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13 de dezembro de 2021

Ataques ao passaporte da vacina substituem cloroquina no discurso de Bolsonaro

 

A crítica do presidente ao passaporte da vacina serviria para agrupar a tropa, que ficou sem discurso (Foto: Ed Alves)

Adotado por governos estaduais e prefeituras no Brasil, o passaporte da vacina entrou na mira do governo Bolsonaro, que tenta mobilizar as bases eleitorais do chefe do Executivo a partir da pauta, substituindo a cloroquina na retórica presidencial.

A estratégia ganhou reforço no último sábado, 11, quando o ministro do STF Luís Roberto Barroso determinou a exigência do passaporte para entrada de viajantes no Brasil. Antes disso, o governo havia editado portaria que facultava ao estrangeiro apresentar o passaporte ou cumprir quarentena de cinco dias.

Em sua decisão no fim de semana, Barroso escreveu que "o ingresso diário de milhares de viajantes no país, a aproximação das festas de fim de ano, de eventos pré-carnaval e do próprio carnaval, aptos a atrair grande quantitativo de turistas, e a ameaça de se promover um turismo antivacina, dada a imprecisão das normas que exigem sua comprovação, configuram inequívoco risco iminente".

A medida foi mal recebida pelo presidente, que promete voltar à carga durante a semana, já que o tema entrou na agenda de votações do STF - a decisão de Barroso foi remetida por Rosa Weber ao plenário virtual, que deve apreciá-la entre quarta e quinta-feira próximas.

O episódio é mais um entre os pontos de tensão que contrapõem Bolsonaro e o Judiciário, notadamente o Supremo, cujos membros têm se destacado como obstáculo a uma série de condutas do governo que contrariam medidas sanitárias.

A crítica ao passaporte da vacina, nesse sentido, serviria para agrupar a tropa, que ficou sem discurso desde que a cloroquina foi sendo gradativamente desidratada como arma política.

Para especialista ouvido pelo O POVO, no entanto, a capacidade de aglutinar a base bolsonarista em torno dos ataques ao passaporte da vacina é pequena.

"Não tem o mesmo apelo (da cloroquina), apenas para um grupo muito restrito. Deve render só por mais algumas semanas, depois vai esquecer", avalia Cleyton Monte, pesquisador da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Segundo ele, ao contrário da cloroquina, que tinha chamariz mais amplo e funcionava como ferramenta nas estratégias dos bolsonaristas, a investida contra o passaporte da vacina não tem tido tanta adesão.

"Vejo vários bolsonaristas deixando de lado essa questão da vacina. São somente nichos que devem ser mobilizados", aponta.

Deputado federal pelo PT, José Guimarães também minimiza a nova frente de batalha do governo Bolsonaro e acusa: "É mais um crime que ele está cometendo contra a vida. Quer arrumar mais um jeito de polemizar".

Apesar disso, a oposição local tem recorrido às sinalizações de Bolsonaro para se organizar em torno do tema, explorando sua força. Na última semana, em Fortaleza, grupo capitaneado pela vereadora Priscila Costa (PSC) realizou audiência na Câmara para discutir a não obrigatoriedade do passaporte vacinal.

No Ceará, o documento já é exigido para entrada em estabelecimentos desde o dia 15 de novembro, salvo algumas exceções. Prefeito da capital cearense, José Sarto (PDT) seguiu a mesma trilha do governador Camilo Santana (PT).

No mesmo dia em que a oposição marcava presença na Câmara, na terça-feira (7), o pedetista anunciou envio de projeto de lei que exigiria passaporte da vacina para entrada em prédios da administração pública municipal. Apresentada no dia seguinte na Câmara, a matéria está tramitando na Casa.

Pelas redes sociais, Sarto comentou: "A exigência de comprovante de vacinação contra a Covid-19 tem dado bons resultados em Fortaleza, estimulando muita gente a buscar nossas unidades de saúde para tomar a vacina. Decidi estender essa medida para os órgãos municipais".

Também nas plataformas virtuais, Camilo Santana se manifestou no último sábado, mas para apoiar decisão de Barroso, que atendeu parcialmente ação do partido Rede Sustentabilidade a fim de obrigar o Planalto a cumprir recomendações da Anvisa.

"Medida muito importante tomada no Supremo Tribunal Federal. Fundamental para ajudar nosso país no controle de novas variantes da Covid", escreveu o governador, acrescentando: "Diante do negacionismo que ainda impera na cúpula do Governo Federal, a decisão chega em boa hora para resguardar milhões de brasileiros".

O episódio do passaporte da vacina é apenas o mais recente nos entreveros envolvendo Bolsonaro e o STF. A relação entre o presidente e a corte é marcada por tensões o começo da pandemia, o STF determinou que estados e municípios teriam autonomia para estabelecer políticas sanitárias - autonomia, e não competência exclusiva, como distorce Bolsonaro.

Depois disso, o presidente se tornou alvo de inquéritos no Supremo, um deles por suposto envolvimento na disseminação de fake news contra o sistema de voto no Brasil. Defensor do voto impresso, Bolsonaro fez sucessivos ataques ao ministro Barroso, autor da determinação que obriga viajantes a apresentar o passaporte da vacina para entrar no país.

À época, em agosto passado, Barroso determinou inclusão de Bolsonaro na investigação que transcorre no STF sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes

Antes disso, Bolsonaro e ministros do STF já haviam medido forças quando da prisão do deputado Daniel Silveira (PSL) e, antes disso, durante crise na esteira de participação do presidente em ato antidemocrático em frente ao Planalto, em 2020.

Com informações portal O Povo Online

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