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| Foto oficial dos Presidentes e Chefes de Delegação dos Estados Partes do Mercosul e dos Estados Associados, em frente às Cataratas do Iguaçu (Foto: Ricardo Stuckert) |
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu na manhã de ontem (20/12), em
Foz do Iguaçu (PR), a 67ª Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul e Estados
Associados, com a presença dos presidentes da Argentina, Javier Milei; do
Paraguai, Santiago Peña; e do Uruguai, Yamandú Orsi. A reunião marca a passagem
da presidência pro tempore do bloco do Brasil para o Paraguai.
No
discurso de abertura, o líder brasileiro listou alguns avanços do bloco
econômico no último semestre, sob a presidência brasileira, mas dedicou boa
parte da fala de pouco mais de 10 minutos para tratar das operações militares
dos Estados Unidos na costa da Venezuela, da defesa da democracia e do
multilateralismo, e do adiamento da assinatura do acordo comercial com a União
Europeia, que deveria ocorrer, hoje, em Foz do Iguaçu, mas foi adiado para
janeiro a pedido da Itália.
Lula
não escondeu a frustração por não comandar a cerimônia de assinatura do acordo
com os europeus — que criaria um mercado consumidor de mais de 700 milhões de
pessoas —, mas se mostrou otimista com a solução do impasse criado pela
primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que pediu mais tempo para negociar
com o agronegócio de seu país salvaguardas para proteger a produção interna da
competição com produtos sul-americanos.
Na
abertura da Cúpula, Lula disse que o Mercosul vai continuar prospectando novos
mercados e acordos de comércio. “Diversificar parcerias é chave para a
resiliência da economia”, disse. O Mercosul conduz mais de 10 negociações com
outros países e blocos, que podem ser fechadas ao longo do período da
presidência paraguaia.
“Eu
espero que tenhamos seis meses de uma boa colheita, de bons frutos e de bons
acordos internacionais. O mundo está ávido a fazer acordo com o Mercosul. E
nós, certamente, vamos conseguir, nesse período, fazer os acordos que não foram
possíveis realizar na minha presidência”, declarou Lula.
Venezuela
A
crise entre Estados Unidos e Venezuela, com ameaça de guerra em um país que faz
fronteira com o Brasil, também foi destacada pelo presidente Lula na abertura
da Cúpula. Para ele, a ameaça da soberania de um país não está na integração e,
sim, em "guerras, forças antidemocráticas e crime organizado”.
Ele
lembrou que, desde a Guerra das Malvinas (entre Inglaterra e Argentina, nos
anos 1980), não havia uma ameaça real de intervenção militar estrangeira na
América do Sul. Foi uma referência à presença de navios e aviões de combate dos
Estados Unidos no Caribe, para bloquear o tráfego de embarcações que tenham a
Venezuela como destino ou origem.
“Passadas
mais de quatro décadas, desde a Guerra das Malvinas, o continente sul-americano
volta a ser assombrado pela presença militar de uma potência extrarregional. Os
limites do direito internacional estão sendo testados. Uma intervenção armada
na Venezuela seria uma catástrofe humanitária para o Hemisfério (Sul) e um
precedente perigoso para o mundo”, alertou o presidente brasileiro.
Democracia
e feminicídio
O
presidente Lula também destacou, na abertura da cúpula do Mercosul, que as
democracias estão sob ataques e pressões. Ele deu o exemplo do Brasil — que
viveu uma tentativa de golpe de Estado — como resistência ao avanço de forças
antidemocráticas. “A democracia brasileira sobreviveu ao mais duro atentado
sofrido desde o fim da ditadura. Os culpados pela tentativa de golpe em 8 de
janeiro de 2023 foram investigados, julgados e condenados conforme o devido
processo legal. Pela primeira vez na sua história, o Brasil acertou as contas
com o passado”, enfatizou.
Ao
defender as instituições democráticas, Lula disse que “enfraquecer essas
instituições significa abrir espaço para o crime organizado”. E declarou que o
Mercosul decidiu combater o crime organizado transnacional "de forma
conjunta”, atuando no enfrentamento do tráfico de drogas e na recuperação de
ativos de atividades ilícitas.
“A
liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras”, disse Lula, que vai
propôr a realização de um encontro entre os ministros da Justiça e de Segurança
Pública dos países vizinhos para fortalecer a cooperação sul-americana nesse
tema.
O
aumento de casos de feminicídio na América Latina foi destacado pelo presidente
brasileiro ao falar de segurança pública. Segundo dados da Comissão Econômica
para América Latina e Caribe (Cepal), a América Latina é a região “mais letal
do mundo para as mulheres”, com 11 assassinatos de mulheres diariamente, em
media.
Publicado
originalmente no Correio Braziliense
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