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| A atriz Fernanda Torres é a protagonista do polêmico comercial das Havaianas (Foto: Reprodução/Alpargatas) |
Dez anos atrás, por exemplo, estava no auge o meme do “rei do camarote”. O
vídeo é de novembro, mas o compartilhamento em profusão foi no fim do mês
seguinte, quando as pessoas não tinham muito mais o que fazer. Na mesma época,
proliferaram nos shoppings os chamados “rolezinhos”, lembra deles? Eram
agitações promovidas por magotes de adolescentes com mais disposição e tanto
tempo disponível quanto os que debatiam o assunto no Facebook, a rede mais
popular do período. A questão foi alçada à condição de grande reflexão
sociológica para debater antes de o salpicão que sobrou da ceia ficar azedo.
Dez anos depois, estamos nós a discutir um comercial de chinela.
A controvérsia sobre o comercial de Havaianas é produto da convergência da dificuldade de interpretação de texto com ingredientes paranoides de uma gente que enxerga o inimigo em toda parte, acha que o comunismo está em tudo e lê o mundo como uma grande conspiração. A isso se associa o oportunismo de influenciadores políticos que se alimentam de polêmica e precisam manter os radicais mobilizados com base em alguma coisa, a mais besta que seja.
Uma empresa com mais de 100 anos, que produz calçados e é uma das maiores anunciantes do Brasil já mencionou pé direito em propagandas a valer. Inclusive uma peça que voltou a circular, que envolve Romário e Maradona. Até porque esquerda e direita não são criações da política. Recordo-me de um comercial de carro com câmbio automático em que Rivelino falava de dar folga ao pé esquerdo. Hoje seria alvo de sei lá quais leituras.
A mensagem em questão, basicamente, diz: “Não quero que você comece 2026 com o pé direito, desejo que comece com os dois pés”. Doutorado em hermenêutica é dispensável para entender.
Celeuma
é fabricada
Mas há cabecinhas que percebem mensagens cifradas em tudo. Os influenciadores com mandatos e sem contribuem para isso. Não se trata de uma polêmica real, mas tampouco é espontânea. Ela é estrategicamente explorada. Quem explora acredita na tese da chinela de dedo comunista? Ou está manipulando incautos de forma deliberada? Na verdade, isso para eles não tem a menor importância. Na circunstância política, o assunto engaja e cumpre o papel.
Não duvido que a Havaianas tenha calculado que haveria essa leitura. Ainda mais ao escolher como protagonista Fernanda Torres, cuja fama ganhou o Exterior com o filme sobre um tema que não era motivo de querela há algumas décadas, salvo por parlamentar da periferia da política, que por alguns acasos veio a se tornar presidente e alçou mais uma discussão sem sentido. A ditadura militar foi combatida pela esquerda, mas nunca foi só por ela. Estamos quase em 2026 e a crítica ao golpe de 1964 passa a ser associada ao comunismo.
Não é de admirar, nesse contexto, a revolta da chinela.
Mimimi
de direita
Saudades
de quando os conservadores reclamavam que os progressistas eram cheios de
“mimimi”. Hoje a direita se vitimiza e reclama de tudo.
Publicado
originalmente no portal O Povo +
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