17 de novembro de 2025

Sociedade civil pressiona COP30 em semana decisiva

Ao lado das ministras Marina Silva e Sônia Guajajara, o presidente da COP30, Corrêa do Lago, debate com ativistas da Cúpula dos Povos (Foto: Tânia Rêgo)

Considerado o único "dia de folga" da 30ª Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP30), o domingo (16/11) foi marcado pelo evento que finalizou as mobilizações da Cúpula dos Povos, em Belém. No encontro, os organizadores leram uma carta construída por povos tradicionais do mundo todo e assinada por 1.109 organizações sociais e políticas, que foi entregue ao presidente da conferência, embaixador André Corrêa do Lago.

No manifesto, a Cúpula dos Povos levanta problemas como racismo ambiental, transição energética "implementada sob a lógica capitalista", além do que chama de "evidente fracasso do atual modelo de multilateralismo" e de "todo o modo de produção capitalista". No capítulo das propostas do grupo, a carta elenca, ao menos, 15 intervenções.

O documento apresentado pela Cúpula dos Povos ao presidente da COP30 é repleto de críticas ao modelo capitalista. Em um trecho, afirma que "o modo de produção capitalista é a causa principal da crise climática crescente" e que devem ser enfrentadas as "falsas soluções de mercado". "O ar, as florestas, as águas, as terras, os minérios e as fontes de energia não podem permanecer como propriedade privada nem serem apropriados, porque são bens comuns dos povos", defende a cúpula.

Segundo os organizadores do manifesto, a lógica em que o capital prevalece em detrimento de bens comuns faz com que grandes empresas ocupem os espaços de tomada de decisão e da criação de políticas públicas.

Ao receber a carta com demandas da cúpula, Corrêa do Lago — que no último sábado havia dito estar "impressionado" com ações encabeçadas pelo setor privado durante a COP-30 — comprometeu-se levar a declaração aos espaços de negociação da COP 30, a partir de hoje. "Fico muito feliz de poder presidir essa COP com esse apoio que sinto de vocês. Espero que a COP30 seja a COP da virada", afirmou o embaixador.

"A COP é, basicamente, uma grande negociação dentro das Nações Unidas, com 195 países que têm que estar de acordo com tudo, porque é tudo por consenso. Então, é uma negociação superdifícil. Mas saber que a sociedade civil mundial tem voz em Belém é absolutamente sensacional", disse o presidente da COP 30. Por isso, eu agradeço a vocês por esse trabalho, que eu registrarei, na abertura da reunião de alto nível, que começa, amanhã, na COP. Fico muito, muito feliz de poder presidir essa COP com esse apoio que eu estou sentindo aqui hoje", completou Corrêa do Lago.

Ao citar as negociações, o embaixador abordou a necessidade de 194 países chegarem a um consenso e a uma conclusão em temas que vão embasar o relatório final da cúpula. As propostas, que serão discutidas em Belém pelos representantes das nações, foram levadas à mesa por negociadores das Nações Unidas na semana passada.

Os temas tratam de estratégias para a redução de gases de efeito estufa, além de definir o financiamento para iniciativas contra as mudanças climáticas e de transição energética.

Lula elogia

O documento entregue pela Cúpula dos Povos foi alvo de comentário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, o grupo que reúne movimentos populares de todo o mundo foi fundamental para tornar viável a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.

"A COP30 não seria viável sem a participação de vocês, essa extraordinária concentração de pessoas que acreditam que outro mundo é possível e necessário. Como tenho dito em todos os fóruns internacionais de que participo, debaixo de cada árvore da Amazônia há uma mulher, um homem, uma criança", escreveu o presidente, em carta enviada à Cúpula dos Povos.

As palavras do presidente Lula foram lidas presencialmente pela ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva. Na carta, Lula também confirmou que viajará a Belém, nesta quarta-feira (19/11), para um encontro com o secretário-geral da ONU, António Guterrez, com o objetivo de fazer "uma ação conjunta para fortalecer a governança do clima e o multilateralismo".

Além de Marina, o palco da cerimônia de encerramento da Cúpula dos Povos contava com outros representantes do governo Lula, como Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, e Guilherme Boulos, da Secretaria-Geral da Presidência.

Crianças e o clima

Corrêa do Lago também recebeu uma carta da Cúpula das Infâncias, documento elaborado por cerca de 700 crianças e adolescentes que participaram de atividades na Cúpula dos Povos. No manifesto, as crianças expressaram temor pelo futuro, se não houver ações práticas para conter o aquecimento global e a emergência climática.

"Para que as próximas crianças e adolescentes não tenham medo do calor, da fumaça, da falta de água, da extinção dos animais. Para que elas possam desenhar florestas vivas e não florestas morrendo", diz um trecho da carta.

"Somos muitos e muitas crianças e adolescentes, cada uma com um jeito, um desenho, uma fala, um sonho. Mas todas com o mesmo ideal, por dentro do nosso planeta, agora, queremos continuar vivos e vivas, crescer no mundo bonito, no mundo que ainda respire, com esperança e sem medo", continua o documento.

As propostas das crianças envolvem cuidados à floresta amazônica, a proteção dos rios, a criação de parques e áreas verdes próximas às escolas, além do fomento à educação ambiental desde a primeira infância e a garantia de que crianças e adolescentes participem das decisões sobre clima, territórios indígenas, preservação ambiental e cidades.

"O calor está muito forte. De verdade. Tem dia que a gente sente dor de cabeça, tontura e muito cansaço. A gente precisa de mais sombra", continua a carta, que ainda destaca o fato de as discussões climáticas deixarem de ser um assunto distante do cotidiano.

Publicado originalmente no Correio Braziliense

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