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Além dos ataques, a ministra Marina Silva foi interrompida diversas vezes ao falar sobre os avanços na redução do desmatamento na Amazônia (Foto: Vinícius Loures) |
Os deputados debatiam sobre queimadas e desmatamentos. Marina foi chamada para prestar esclarecimentos e apontar as políticas públicas do governo federal para enfrentar o problema. Durante a inquirição, o deputado Evair de Melo (PP-ES), da bancada ruralista e autor do requerimento de convocação, chegou a compará-la com grupos armados, como as Farc da Colômbia e o Hamas, na Faixa de Gaza.
Marina rebateu e citou trechos bíblicos. "Hoje de manhã, eu fiz uma longa oração e pedi a Deus para me dar calma. Acho que Deus me ouviu, porque eu estou em paz", disse. "É preferível sofrer injustiça do que praticar uma injustiça. E eu prefiro sofrer injustiças do que praticá-las, porque quando você é injustiçado, a justiça virá", completou.
A chefe da pasta também citou os desafios do ministério durante sua gestão. "Qualquer pessoa que não seja negacionista sabe que a seca com baixa precipitação, temperatura alta, perda de umidade, potencializa os incêndios, potencializa em todos os níveis", disse.
Após os insultos no colegiado, a ministra do Meio Ambiente participou de uma coletiva de imprensa na Câmara. Ela disse que o comportamento não é novo e que "o desrespeito às vezes é a única coisa que as pessoas que não conhecem o respeito são capazes de oferecer", observou. "Todos nós que não defendemos a agenda autoritária, negacionista, que não reconhece a mudança do clima, somos desrespeitados", afirmou.
Essa não é a primeira situação em que Marina é atacada verbalmente por parlamentares da oposição. Em maio, ela abandonou uma audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado após o senador Plínio Valério (PSDB-AM) dizer que ela "não merecia respeito" como ministra. Depois de exigir um pedido de desculpas, que não foi atendido, a ministra decidiu se retirar do debate.
Defesa
da ministra
O deputado federal Túlio Gadelha (Rede-PE) disse que a audiência na Comissão de Agricultura deu "privilégios" para os políticos da oposição, pois eles teriam tido a oportunidade de questionar mesmo sem estarem inscritos na lista, diferentemente de parlamentares mulheres que tiveram seus microfones cortados.
Ele citou a deputada Juliana Cardoso (PT-SP) que, durante sua fala, teve 30 segundos adicionais negados pelo presidente do colegiado. "São falas que são perceptíveis o tom de machismo, e misoginia. Por exemplo, quando um parlamentar para de fazer sua fala até que a ministra olhe para ele. Porque ele precisa ter ela olhando porque se não estivesse olhando, era como se não estivesse ouvindo", disse o Gadelha ao Correio.
A deputada Sâmia Bomfim (PSol-RJ) também prestou apoio. "Mais uma vez a ministra voltou ao Congresso e foi covardemente atacada pela horda do 'agrogolpismo', e respondeu com altivez. Nós vamos seguir a luta, enfrentando a bancada do atraso e os crimes do agronegócio, defendendo o meio ambiente, os povos originários e movimentos sociais, e pautando a necessidade de que o Brasil seja exemplo no combate ao colapso climático e na garantia de justiça socioambiental", ressaltou.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) classificou o episódio como "vergonhoso". "Parece que a Presidência da Câmara não está atenta à necessidade de, inclusive, cobrar dos presidentes de comissões. O presidente dessa comissão (de Agricultura) não agiu bem, não coordenou devidamente os trabalhos, não cumpriu o regimento. Esse desrespeito tem que acabar aqui dentro. Eles contaminam o debate político e técnico porque não estudam as matérias e não se preparam para um debate democrático e vêm exclusivamente para o ataque pessoal e o desrespeito", declarou.
Mais
ataques
Enquanto respondia aos questionamentos dos deputados Zé Trovão (PL-SC) e Capitão Alberto Neto (PL-AM), Marina Silva foi interrompida diversas vezes ao falar sobre os avanços na redução do desmatamento na Amazônia. Ela acusou os parlamentares de machismo. "Quando um homem ergue a voz, ele está sendo incisivo. Quando uma mulher fala com firmeza, dizem que é show", rebateu a ministra.
Marina divergiu das afirmações dos parlamentares de que houve um aumento explosivo no desmatamento durante a gestão dela no Ministério do Meio Ambiente e destacou o papel das mudanças climáticas no aumento de incêndios florestais no país. Quanto ao combate às queimadas, afirmou que o Fundo Amazônia já destinou recursos para os estados fortalecerem os corpos de bombeiros, e que do montante foram cerca de R$ 825 milhões para o Ibama, além do aumento de mais de 4 mil brigadistas.
O Capitão Alberto Neto acusou o secretário-executivo do ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, de envolvimento com interesses privados em concessões ambientais. Apesar de o parlamentar ter dito que não atacaria Marina pessoalmente, ele se referiu à ela como "uma vergonha" e criticou sua atuação com declarações como "a senhora não tem nada a falar de verdades".
Após
a reunião, Rodolfo Nogueira (PL-MS) afirmou por meio de vídeo disponibilizado
pela assessoria, que ficou "insatisfeito" com os esclarecimentos da
ministra que "direcionou a culpa dos focos dos incêndios em São Pedro e no
clima". "Ela deixa a comissão devendo respostas e sem esclarecimentos
sobre a perseguição em cima dos produtores rurais, que resultou no aumento do
preço dos alimentos", disse.
Publicado
originalmente no Correio Braziliense
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