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10 de maio de 2021

Bolsonaro testa apoio com aglomerações

Bolsonaro reúne apoiadores em passeio de moto por Brasília, descumpre normas sanitárias e anuncia novo ato com pecuaristas (Foto: Marcos Corrêa)

O presidente Jair Bolsonaro passeou com centenas de motociclistas simpatizantes ao governo pelas ruas da capital no Dia das Mães. Após a corrida, ele retornou ao Palácio da Alvorada e, sem máscara, distribuiu apertos de mãos, abraços e selfies. Prevaleceu a aglomeração e o descumprimento das normas sanitárias contra o novo coronavírus, além de fotos com pessoas sem máscara ou fazendo uso errado do equipamento. A Polícia Militar do Distrito Federal não calculou quantas pessoas percorreram a cidade ao lado de Bolsonaro.

O passeio foi proposto pelo próprio presidente, em live na semana passada. Ele disse esperar a presença de aproximadamente mil apoiadores. “A gente não vai estar indo para comunidade porque eu acredito que mais de mil motos vão se fazer presentes. Eu estou muito feliz. Pessoal quer me acompanhar em um passeio. Todo mundo tem o direito de ir e vir”, afirmou.

Bolsonaro ainda convocou apoiadores às ruas para participar de manifestações no próximo dia 15 de maio e disse que “estará lá no meio”. Entidades de produtores rurais nos estados organizam atos de apoio a ele, contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo fim das medidas de isolamento social adotadas por governadores e prefeitos.

“Dia 15, pessoal, está todo mundo convocado. Eu vou lá para o meio da rua com o povo do campo. O pessoal do agronegócio está tomando Brasília, e vou estar lá no meio deles, se Deus quiser, agradecendo pelo trabalho que eles fizeram que ao longo da pandemia. Eles e outras categorias não pararam. Até o dia 15, se Deus quiser”, bradou, apesar dos mais de 420 mil mortos e de uma vacinação contra a covid-19 que avança a passos lentos.

A atitude do presidente é uma contraofensiva à CPI da Covid, que investiga as ações e omissões do governo na pandemia e fechou a primeira semana colocando o governo contra as cordas. Ao Correio, em entrevista publicada ontem, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), deixou claro que, por dar um depoimento no qual claramente não quis comprometer Bolsonaro, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, deverá ser reconvocado — algo que aumentará o desgaste do governo.

“A vontade era de perguntar a ele: ‘Se o senhor não fosse ministro e estivesse em seu consultório, o senhor receitaria cloroquina?’ Está patente que ele é contra, mas, para não magoar o presidente, ele não fala”, criticou Aziz.

Da mesma forma, em debate no sábado, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, afirmou que, se a Comissão provar alguma responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro no agravamento das mortes pela infecção do novo coronavírus no Brasil, ele será responsabilizado. “Espero que a CPI não chegue a tanto. Mas, se a CPI chegar, não tenho nenhuma dúvida de que ele será responsabilizado, sim”, anunciou.

O presidente, porém, disse que tais manifestações não são um ato político, mas de “demonstração de amor à pátria”. Ele voltou a ameaçar baixar um decreto contra o lockdown adotado por governadores e prefeitos e que as Forças Armadas não serão utilizadas para fiscalizar o cumprimento de medidas restritivas.

Além disso, mais uma vez, insistiu na adoção do voto impresso. “Não podemos admitir isso, porque o voto é essência da democracia e a sua contagem deve ser de conhecimento de todos e auditada para que, realmente, quem vocês, porventura, vierem a escolher no futuro, os represente”, desafiou, desconsiderando que as urnas eletrônicas já são auditadas e, em 25 anos que são utilizadas jamais houve uma única denúncia de fraude eleitoral.

A popularidade de Jair Bolsonaro vem despencando desde meados de março, com o recrudescimento dos casos de covid-19 e o registro de mais de 420 mil óbitos de brasileiros, somado à falta de celeridade na imunização da população. A rejeição à gestão do presidente está se consolidando nas mídias, conforme demonstra o levantamento da Inteligência Artificial ModalMais/AP Exata. De 26 a 30 de abril, o percentual de pessoas que avaliavam a gestão como ruim ou péssima foi de 47,8%. As que achavam o governo bom ou ótimo, eram 27,9%, e 24,4% o consideravam como regular.

De 3 a 7 deste mês, a popularidade do governo teve uma ligeira recuperação. A parcela que caracteriza o governo ruim foi para 45,9%, outras 29,0% julgaram bom/ótimo e 25,1%, regular. O volume de menções negativas continua acima dos 60%.

Um fator que chamou a atenção, segundo a pesquisa, foi que, na semana passada, a queda abrupta de menções positivas coincidiu com a morte do humorista Paulo Gustavo de covid-19, no último dia 4. As mensagens da família Bolsonaro lamentando o caso apenas aumentaram a rejeição.

A tristeza é o principal sentimento associado às publicações que comentam a atuação do presidente no Twitter, no Instagram e no YouTube, seguidos de medo, raiva e confiança.

Sergio Denicoli, diretor de Big Data da AP Exata Inteligência em Comunicação Digital, explica que o presidente sofreu uma queda acentuada em 2021 e que, além da pandemia e da troca frequente de ministros na Saúde, a inflação e a pobreza estão irritando o brasileiro.

“No combate à pandemia, (Bolsonaro) tentou culpar governadores, e essa narrativa acabou ficando restrita à bolha de apoiadores, mas não tem funcionado para agregar valores para o governo”, destacou.

O cientista político Ricardo Ismael, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), apontou que, em comparação com 2018, o presidente perdeu capital político, mas ainda conta com uma base resiliente e coesa. “Ele tem um grupo fiel, que faz barulho. São pessoas que estão sempre ativas nas redes sociais. No caso da CPI, vemos que a militância está tentando desacreditar a CPI da Covid”, argumentou.

Na avaliação do cientista político Murillo Aragão, da Arko Advice Pesquisas, o fenômeno da rede social nas eleições sofreu desgastes. “Tem mais políticos sabendo usar. A vantagem para ele foi ter antecipado o início da eleição em 2018”, explicou.

Segundo Frederico Bertholini, professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB), a pandemia impulsionou a diminuição da aprovação entre os grupos mais necessitados, que já sentiam os impactos das falhas de medidas econômicas de Bolsonaro antes. “A pandemia teve impacto negativo para todo mundo, mas, especialmente, com a estratégia adotada pelo governo, a nossa recuperação se tornou mais lenta de forma geral”, observou.

Com informações portal Correio Braziliense

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