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27 de novembro de 2019

Obsessão pelo AI-5 indica perigo para a democracia por Érico Firmo

Paulo Guedes é ministro da Economia totalmente fora do padrão (Foto: Marcelo Camargo)
A família Bolsonaro e seu entorno têm obsessão pelo ato institucional número 5 (AI-5). Eduardo Bolsonaro já acenou com ela e agora vem Paulo Guedes. Um -e ex-candidato a embaixador em Washington e outro é superministro. Não é ato falho, algo fortuito. Ou Guedes está imitando o que viu do "Zero Três" - algo bastante provável, aliás - ou é uma concepção mais sólida do pensamento no núcleo governante. Já se viu Guedes "seguindo o mestre" quando, em Fortaleza, repetiu a grosseria de Jair Bolsonaro sobre Brigitte Macron.

As falas de Eduardo e Guedes sobre um novo AI-5 vêm no mesmo contexto. O filho do presidente mencionou que seria a resposta à "radicalização" da esquerda. Guedes apontou o caminho no caso de manifestações violentas de rua. Chama atenção que não ocorre a eles "apenas" uma ditadura. Não bastaria um golpe militar - até porque eles já estão no poder, ora bolas. Já têm instrumentos institucionais para controle de manifestações. O aparato de Estado e militar está nas mãos deles.

Porém, eles não se contentariam com um "governo Castelo Branco". Que prendeu, cassou mandatos, suspendeu direitos políticos, fechou partidos, expulsou servidores públicos, interveio na Justiça, instituiu eleições indiretas. Não é suficientemente autoritário para eles. O aceno é diretamente para a fase mais violenta, brutal e extrema da ditadura. O golpe dentro do golpe. O momento mais terrível da história da República.

Quem escuta os discursos até imagina que há uma insurgência das massas. Grandes protestos contra Bolsonaro. Que a esquerda está tremendamente organizada, forte, à beira de tomar o poder.

Coisa nenhuma. A reforma da Previdência foi a mais profunda já feita e mal houve piquete em frente ao Congresso. Pacotes de mudanças para o funcionalismo e novas regras trabalhistas são propostas. Fosse na França, na Argentina ou na Alemanha, o bicho estaria pegando. Aqui os movimentos sociais assistem de forma passiva, fora até do que era usual há duas décadas.

Guedes fez alusão ao discurso de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendendo protestos como os que ocorrem no Chile. Mas, Eduardo falou com Lula ainda preso.

Nada justifica um AI-5. Nem 51 anos atrás nem agora. Mas, qual a razão para que, mesmo equivocadamente, queiram um novo AI-5? Qual o fundamento, salvo um fetiche autoritário, um saudosismo tacanho e o fantasma de inimigos imaginários? Qual seria a fundamentação para o núcleo governante de hoje pretender um novo AI-5? Qual? Não tem lógica, não tem cabimento, não é aceitável.

Os gestos mostram o governo Bolsonaro como um perigo à democracia.

E que quem defende "Estado mínimo" na economia é capaz de fazer apologia de um aparato estatal repressor, agigantado quando se trata de combater inimigos ideológicos.

"Posto Ipiranga" também apronta
Superministro e "Posto Ipiranga" de Bolsonaro nas questões econômicas, Paulo Guedes tem diferença grande em relação a antecessores. Ministros da área costumam ser discreto. Não costumam ser motivo de crise pelo que falam. No máximo pelo que fazem ou deixam de fazer.

Henrique Meirelles e Pedro Malan nunca foram de declarações polêmicas. Antonio Palocci provocou crises, sim, mas pelos escândalos. Nas entrevistas, todavia, enganava muito bem até. Problema era fora dos holofotes. Guido Mantega largou o País numa crise econômica tremenda. Mas, não dizia nada que provocasse solavancos econômicos.

Guedes dá declarações fora do comum para alguém no seu posto. Bem em sintonia com o governo no qual está.

Na segunda-feira, ele disse: "Eu não estou preocupado com a alta do dólar". E avisou: "É bom se acostumar com o câmbio mais alto e juro mais baixo por um bom tempo".

A Bolsa de Valores caiu, o dólar atingiu nova marca histórica. Fechou em R$ 4,24, após atingir R$ 4,27 ao longo do dia.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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