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14 de outubro de 2019

Irmã Dulce é proclamada Santa da Igreja Católica


O anseio para ver a primeira santificação de uma brasileira chegou ao fim ontem (13/10), com a canonização de Irmã Dulce na Praça São Pedro, no Vaticano. Apesar de ser considerada santa por muitos desde 1950, não se pode dizer que o processo foi demorado. Santa Dulce dos Pobres teve a terceira canonização mais rápida da história, apenas 27 anos após sua morte, em 1992, ficando atrás apenas da santificação do Papa João Paulo II e de Madre Teresa de Calcutá.

A canonização de Irmã Dulce, iniciada em janeiro de 2000, teve sua conclusão quando o papa Francisco declarou, na madrugada deste domingo (horário de Brasília), que a beata está entre os santos do céu e inscrever o nome de Dulce na lista oficial dos santos da Igreja Católica.


"Hoje agradecemos ao Senhor pelos novos santos, que andaram com fé e agora os evocamos como intercessores", disse Francisco diante da multidão reunida na praça. "Três são religiosos e nos mostram que a vida consagrada é um caminho de amor nas periferias existenciais do mundo", acrescentou, diante de inúmeros bispos, religiosos e missionários do país, que atualmente participam do Sínodo para a defesa da Amazônia.

Outros quatro santos foram proclamados por Francisco neste domingo: a italiana Giuseppina Vannini (Judith Adelaide Agata), fundadora das Filhas de São Camilo, que morreu em 1911; a indiana Maria Teresa Chiramel Mankidiyan, fundadora da Congregação das Irmãs da Sagrada Família, falecida em 1926; a leiga suíça Margarita Bays, da Terceira Ordem de São Francisco de Assis, que morreu em 1879; e o cardeal britânico John Henry Newman, primeiro santo inglês a não ser um mártir desde a Reforma. Por um longo tempo, ele foi um crítico da Igreja católica, que chegou a acusar de heresia.

Dois milagres
Os dois milagres necessários para que a canonização fosse atestada foram validados pelo Vaticano. Um, em 2010, e, outro, em 2019. O primeiro, salvou Claudia Cristina dos Santos, que sofreu uma forte hemorragia, durante 18 horas após dar à luz o segundo filho. Claudia já havia sido submetida a três cirurgias na Maternidade São José, na cidade de Itabaiana, em Sergipe. Somente uma oração que pediu a intercessão de Irmã Dulce cessou a hemorragia.

O segundo milagre reconhecido pelo Vaticano aconteceu justamente com um conterrâneo de Irmã Dulce. Nascido em Salvador, José Maurício Moreira teve o diagnóstico de glaucoma aos 22 anos. Apesar do tratamento, Maurício ficou cego, em 2000, e permaneceu por mais 14 anos. Em 2014, em Recife, o maestro sofreu uma conjuntivite grave e teve fortes dores. A solução foi colocar uma imagem de Irmã Dulce sobre os olhos e fazer uma oração pedindo a intercessão do “anjo bom da Bahia”. Maurício conseguiu dormir e, quando acordou, a surpresa foi maior: ele enxergava.

O milagre passa por três etapas de avaliação para ser validado pela Igreja. Primeiro, uma reunião com peritos médicos foi feita para obter o aval científico. Depois, um encontro de teólogos, e, finalmente, a aprovação pelo colégio cardinalício. O reconhecimento do fenômeno faz parte de duas das três etapas necessárias para a santificação de uma pessoa: a beatificação e a canonização. Para uma graça ser considerada um milagre, ela precisa ser instantânea, perfeita, duradoura e ter caráter preternatural, ou seja, não pode ser explicada pela ciência.

No entanto, antes do reconhecimento dos milagres, etapa final do processo de santificação, é preciso fazer uma investigação da vida pessoal do indicado. O professor Olyver Tavares, que lecionou aulas de filosofia no Seminário Arquidiocesano de Brasília, explica que essa verificação biográfica dos aspirantes à santidade é a etapa mais demorada do processo. “É como uma investigação da vida do candidato para ver se há algo que desaprova a vida de santidade vivida por essa pessoa”, diz.

Exigências
De acordo com Olyver, a reforma do Código de Direito Canônico, promulgada pelo papa João Paulo II, em 1983, diminuiu algumas exigências para o processo de santificação da Igreja Católica. 

“Antes do pontificado de João Paulo II, apenas o papa poderia dar início a esse processo de canonização. Depois de João Paulo, a Igreja passou a autorizar que bispos ou até um conjunto de leigos pudessem dar início a esse processo, mas eles precisam informar à congregação que existe ali uma pessoa venerável que tem potencialidade para se tornar um santo”, conta.

Todo esse processo é julgado pela Congregação para as Causas dos Santos, que existe desde 1588. Constatada a vida de santidade, é requerido que se tenha um primeiro milagre para que este aspirante a santo ganhe o título de beato. Por fim, um segundo milagre tem que ser comprovado em nome daquele santo para que a santificação seja concluída.

Para o professor, a canonização de Irmã Dulce rompe com padrões europeus de santidade. “Irmã Dulce é analogamente um fenômeno parecido com Nossa Senhora Aparecida. É a santa brasileira com a cara do nosso povo. É algo histórico, que rompe com essa barreira do eurocentrismo. Esse é um santo que viveu aqui, que se santificou aqui. Creio que é o fortalecimento da fé católica no Brasil e na América Latina”, ressalta.

Devoção
O poder espiritual de Irmã Dulce lhe garantiu desde cedo admiradores de todas as classes sociais. Os políticos, que eram muitas vezes fonte de doações pedidas pela Irmã, acabaram se tornando devotos da santa, por exemplo. O ex-presidente da República, José Sarney, é um deles. 

Em entrevista ao Correio, no início do ano, o político chorou ao se lembrar do encontro com a Irmã Dulce. “‘Eu sempre via os santos nos altares representados por terracota e madeira, e eu vi um santo vivo, que foi Irmã Dulce. Isso é extraordinário. Era um santo que não era de carne, era feito de amor e bondade”, conta.

 A admiração pela beata fez com que o ex-presidente a indicasse ao Prêmio Nobel da Paz, em 1988. A indicação teve ainda o apoio da Rainha Sílvia, da Suécia. Irmã Dulce não venceu, mas o trabalho dela feito na Bahia ganhou mais reconhecimento mundial.

Caravana de políticos
José Sarney é um dos políticos que foram até o Vaticano acompanhar de perto a canonização da Irmã Dulce. Além dele, também estarão presentes o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP); o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli; o procurador-geral da República, Augusto Aras; o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta; entre outros. Os nomes fazem parte da comitiva que representa o governo brasileiro na cerimônia. O grupo estará sob o comando do vice-presidente Hamilton Mourão, que é o ministro-chefe da delegação brasileira. 

O presidente Jair Bolsonaro cancelou a ida à missa pela canonização de Irmã Dulce, em Salvador, com a justificativa “em decorrência de ajustes na agenda”.

Com informações portal Correio Braziliense e foto de Alberto Pizzoli da AFP



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