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16 de maio de 2019

Em sessão tensa, ministro mente e debocha de deputados

Abraham Weintraub foi convocado para debate sobre o bloqueio de verbas de universidades e institutos federais (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom)

Ministro da Educação, Abraham Weintraub admitiu ontem (15/05) durante audiência na Câmara dos Deputados que recebeu uma ligação de Jair Bolsonaro (PSL) um dia antes, mas que, no telefonema, disse ao presidente que não havia cortes de 30% no orçamento das universidades.


"Os deputados ouviram o presidente falando comigo, mas não eu falando com o presidente", disse Weintraub, que foi convocado a prestar esclarecimentos sobre o represamento de recursos nas instituições de ensino superior em sessão que começou às 15 horas e se encerrou às 21h.

Entre os parlamentares a quem o ministro se referia, estava o cearense Capitão Wagner (Pros), que relatou ao O POVO na terça-feira passada ter presenciado ligação na qual Bolsonaro determinara que o seu auxiliar suspendesse o congelamento de verbas.

A versão foi negada no mesmo dia por Onyx Lorenzoni (Casa Civil), MEC e a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL), que tratou o episódio como "boato barato".

Questionado por Wagner sobre o teor da conversa com Bolsonaro, o ministro acrescentou: "Eu falei: 'Presidente, não está havendo corte algum, o que está havendo é contingenciamento'". Segundo o titular do MEC, o pesselista então teria respondido: "Maravilha, então não tem corte".

Weintraub reforçou também que chegou a conversar horas depois com o chefe do Executivo sobre os motivos pelos quais ele havia retido dinheiro de custeio das universidades e institutos de todo o País - apenas no Ceará, a suspensão soma R$ 108 milhões das quatro instituições federais.

"Foi um mal-entendido, não foi mentira", disse a Wagner a respeito da ligação telefônica. "Eu entendo essa angústia de todos." E repetiu: "É 3,5% de contingenciamento". O deputado, porém, não se convenceu.

"De fato não escutamos (a resposta do ministro da Educação), mas o presidente afirmou pra gente que não haveria mais corte. Houve a determinação (da suspensão)", enfatizou o congressista em conversa após a sessão dessa quarta-feira.

Para ele, Weintraub não ofereceu respostas convincentes às perguntas que os colegas de Casa haviam formulado no curso das seis horas de sessão. "Tem poucos ministros que assimilam o debate no Congresso. Sergio Moro (Justiça) e Tarcísio Gomes (Infraestrutura), por exemplo", citou. "Já o ministro da Educação não deu respostas satisfatórias. Foi mais ideológico que técnico."

Durante sua passagem pelo plenário da Câmara, Weintraub apresentou slides de Power Point com as prioridades para a gestão do MEC, mas não se aprofundou sobre a base técnica para o contingenciamento dos recursos. Entre uma pergunta e outra, o ministro elevou o tom e debochou de deputados.

"Fui bancário. Carteira assinada, viu? Azulzinha, não sei se vocês conhecem", ironizou quando indagado por um parlamentar. Houve tumulto e ameaça de confronto físico entre Carla Zambelli (PSL-SP) e Talíria Petrone (Psol-RJ). Os deputados Glauber Braga (Psol-RJ) e Éder Mauro (PSD-PA) se desentenderam e quase brigaram.

A sessão seria interrompida momentaneamente outras vezes, como quando o ministro afirmou que era ficha-limpa, e questionou se a maior parte dos políticos presentes poderia dizer o mesmo.

Deputada federal pelo PCdoB do Rio de Janeiro, Jandira Feghalli perguntou ao ministro se ele reafirmava declaração que dera a uma revista segundo a qual "comunistas mereciam uma bala na cabeça".

"Não tenho passagem pela polícia por ameaça, agressão", devolveu Weintraub. "Não tenho processo trabalhista. Minha ficha é limpíssima, não tenho mácula. Tiveram que voltar 30 anos na minha vida para obter um boletim ruim porque eu tinha arrebentado o meu braço, obtido de forma ilegal", disse. "Outra coisa, bala na cabeça, quem prega, não é esse lado aqui."

Apesar dos esforços do ministro, todavia, o resultado de sua participação na Câmara foi ruim. A avaliação é deputado federal André Figueiredo, líder do PDT na Casa. "O ministro mentiu demais. Insistiu na tese do 3,5%, que não é verdade. Insistiu para ludibriar parte da população brasileira", criticou o pedetista.

De acordo com Figueiredo, Weintraub "usou uma técnica de realmente inventar números para tentar passar a falsa impressão de que está falando a verdade", mas "fugiu das perguntas". Ele completou: "Até dizer que tinha sangue cearense, ele disse".

Numa de suas respostas, o ministro contou que seu nome completo incluía o sobrenome Vasconcellos, que, segundo ele, tem origem em Sobral, Ipu e Santa Quitéria.

Com informações portal O Povo Online

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