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9 de maio de 2022

Lançamento da pré-campanha de Lula expõe disputa por símbolos pátrios nas eleições

 No ato Lula discursou num palco com fundo no qual se
estampava a bandeira nacional (Foto: Nelson Almeida)

O lançamento da pré-campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência no último sábado (07/08) escancarou a disputa por símbolos pátrios nas eleições de 2022, como a bandeira do Brasil. Identificados com o bolsonarismo desde 2018, quando o então deputado federal Jair Bolsonaro recorreu ao verde-amarelo na corrida pelo Planalto e venceu o pleito contra Fernando Haddad (PT), esses signos estão no centro de uma queda de braço eleitoral.

No fim de semana, Lula discursou num palco com fundo no qual se estampava a bandeira nacional. O hino também foi parte importante da cerimônia, que marcou oficialmente a entrada do petista como pré-candidato, com a vice ocupada pelo ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB).

Professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), o cientista político Vitor Sandes avalia que a mensagem da campanha de Lula tem uma leitura explícita, que pretende apresentar a chapa do ex-presidente e de Alckmin como mais palatável a segmentos que lhe são mais hostis, como o mercado, evangélicos e militares.

"A estratégia da pré-campanha é no sentido de mostrar o quanto o posicionamento do Lula e da chapa está em se colocar de forma mais moderada, mais conciliatória e mais estreita em relação ao eleitor que pode ter votado em Bolsonaro em 2018", afirma.

Segundo Sandes, a intenção é não apenas recuperar a bandeira, mas utilizá-la para aproximar-se de uma fração de um eleitorado que deixou de apoiar Bolsonaro.

"A ideia é trazer esse eleitor", diz, "que pode ser decisivo nas eleições". Desse modo, continua o pesquisador, "é fundamental o posicionamento com símbolos que indicam ampla identificação com o eleitor brasileiro, mostrando que é uma pré-candidatura que vem a ser mais ampla, que inclui setores que até se posicionaram contra o PT e podem se reposicionar e ter uma preferência em relação a Lula/Alckmin".

Mas essa mudança vem desde antes do evento que lançou a pré-candidatura de Lula. Ainda em abril deste ano, a cantora Anitta, uma crítica sistemática de Bolsonaro, se apresentou no festival Coachella (EUA) trajando roupa em verde e amarelo.

Pelas redes sociais no dia 16 daquele mês, a artista escreveu: "A bandeira do Brasil e as cores da bandeira do Brasil pertencem aos BRASILEIROS. Representam o BRASIL em GERAL. NINGUÉM pode se apropriar do significado das cores da bandeira do nosso país. Fim".

Depois de Anitta, outros artistas, como o rapper Djonga e a cantora Daniela Mercury, também fizeram uso da simbologia pátria em apresentações musicais. Entre partidos de esquerda, porém, havia resistência a entrar nessa briga em torno do verde-amarelismo por causa dos vínculos que esse discurso visual foi assumindo desde 2018 com o campo da direita e da extrema-direita.

De acordo com o cientista político Cleyton Monte, da Universidade Federal do Ceará (UFC), esse receio ficou no passado. Para ele, a bandeira do Brasil "vai estar muito presente na candidatura em si de Lula" e na retórica do pré-candidato.

O objetivo do petista, explica Monte, "é transmitir uma ideia de um movimento que o ex-presidente está liderando ('Vamos juntos pelo Brasil') e de formar uma frente ampla pela democracia contra o Bolsonaro que não seria restrita ao PT".

"Pegando a semiótica, o brasileiro associa o vermelho a partidos de esquerda, a um campo do espectro político. O propósito de utilizar as cores da bandeira é dizer claramente que há várias correntes, ou seja, o Brasil está unido contra Bolsonaro", acrescenta.

Essa leitura encontra amparo nas falas de Lula durante o evento, lidas para a plateia - o ex-presidente não se manifestou de improviso, como costuma acontecer, exatamente para evitar desgastes que vinham se acumulando.

"Não esperem de mim ressentimentos, mágoas ou desejos de vingança. Não nasci para ter ódio, nem mesmo daqueles que me odeiam", discursou o ex-presidente.

Monte reforça ainda que a estratégia por trás dessa posição da coordenação da campanha de Lula é avançar sobre setores não alinhados com temas e pautas comumente ligados à esquerda.

"Lula sabe que, para conseguir uma vitória, tem que dialogar com grupos que não são progressistas. Tem que dialogar com evangélicos, militares e insatisfeitos com o governo. A ação de incorporar os símbolos vende aquela ideia também de que é um movimento que consegue agregar as pautas desses outros grupos", sintetiza.

Com informações portal O Povo Online

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