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O presidente daFiec, Ricardo Cavalcante, somou-se às críticas ao aumento da taxa Selic (Foto: Eduardo Abreu) |
O
aumento da taxa de juros, em 0,25 ponto percentual, surpreendeu até o mercado
financeiro e analistas econômicos que esperavam a manutenção ou até mesmo uma
redução do índice. A
decisão foi tomada em reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco
Central (BC) na quarta-feira, elevando os juros para 15% ao ano. Descontada a
inflação, a Selic fica com a taxa de 9,53% de juro real ao ano, o maior
percentual em duas décadas.
Uma
das explicações do BC para elevar a Selic é que "o conjunto dos
indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho ainda apresentam
algum dinamismo". Ou seja, a economia está aquecida.
Para
o BC, houve alguma "certa moderação" no crescimento econômico, mas
seu relatório anota que "nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e
as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação". Ou
seja, para o Copom, é necessário represar o crescimento econômico para fazer a
inflação ceder.
Assim,
na visão do Banco Central, com juros mais altos, os empréstimos ficam mais
caros, desestimulando o crédito e o consumo e reduzindo a disponibilidade do
dinheiro na economia, forçando a queda do índice inflacionário.
No
entanto, o remédio utilizado pelo BC tornou-se forte demais. Entidades do setor
produtivo, dos segmentos empresarial e trabalhista, criticaram o aumento da
taxa Selic.
O
presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban,
considerou "injustificável" a decisão do Copom. Para ele, "os
juros altos vão sufocar a economia". As duas principais centrais sindicais
do Brasil, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical, também
protestaram contra a decisão do BC.
Em
nota oficial, assinada pelo presidente Ricardo Cavalcante, a Federação das
Indústrias do Ceará (Fiec) somou-se às críticas. Para a Fiec, a taxa Selic no
patamar em que se encontra, prejudica "especialmente as indústrias do
Ceará, que enfrentam maiores desigualdades estruturais e dificuldades no acesso
ao crédito".
A
Fiec vai ao ponto central da equação, ao afirmar que "a justificativa (do
Copom) de combate à inflação é fundamental, porém não pode ignorar os efeitos
colaterais profundos desse aperto monetário: retração de investimentos,
paralisação de projetos, fechamento de linhas de produção e aumento do
desemprego no setor industrial". Anote-se que, como consequência, esses
problemas citados espalham-se por todos os setores da economia.
Além
desses argumentos, um grupo importante de economistas avalia que o aumento de
juros teria pouca influência para reduzir a inflação, principalmente porque
seria provocada por causas externas, fora do controle direto da política
monetária.
Observa-se
que, baixar a taxa de juros deixou de ser uma reivindicação apenas da esquerda
e do governo, para alcançar diversos outros setores. Portanto, está na hora de
o presidente do Banco Central ampliar seu círculo de consultas para ouvir
também os setores produtivos da sociedade.
Publicado
originalmente no portal O Povo +
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