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6 de março de 2022

Guerra na Ucrânia: Quem orienta Bolsonaro em relação ao conflito?

Cinco nomes estão por trás da maneira como o presidente brasileiro lida com a invasão na Ucrânia (Foto Fabrice Coffrinni)

Desde que Vladimir Putin autorizou as tropas russas a invadirem a Ucrânia, no dia 24 de fevereiro, o governo brasileiro encontra-se em situação delicada. Uma semana antes do início do conflito armado, Jair Bolsonaro fez uma visita oficial à Rússia, durante a qual elogiou Putin e declarou ser solidário ao país, que já estava na iminência de invadir a Ucrânia.

Diante da escalada de tensões provocada pela Rússia, Jair Bolsonaro viu-se obrigado a aceitar as manifestações da chancelaria e de ministros próximos, que apontavam ser insustentável manter o Brasil sem posição quanto ao conflito. No dia 24 de fevereiro, que marcou o início da guerra, o presidente brasileiro convocou uma reunião de emergência para tratar diretamente do tema.

Participaram o ministro da Defesa, Braga Neto; o chanceler Carlos França, e os ministros-generais Luiz Eduardo Ramos, Secretário-Geral da Presidência, e Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional. O assessor de Assuntos Estratégicos, Filipe Martins, também estava com o grupo.

Pelo menos três membros da reunião defenderam que o Brasil devia seguir o bloco dos Estados Unidos na reunião do Conselho de Segurança da ONU, que propunha uma resolução condenando a invasão russa em território ucraniano.

O documento recebeu votos suficientes para ser aprovado, inclusive do Brasil, mas a Rússia, que preside o Conselho e é membro permanente do grupo, exerceu o poder de veto. Posteriormente, o veto foi derrubado em assembleia geral do organismo, que ainda discute como socorrer os ucranianos por intermédio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Fontes do governo consultadas pelo Correio insistem que o mais importante era garantir a "posição do Brasil nos organismos internacionais pelo equilíbrio e pela imparcialidade". Por outro lado, França fez críticas às sanções impostas pela comunidade internacional, ao envio de armas e aos ataques cibernéticos sob o argumento de que isso prolonga a crise.

Segundo os analistas, manter a imparcialidade faz parte da tradição diplomática brasileira. O que fugiria disso seria o teor crítico com relação às punições e sanções empreendidas pelos países europeus e pelos Estados Unidos. Na avaliação do general Paulo Chagas, a posição e as palavras de Bolsonaro desgastam a imagem do Brasil e colocam o país em uma condição favorável aos interesses russos.

"A posição de neutralidade é condizente com a tradição diplomática do Brasil, mas a viagem oficial até a Rússia e as palavras do presidente não são de neutralidade, mas, sim, de uma preferência aos interesses da Rússia", explica Chagas. "Não sei o que leva os generais que estão com o presidente a sugerir isso. Não tenho essa informação, sei pelo que li nos noticiários, mas também não vi ninguém desmentindo que o general Braga Netto e o general [Luiz Eduardo] Ramos estavam aconselhando o presidente nesse sentido. Pelos dados que tenho e pelo que eu aprendi e estudei no Exército, eu entendo que o Brasil deveria se colocar de acordo com nossos interesses. Não se justifica uma posição pró-Rússia''.

Para Thiago Nogueira, professor de direito internacional da Universidade São Judas, a posição do Brasil pode gerar desconfiança de parceiros do Ocidente. ''Preocupa a postura claudicante que o governo brasileiro adota neste conflito. Países do G7 e G20 fizeram manifestações duras de que as ações militares devem parar imediatamente, mas a do Brasil é apenas de cessar hostilidades, um pedido de paz de maneira geral, como se a Ucrânia tivesse participado ou tivesse alguma parcela de culpa do que está acontecendo com ela, o que não é o caso", avalia. "O Brasil defende a carta da ONU, a paz, mas não condenou veementemente a ação militar que a Rússia está colocando para a Ucrânia."

As análises vão na linha do posicionamento firmado pelo encarregado de negócios da Embaixada da Ucrânia no Brasil, Anatoliy Tkach, que cobrou posição mais forte do governo brasileiro sobre a invasão. "Imparcialidade não se aplica quando se sabe quem é o agressor", aponta.

Com informações portal Correio Braziliense

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