12 de maio de 2024

Conheça o “Guinlagem do camaco”, linguajar do interior de Minas Gerais

O empresário Geraldo Soares é fluente em linguagem do macaco (Foto: Acervo Pessoal)

Típico de Itabira, na Região Central de Minas Gerais, o “Guinlagem do camaco” ou linguajem do macaco foi inventado pelos moradores da cidade no início do século XX para esconderem suas opiniões dos chefes das mineradoras que se instalavam por lá.

O empresário Geraldo Soares, popularmente conhecido por Geraban é fluente em linguagem do macaco. Ele confirma que linguagem surgiu como contraponto aos ingleses ao falarem aquilo que não queriam que os trabalhadores soubessem, conversavam, obviamente, em inglês.

Geraldo conta ainda que também usava a linguagem com seu irmão em São Paulo como o mesmo objetivo: se comunicar sem serem compreendidos pelos patrões e gerentes das lanchonetes onde trabalhavam.

Na sua última viagem a Minas Gerais Geraban se encontrou com o pesquisador Geuderson Traspadini Marchiori, mestre em Letras e Estudos da Linguagem, pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), autor do livro “A Linguagem de Camaco - Aquilombamento Linguístico”.

O empresário Geraldo Soares e o pesquisador Geuderson Marchiori (Foto: Acervo Pessoal)

A pesquisa do Mestre Geuderson tem como objetivo principal promover o conhecimento a respeito da Linguagem de Camaco, dialeto próprio da cidade de Itabira - MG, e o que ela representa para o município e para o povo Itabirano.

Com trechos de falas de entrevistados e resultado de pesquisa etnográfica desenvolvida pelo autor, o livro estabelece relações críticas entre a linguagem e questões como identidade, memória, resistência e reexistência.

O pesquisador define a Linguagem de Camaco como “uma forma de expressão linguística historicamente desenvolvida pelos próprios moradores de Itabira, e consiste na mudança dos fonemas das sílabas de lugar” e afirma que a criação do linguaja “possui origem de resistência em relação à chegada dos ingleses na cidade, que trouxeram sua própria língua, o que dificultava a comunicação”.

Ainda segundo o pesquisador Geuderson, tomando a linguagem como forma de ação no mundo e como campo de batalhas em que grupos diversos se comunicam e estabelecem fronteiras para defenderem seus interesses e suas necessidades,

“o texto apresenta o protagonismo afrodiaspórico que a Linguagem de Camaco exerceu no contexto e no espaço da exploração mineral realizada por parte dos estrangeiros, cujos interesses nem sempre se alinhavam aos dos nativos de Itabira”.

O livro do pesquisador Geuderson apresenta a Linguagem de Camaco sob a perspectiva de uma língua especial, que está relacionada aos possíveis usos feitos pelos falantes ao longo de sua existência, como ferramenta irreverente e genial criada por aqueles cuja resistência significa sobrevivência, fazendo possível a proposta que se apresenta, ao reconhecer a linguagem como espaço linguístico de aquilombamento.

O portal G1 Minas publicou em setembro de 2023 uma matéria com o título “Guinlagem do camaco”: conheça o linguajar que troca sílabas em Itabira e outra matéria noticia que o “Guinlagem do camaco”, dialeto que troca sílabas em Itabira é tema de curta premiado em Gramado.

No portal do Governo Municipal de Itabira encontramos a informação de que a Linguagem de Camaco está prestes a se tornar patrimônio histórico e cultural imaterial de Itabira. O próximo passo é finalizar o dossiê com todos os documentos, depoimentos e dados colhidos, comprovando a origem itabirana da Linguagem de Camaco, para enviar ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) de Minas Gerais, órgão responsável pelo reconhecimento do patrimônio histórico e cultural, material e imaterial, do estado.

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