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22 de novembro de 2018

A política no ministério de Bolsonaro por Érico Firmo

Bolsonaro tenta justificar indicações de políticos para ministérios (Foto: Divulgação)
Jair Bolsonaro (PSL) disse que não haveria indicações políticas em seu ministério. Nem aparelhamento ideológico do Estado. "A questão ideológica é tão, ou mais grave, que a corrupção no Brasil. São dois males a ser combatido. O desaparelhamento do Estado, e o fim das indicações políticas, é o remédio que temos para salvar o Brasil", declarou em 2 de outubro, antes ainda do primeiro turno. Porém, na sua indicação para o Itamaraty, escolheu um ideólogo. E, não sei se são indicações políticas, mas há muitos políticos indicados. Sem dúvida, em proporção inferior à de governos anteriores. O que não significa que não estejam lá.

Dos 12 ministros já escolhidos, três são deputados. Todos do DEM. A presença é sintomática. O partido não apoiou oficialmente Bolsonaro na eleição, mas é a força que desponta no governo. Não são ministérios quaisquer: Casa Civil e Saúde são duas das pastas mais preciosas. Agricultura é eixo estratégico, sobretudo em governo que tem nos ruralistas importante polo de sustentação.

Retorno, de certa forma, aos tempos de PFL, quando o partido foi espinha dorsal dos governos José Sarney, Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso. Ao longo dos anos Lula/Dilma, o DEM foi gradualmente perdendo relevância. Tem hoje 43 deputados federais e, na eleição, caiu para 29. Deixou de ser uma grande para se tornar média força. Hoje, porém, torna-se proeminente na gestão Bolsonaro. Muito mais que o PSL.

Pode-se argumentar até que Tereza Cristina (Agricultura) e Luiz Henrique Mandetta (Saúde) são indicações técnicas. Ela dirigente ruralista e ele médico. Como escrevi há alguns dias, o argumento só vale se a gente aceitar que o economista Romero Jucá (MDB-RR) foi indicação técnica de Michel Temer (MDB) para o Ministério do Planejamento, ou o engenheiro civil Gilberto Kassab (PSD) foi opção técnica de Dilma Rousseff (PT) para o Ministério das Cidades.

Mas, pode-se por certo apontar que são políticos com conhecimento técnico da área. Não consta que Mandetta seja propriamente uma grande sumidade em saúde. Há mais de década, é muito mais político que outra coisa. Porém, se o gestor público concilia capacidade política e técnica, tanto melhor. Não sou contra político em cargos públicos. Quem dizia ser era o Bolsonaro.

A forma da política de Bolsonaro

Bolsonaro faz indicações políticas, sim senhor, e entrega fatia importante do governo ao DEM velho de guerra. Porém, é inegável que essa ocupação política é bem diferente das administrações anteriores. Na intensidade e na forma. O presidente eleito apenas insinua de que forma pretende fazer articulação política. Sobre isso irei me deter mais em colunas próximas.

O papel do DEM

O curioso é que o presidente do DEM, ACM Neto, afirmou ontem que o partido ainda não garantiu apoio a Bolsonaro. Isso dependerá, ele disse, da convergência entre as agendas econômica e social. Disse ainda que a decisão será de toda a legenda.

Pode ser que ACM Neto apenas despiste para não ficar evidente o toma lá, dá cá pelos cargos. Até porque ele sinaliza tendência de esse apoio se confirmar. "Se a agenda for convergente, não vejo motivo para o Democratas não ajudar. O Brasil tem de dar certo. Não vamos ser empecilho para isso".

De outro modo, seria mesmo uma graça o DEM ser oposição a governo no qual tem um quarto dos ministros já indicados, e todos muito importantes.

Faria ainda menos sentido que o PSDB ser oposição a um governo no qual um tucano é o principal secretário - coisa que acontece no Ceará.

Publicado originalmente no portal O Povo Online


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