30 de julho de 2021

Bolsonaro diz não ter provas sobre fraude nas eleições, apenas indícios

Na transmissão Bolsonaro apenas exibiu o que chamou de "indícios" e usou o espaço para levantar dúvidas sobre o atual sistema de votação brasileiro (Foto: Reprodução/Facebook)

O presidente Jair Bolsonaro promoveu na noite de ontem (29/07) uma transmissão ao vivo nas redes sociais na qual prometia apresentar as provas de que as eleições de 2018 foram fraudadas. Contudo, durante o evento, ele comentou que “não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas”

Bolsonaro exibiu o que chamou de indícios com pouca comprovação de veracidade, e usou o espaço para levantar dúvidas sobre o atual sistema de votação brasileiro. Aproveitou o tempo e a audiência, ainda, para chamar apoiadores para manifestações pelo voto impresso, e perto do fim, ameaçou. “Se manifestação popular não sensibilizar as autoridades do Brasil, o que podemos esperar, que o povo se revolte?”, disse.

Basicamente, em vez de comprovar as supostas fraudes nas eleições que sempre propagandeou, Jair Bolsonaro inverteu o ônus da prova. A estratégia, que é considerada uma falácia, consiste em jogar para o adversário a responsabilidade de comprovar o que já está estabelecido como correto, por exemplo, em vez de o interlocutor que fez a acusação ou questionamento, (o presidente, neste caso) expôr argumentos que mostrem a veracidade de suas afirmações. “Os que me acusam de não apresentar provas, eu devolvo a acusação. Apresente provas que não é fraudável”, disse em um determinado momento.

O presidente afirmou, apenas, ter “vários indícios de irregularidades” ainda em “fase de aprofundamento”. “O crime só se desvenda com vários indícios, e eu vou apresentar vários aqui”, comentou Bolsonaro. “Alguns em fase de análise, outros extraídos da própria imprensa brasileira e outros também de pessoas que no dia das eleições foram votar e o nome do seu candidato não apareceu na tela. Por incrível que pareça as reclamações só tinham uma mão, queriam votar no 17 e aparecia nulo ou automaticamente o 13. Quem queria votar no 13 não aparecia 17 e nem nulo. Então, são indícios e mais indícios”, acrescentou.

Por diversas vezes na cerimônia, Bolsonaro reforçou que “as provas você só consegue com uma somatória de indícios”. “Apresentamos um montão de indícios aqui. Outros, com certeza, aparecerão. Vocês da mídia foram testemunhas nas últimas e outras eleições que muita gente tentou votar no seu candidato e não conseguiu. Quando tentaram votar em mim em 2018, aparecia o 13, ninguém reclamou que queria votar no 13 e apareceu o 17. Então, é algo que desperta e nos mostra mais indícios fortíssimos de possível aparelhamento da coluna vertebral dos responsáveis pela confecção e disparo das eleições.”

Durante o evento, porém, o presidente mostrou apenas vídeos publicados na internet de eleitores reclamando que a urna não registrava corretamente os votos e também de um desenvolvedor de sistemas simulando uma urna eletrônica virtual, na qual ele programava o aparelho para fraudar votos a favor de um candidato fictício sem uma urna do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além disso, parte considerável do que foi mostrado já foi desmentido em outras ocasiões. Também foram apresentadas reportagens jornalísticas de 2008 e 2012 sobre denúncias de irregularidade nas eleições municipais de Caxias (RS).

Bolsonaro defendeu a implementação de um voto auditável a partir do ano que vem, por afirmar que a urna eletrônica, por si só, não é segura o suficiente para registrar os votos. Tramita na Câmara a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 135/2019, sobre o voto impresso, de autoria da deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF) e relatoria do também bolsonarista Filipe Barros (PSL-PR). O texto, porém, não convenceu os membros da comissão especial, e passa por modificações na tentativa dos governistas de reverter a rejeição. O presidente também disse que tem como liberar recursos para as alterações no sistema, mas o TSE e parte dos membros do colegiado que debatem a PEC afirmam que não há tempo hábil para as alterações necessárias.

Ele criticou quem é contra a implementação de um sistema externo à urna eletrônica para que os eleitores possam conferir se a urna registrou o seu voto corretamente. E dirigiu-se, em especial, ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso. “Por que o presidente do TSE quer manter a suspeição sobre as eleições? Quem ele é?”, questionou Bolsonaro. “Por que ele teme tanto o voto democrático? Por que não quer eleições democráticas? Por que não quer que possamos contar fisicamente? Mentem, senhor Barroso, quem diz que é retrocesso, que é a volta do voto em papel. É fake news. O senhor deveria ser o primeiro a ter humildade, a falar em democracia, em transparência”, reclamou o presidente.

Também fez insinuações sobre Barroso. “Porque o temor ao senhor Luis Barroso?”, perguntou referindo-se aos deputados. Bolsonaro afirma que Barrosos teria sido responsável por uma mudança na composição da comissão especial da PEC do voto impresso em uma intromissão no Legislativo. “O que ele tem conversado com alguns (deputados) para convencê-los tão rapidamente que o sistema é preciso e confiável? Porque tem um hacker preso que entrou no sistema do TSE (Tribunal Superior Eleitoral)?”, questionou. Na verdade, Barroso já defendeu que, até o momento, o sistema eletrônico que computa as votações no brasil não foi violado. Nunca falou dos computadores do TSE.

Bolsonaro comentou que aceitará ser derrotado nas eleições do ano que vem, desde que o sistema eleitoral seja modificado. “Ganhe quem ganhar ano que vem, mas vamos atender a vontade popular. Se as escolhas forem erradas, que se pague. Mas se for na suspeição, o preço vai ser mais caro ainda. Ganhe quem for, mas de forma democrática, com voto democrático, com urnas confiáveis, é isso que precisamos no Brasil”, disse.

No evento, Bolsonaro voltou a falar das eleições ao Palácio do Planalto de 2014. Ele afirma que o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) deveria ter sido o vencedor, e não Dilma Rousseff (PT). Para o presidente, o fato de os dois terem alternado a liderança do pleito 241 vezes durante a apuração dos votos é um dos indícios mais fortes de fraude. 

“Isso é a mesma coisa de, em quatro horas de apuração, 240 minutos, 240 vezes, jogar uma moeda para cima e, ora dar cara, ora dar coroa. Equivale a, aproximadamente, você ganhar, de forma consecutiva, seis vezes na Mega-Sena. Pode acontecer, mas a probabilidade se aproxima de zero”, comparou. Ele prometeu encaminhar essa informação ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, e à Polícia Federal, para que seja aberto um inquérito.

Com informações portal Correio Braziliense

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