12 de julho de 2025

Governo e agro brasileiro buscam saídas contra o tarifaço dos EUA

Presidente Lula e o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, querem a presença dos empresários do setor para buscas de novos mercados (Foto: Ricardo Stuckert)

O governo federal começa a fazer movimentos para trazer um segmento da economia tradicionalmente apoiadora do ex-presidente Jair Bolsonaro, o agronegócio, para perto, a fim de, juntos, fecharem propostas capazes de suspender o tarifaço de 50% imposto por Donald Trump às exportações brasileira para os Estados Unidos. À frente dessa estratégia, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que quer a presença dos empresários do setor ao lado dele no esforço de, também, buscar novos mercados.

Fávaro, inclusive, postou vídeo no seu Instagram pessoal anunciando que já está em contato com os empresários mais afetados pelo tarifaço e que intensificará as conexões com o Brics como forma de redirecionar as exportações do agro. "Diante da ação indecente do governo norte-americano, em taxar em 50% as exportações brasileiras, já estamos agindo de forma proativa. Telefonei para as principais entidades representativas dos setores mais afetados, o setor de suco de laranja, o setor de carne bovina e o setor de café, para que possamos, juntos, ampliar as ações que já estamos realizando nos dois anos e meio do governo do presidente Lula: em ampliar mercados, reduzir barreiras comerciais e dar oportunidade de crescimento para a agropecuária brasileira", salientou.

Segundo o ministro, "neste momento, vou reforçar essas ações, buscando os mercados mais importantes do Oriente Médio, do Sul Asiático e do Sul Global, que têm grande potencial consumidor e podem ser uma alternativa para as exportações brasileiras. As ações diplomáticas do Brasil estão sendo tomadas em reciprocidade. As ações proativas acontecerão, aqui, no Ministério da Agricultura e Pecuária, para minimizar os impactos".

Essa intensificação da conexão com o agro é em função, sobretudo, da irritação do setor com os movimentos feitos por Bolsonaro, e alguns dos seus apoiadores, na tentativa de salvar o ex-presidente de uma condenação, pelo Supremo Tribunal Federal, por envolvimento na trama para um golpe de Estado. Para empresários e políticos ligados ao agronegócio, as gestões do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) junto ao governo norte-americano e a parlamentares trumpistas ultrapassou o alvo inicial — o ministro Alexandre de Moraes, do STF, relator do inquérito sobre a ruptura institucional — e tornou-se algo mais amplo, que é a economia brasileira. Uma das primeiras a se manifestar sobre isso foi a ex-senadora Kátia Abreu, também ex-ministra da Agricultura no governo de Dilma Rousseff e ex-presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária. Em uma publicação no X (antigo Twitter), ela faz um comentário sobre um vídeo postado pelo filho 03 de Bolsonaro no qual ele defende o ambiente de negócios norte-americano e diz que as tarifas impostas por Trump ao Brasil seriam um "convite" ao investimento externo.

"Esse deputado é do Brasil ou dos Estados Unidos?", indaga. Em outra publicação, Kátia critica o parlamentar licenciado e o ex-presidente. "Filho de Bolsonaro não sabe o que desencadeou. Um prejuízo grande ao Brasil. A milhares de brasileiros. Com apoio do seu pai", frisa. "Me solidarizo com a aflição dos empresários exportadores do Brasil para os EUA e todos os demais que trabalhem nesta cadeia de exportação. Ninguém merece uma insegurança dessa. Preocupação com as contas a pagar, inclusive seus colaboradores", publicou.

A mesma indignação da ex-ministra já havia sido manifestada pela Frente Parlamentar da Agropecuária, tão logo Trump anunciou, na carta remetida ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o tarifaço sobre os produtos brasileiros. Integrada, sobretudo, por parlamentares do Centrão e bolsonaristas, a nota da FPA observa que e taxação de 50% "representa um alerta ao equilíbrio das relações comerciais e políticas entre os dois países" e "produz reflexos diretos e atingem o agronegócio nacional, com impactos no câmbio, no consequente aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras". Mas faz uma ressalva: "Diante desse cenário, a FPA defende uma resposta firme e estratégica: é momento de cautela, diplomacia afiada e presença ativa do Brasil na mesa de negociações".

Os empresários do agro acreditam que, até 1º de agosto, quando Trump promete fazer vigorar o tarifaço, há espaço para alguma negociação, tal como o adiamento das sanções. Isso porque há o consenso de que a Lei da Reciprocidade — sancionada em abril, a Lei 15.122/25 teve por base PL 2.088/23, de autoria do senador Zequinha Marinho (PL-PA) — é poderosa do ponto de vista junto à opinião pública e galvaniza o patriotismo pelas redes sociais, mas prejudicial do econômico. Para o setor, trata-se de um recurso final, tal como o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nas entrevistas que concedeu as tevês Record e Globo, na quinta-feira.

"Se ele ficar brincando de taxação, vai ser infinita. Vamos chegar a milhões e milhões por cento de taxa", frisou

Diálogo

Da mesma forma como Lula afirmou, nas entrevistas, que em algum momento conversará com Trump, mas não agora — "quando chegar o momento, que for necessário, não terei nenhum problema de pegar o telefone e ligar, correndo o risco de ele, de forma mal-educada, não me atender", provocou —, o presidente norte-americano afirmou também que pode entrar em contato com o brasileiro. "Talvez em algum momento, mas não agora", disse, em conversa com jornalistas, ontem.

Enquanto Lula e Trump não se encontram para conversar, e as gestões junto ao governo norte-americano para a suspensão do tarifaço mal começaram, na seara do Congresso o PSol ingressou, com uma notícia-crime na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Eduardo Bolsonaro, na qual ação pede a prisão do deputado licenciado. O partido argumenta que ele cometeu crimes contra o Brasil a partir da atuação dele junto ao governo dos EUA.

Segundo o Psol, o filho 03 do ex-presidente atenta contra a soberania nacional ao tentar sabotar as instituições brasileiras "com seu lobby sistemático contra o Brasil, que envolve uma série de ações anti-diplomáticas e que culminou com a declaração de guerra tarifária". Para a legenda, a atuação da família Bolsonaro nos Estados Unidos integra uma segunda etapa da tentativa golpista de 8 de janeiro de 2023.

"Após não conseguir depor pela força o governo eleito, a extrema-direita busca alianças externas para pressionar economicamente o Brasil. É inaceitável que um parlamentar fuja do Brasil para conspirar contra o próprio país e articule medidas que prejudicam a economia nacional. Ao menos a hipocrisia dos autointitulados patriotas que batem continência para a bandeira dos EUA ficou escancarada", afirma Paula Coradi, presidente nacional do PSol e que assina a ação na PGR.

Publicado originalmente no Correio Braziliense

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