gomes (PDT) já passeou por amplo espectro ideológico nas ações e nas alianças. Dificilmente haja algum partido do qual já não foi aliado - e também adversário. A visão de gestão também mudou ao longo do tempo.

Ciro nunca foi propriamente alinhado a uma escola ou corrente. Desenvolve uma concepção própria. Hoje, está mais para desenvolvimentista.

Em 1994, ao assumir o Ministério da Fazenda, definiu o programa de privatizações como uma de suas três prioridades e reduziu impostos de importação promovendo grande abertura. Sua intenção era ampliar a oferta de produtos e segurar a pressão do consumo sobre a inflação. Nessa época, as federações de empresários se insurgiam contra a abertura e cobravam protecionismo. Nem pareciam os mesmos liberais que estão aí hoje. Ao mesmo tempo, tentou coibir o consumo, fez o que pôde para controlar preços e ameaçou seguidamente empresários que repassassem aumentos ao comprador.

Hoje, ele defende um neodesenvolvimentismo com ingredientes de liberalismo.

Em síntese, Ciro Gomes é capaz de defender qualquer plataforma - e de argumentar bem em defesa dela. Também pode conversar e fazer aliança com qualquer um. Porém, o perfil de sua candidatura e seu discurso é de centro-esquerda. É nesse campo, sempre alinhado com o PT, que ele atua há 15 anos. E é, também, onde enxerga filão capaz de fazer dele presidente da República.

Ocorre que o pré-candidato negocia aberta e explicitamente com DEM, PP, PRB e SD. Está entre os agrupamentos de forças mais conservadoras que pode haver no País. A mistura de concepções e práticas é, digamos, intrigante: o bloco reúne a defesa do livre mercado com o uso político da religião, e inclui ainda fisiologismo e denúncias de corrupção. Como trazem junto tempo de rádio e televisão, quase todas as candidaturas, e governos, adorariam tê-los ao lado.

Em outro momento, Ciro disse que só teria esse bloco na aliança se estivessem também com ele PSB e PCdoB. A declaração não foi bem vista, mas as coisas parecem ter caminhado mais com a centro-direita que com a centro-esquerda.

A candidatura diz que as conversas ocorrem em torno de programa. E aí vai outro problema. Essa coalizão é capaz de apoiar qualquer partido, político ou ideia, desde que para ficar perto do poder.

PP e PRB estavam no governo Lula, no governo Dilma Rousseff e apoiaram o impeachment. O DEM, na época PFL, deu contribuição importante para a primeira eleição de Lula. Aliás, o partido também havia sido determinante como fiador de Ciro no Ministério da Fazenda, no governo Itamar Franco. Mas isso é outra história.

O fato é que Ciro, para convencer como candidato de centro-esquerda, precisará de mais do que discurso. As companhias costumam ser uma das medidas mais adequadas para avaliar políticos.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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