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9 de novembro de 2025

COP 30: Mundo segue em rota de aquecimento

Abertura da Sessão Plenária Geral dos Líderes na COP 30 (Foto: Hermes Caruzo)

Mesmo com a implementação total dos planos nacionais em vigor, o mundo permanece distante da meta de frear o aquecimento global em 1,5°C, prevista no Acordo de Paris. É o que alerta o novo Relatório de Lacuna de Emissões do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), indicando que, no cenário atual, o planeta poderá enfrentar um aumento médio de 2,3°C até 2035.

O dado reflete um futuro de ondas de calor cada vez mais prolongadas e severas, secas mais intensas e longas, afetando a produção agrícola e o abastecimento de água. Chuvas extremas e enchentes, especialmente em áreas urbanas, podem se tornam rotineiras.

É para evitar isso que líderes de todo o mundo encontram-se em Belém (PA), para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30). A exigência é de aceleração urgente nas políticas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Vista do Centro de Convenções para a cúpula da COP 30(Foto: Sergio Moraes/COP30)

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou que o relatório da Pnuma é “claro e direto”, mas que isso não é motivo para desistir e sim para “intensificar e acelerar a ação”.

Para Guterres, a COP 30 — que começa na segunda-feira, 10 de novembro, e segue até o dia 21 — deve ser um ponto de virada para o mundo apresentar um plano de resposta para superar as lacunas de ambição e implementação.

Entre as ações, ele defende a redução drástica das emissões de gases causadores do efeito estufa, corte significativo nas emissões de metano e aceleração da transição dos combustíveis fósseis para as energias renováveis.

O professor do curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central (Feclesc/Uece), Hugo Fernandes Ferreira, também espera que essa seja uma COP que não apenas revise acordos, mas que, sobretudo, seja propositiva em termos de ações.

“Creio que, diante do último relatório da ONU, afirmando que não conseguiremos alcançar a meta de 1,5º C, a pauta da adaptação deve ganhar mais força e ditar algumas das principais regras do debate”, destaca.

Ferreira foi aprovado como delegado oficial dessa Conferência e integrará a Zona Azul, conhecida como Blue Zone, espaço de negociações oficiais da ONU, onde representará o Ceará e o Brasil em debates sobre biodiversidade, economia regenerativa e transição ecológica.

Seguindo linha resolutiva, a presidência da COP 30 determinou um calendário oficial com dias temáticos, para que atores globais contribuam com soluções climáticas reais.

"Esses Dias Temáticos representam um ousado convite ao mundo para se unir em Belém e ajudar a moldar o futuro. Cada dia tem como objetivo conectar as negociações ao impacto no mundo real, oferecendo uma plataforma em que a implementação, a equidade e a urgência se encontram, informou o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da Conferência.

O economista e vice-presidente da Academia Cearense de Economia, Célio Fernando, acredita que a crise climática deixou de ser uma pauta exclusivamente ambiental para se afirmar como a face mais recente e contundente das desigualdades históricas. Para ele, trata-se, antes de tudo, de uma questão de direitos humanos e de justiça social.

Navios de hospedagem na COP 30 (Foto: Gabriel Della Giustina)

“O conceito de justiça climática nasce do reconhecimento de uma assimetria brutal, os que menos contribuíram para o aquecimento global são os que mais sofrem com seus efeitos. Enquanto países e corporações acumularam riqueza emitindo carbono sem freios, comunidades marginalizadas, das favelas do Rio de Janeiro às pessoas em situação de rua, pagam o preço com a perda de casas, com o adoecimento e, muitas vezes, com a vida”, detalha.

Adaptar-se ao clima, no mundo real, tornou-se um privilégio; endereço, paredes e telhado são hoje linhas de defesa tão crucial quanto qualquer tecnologia. Nesse contexto, Fernandes avalia que a escolha de Belém para sediar a COP 30 se torna mais do que um gesto geopolítico: é uma chance histórica de expor, sem filtros, o que significa viver a crise a partir das margens.

“Na Amazônia urbana, onde a floresta encontra o asfalto e o rio dita ritmos que a modernidade tenta disciplinar, a justiça climática ganha contornos concretos, com rostos, cheiros e histórias. No coração da cidade, o Ver-o-Peso é um mapa vivo dessa tensão, a feira secular onde pescados, ervas, saberes e temperos revelam a inteligência de povos que aprenderam a habitar com a água, com a várzea e com as oscilações do clima”, analisa.

O Ceará levará para COP30 agendas de políticas ambientais e transição energética justa.

No dia 13 de novembro, o governador Elmano de Freitas apresentará o painel “Do Nordeste para o Mundo: o papel da Caatinga e do Hidrogênio Verde para a Transição Energética Justa”, sobre resiliência climática e desenvolvimento sustentável.

Governador Elmano de Freitas no Local Leaders Summit, na COP 30, ao lado da governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (Foto: Rafael Medelima)

O Estado levará ainda o Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa, o Programa Agente Jovem Ambiental e ações da Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará (Semace) voltadas ao combate à desertificação, uso do solo e desmatamento.

Moedas sociais brasileiras ganham vitrine

O Brasil consolida-se como um laboratório vivo de moedas sociais, com 184 iniciativas locais que materializam uma ecologia monetária voltada para desenvolvimento territorial e sustentabilidade. O Banco Palmas, criado por Joaquim Melo, no Conjunto Palmeiras, estará presente na COP30 e irá expor na agenda oficial do evento a nova experiência com energia solar solidária, o Palma Solar.

Joaquim antecipa que durante a Conferência no Pará, farão duas visitas em territórios que usam moeda social ambiental, onde resíduos sólidos e orgânicos são trocados por moeda social, conectando inclusão econômica e mitigação climática.

Lançamento Fundo Florestas Tropicais

O Fundo Florestas Tropicais Para Sempre (Tropical Forest Forever Facility, ou TFFF) lançado no primeiro dia da Cúpula dos Chefes de Estado (6) arrecadou no primeiro dia US$ 5,5 bilhões, passando 50% da meta que é de US$ 10 bilhões até o fim de 2026.

Essa é a principal iniciativa proposta pelo Brasil para criar um novo modelo de financiamento para a conservação das florestas tropicais, buscando sair da "era da doação", segundo o presidente Lula, para atrair investidores com retorno financeiro.

O Fundo capta recursos no mercado a juros reduzidos como um ativo de baixo risco. Esses recursos serão reinvestidos em projetos com maior taxa de retorno e a diferença será repassada aos países com florestas tropicais, proporcionalmente à área preservada, enquanto o dinheiro emprestado será devolvido aos investidores com lucro. A administração é do Banco Mundial.

Cobertura O POVO

Durante o mês de novembro, O POVO está em Belém, com a correspondente Carol Kossling, acompanhando as principais informações sobre a COP 30, bastidores e assuntos relacionados ao Ceará. Além do jornal impresso é possível acompanhar as matérias no portal O POVO, reportagens e colunas no O POVO+, nas redes sociais, na rádio O POVO CBN e no O POVO News.

Publicado originalmente no portal O Povo +

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