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3 de junho de 2019

Há pacto com Bolsonaro? por Carlos Mazza

Dias Toffoli, Rodrigo Maia, Jair Bolsonaro e Davi Alcolumbre no Palácio do Planalto ( Foto: Marcos Correa)
Ponto para quem consegue compreender a lógica por trás das escolhas do governo Jair Bolsonaro (PSL). Chegando à marca do sexto mês de gestão, ainda é difícil dizer o que exatamente quer o presidente para além das pendengas ideológicas de sempre. Veja, por exemplo, a semana passada. Começou com o governo insuflando protestos - apesar da encenação de afastamento feita de última hora - contra o Congresso, chegou ao meio com Bolsonaro propondo um pacto entre os três Poderes e terminou com o presidente atacando decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a homofobia e dando "recado" à Corte: "Será que não está na hora de termos um ministro do STF evangélico?".

O ataque passou despercebido pelo presidente do Supremo, Dias Toffoli (que parece empenhado em apagar do passado sua antiga relação com o PT), mas recebeu respostas duras de três ministros. Foi, afinal, quase uma afronta com uma Corte que deveria ter compromisso apenas com a Constituição. 

No Brasil real, pouco preocupado com comunismo ou com quem é o patrono da educação, as coisas não vão nada bem: com sucessivas quedas na previsão do PIB e o desemprego em 13 milhões, Paulo Guedes já estuda liberar até o PIS-Pasep e FGTS para alavancar o consumo. E nada de resposta positiva do mercado.

Vendida até recentemente como a panaceia para todos os problemas do Brasil, a reforma da Previdência já dá sinais de que, pelo andar da carruagem, deve sair bem menor que a encomenda. Na semana passada, o próprio Bolsonaro disse ter pedido a Guedes que excluísse da reforma a redução de pensões de grande parte das pessoas com deficiência. 

O clamor teria partido da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Sim, é isso mesmo: o presidente reduz o principal projeto de seu governo não com base em estudos técnicos ou em discussões aprofundadas, mas a partir de um pedido de dentro de casa. Imagina quando a reforma for bater de vez na votação do Congresso, hoje com poucos motivos para apoiar o governo.

Até agora, Bolsonaro tem dado poucas propostas definitivas sobre essas questões. Sempre que tem oportunidade (ou até quando não tem, via Twitter), dispara falas que nada apaziguam e mais lembram o candidato em campanha - cheio de opiniões polêmicas, vazio de projetos. 

No final do mês passado, o presidente conseguiu ganhar sobrevida política levando milhares de pessoas às ruas pela defesa de seu governo. Nos dias seguintes às mobilizações, nada fez para instrumentalizar esse fôlego a favor das reformas ou da própria gestão.

Assim, fica difícil acreditar na capacidade do Planalto em pactuar qualquer coisa.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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