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Áudios revelam muitas conversas entre o ex-presidente Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia (Foto: Reprodução/Facebook) |
Italiano, Contardo Calligaris define o fascismo a partir de um juízo estético. Não propriamente dele, mas, sim, do pai, interlocutor importante para que organize, na obra, questões como a busca pela felicidade, a compreensão de uma morte bonita e os porquês da vida.Num dos trechos, ele, já adulto, decide provocar o genitor: “Tudo bem, eu sei que você foi antifascista, mas por quê? Você não é comunista, sequer socialista, você é liberal! Por que, então, você teria sido antifascista? Em nome de quê?”. Ele respondeu exatamente assim: “É porque os fascistas eram muito vulgares”.
O psicanalista ilustra o argumento do pai recuperando uma fotografia de guerra em que soldados queimam livros em praça pública. Na imagem, um dos militares não só comemora o feito, como faz questão de encarar a câmera, sublinhando sua felicidade diante do absurdo. Para Calligaris, isso é vulgar. Isso é fascista. Depois de cruzar esse causo de família, muito do Brasil recente passou a me fazer mais sentido. Temos, tristemente, vivido tempos vulgares e convivido com tipos vulgares.
As mensagens e áudios que compõem o material que baseou o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e do filho Eduardo, ainda deputado federal, por coação a autoridades no curso da ação penal que investiga a tentativa de golpe de Estado são a prova mais clara disso. “VTNC seu ingrato do caralho!”, definitivamente, é algo que filho algum diz a um pai, sobretudo um pai que se diz conservador e ostenta a bandeira da honra da legítima família tradicional. Isso é vulgar. Isso é fascista.
Mais
acintosa ainda, a julgar o recorte do que veio a público da investigação da
Polícia Federal, é a performance do pastor Silas Malafaia, líder da igreja
Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Longe de preocupações cristãs com os
rumos do País ou com o ex-presidente, ele se coloca a serviço do que há de pior
no jogo político, com um linguajar truculento, chulo, para dizer o mínimo. É
“cacete”, é “arrombada”, é “babaca”, é “falar merda”, é “te arrebento”, enfim.
Isso é vulgar. Isso é fascista. Não importa como o Brasil veio parar nesse
buraco, mas é urgente sair daí.
Publicado
originalmente no portal O Povo +
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