29 de dezembro de 2022

Bolsonaro: só mais 72 horas, por Érico Firmo

A proximidade do fim do governo deixou o presidente emocionalmente abalado (Foto: Marcello Casal Jr)

Jair Bolsonaro (PL) deixará a Presidência daqui a três dias. No momento em que você está lendo esta coluna, não sei se ele está ou não no exercício do cargo. Havia a expectativa de que ele deixasse o País. Não sei se há precedente de algum governante do País encerrar o mandato no Exterior. Parece que sai fugido.

Desde que perdeu a eleição para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já é como se Bolsonaro não estivesse no exercício do cargo. Ele desertou das funções, para usar o único vocabulário familiar a ele.

A proximidade do fim do governo deixou o presidente emocionalmente abalado. Na semana passada, em cerimônia de arriamento da bandeira nacional, ele chorou. A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, ajoelhou-se e chorou ainda mais.

O apego ao poder é comum. Ainda mais para alguém que sempre teve mandatos ao longo de mais de 30 anos, apesar de posar de nova política. O que causa estranheza é Bolsonaro estar tão triste apesar de viver repetindo que achava o cargo um fardo.

Meses após a posse, em abril de 2019, em visita a Israel, ele falou sobre a transitoriedade do poder. Bolsonaro dizia que o governo dele era passageiro. "Graças a Deus, né? Imagina ficar o tempo todo com esse abacaxi". Depois se corrigiu: "Com esse abacaxi, não, com essa quantidade de problemas nas costas. A gente vai tocando o barco".

Naquele mesmo mês, ele disse, em entrevista à Veja: "Às vezes me pergunto: meu Deus, o que fiz para merecer isso? É só problema".

Em agosto de 2021, ele falava: "Tem muita gente melhor do que eu por aí. Não faço questão de ser presidente." Em setembro do mesmo ano, afirmou: "A vida de presidente não é fácil, se alguém quiser trocar comigo, troco agora".

Em junho deste ano, ele admitiu a falta de aptidão para o cargo: "(Eu) não tinha nada para estar aqui. Nem levo jeito. Nasci para ser militar. Fiquei por 15 anos no Exército. Entrei na política meio por acaso. Passei 28 anos dentro da Câmara, nenhum problema."

Em agosto deste ano, em entrevista ao Flow Podcast, ele disse que, após ser eleito, perguntou-se: "Meu Deus, o que eu fiz para pagar esse preço".

No fim do mesmo mês, ele disse que não gosta de estar na função. "Prazer de estar naquela cadeira? Não tenho prazer nenhum. Um saco! Não dá mais para pescar por aí, contar uma piada, tomar um caldo de cana acolá etc. Mas eu entendo como uma missão, uma missão de Deus." Isso apenas quatro meses atrás.

De lá para cá, o abacaxi ficou doce. O fardo ficou leve, o preço ficou barato. Bolsonaro não age como alguém perto de cumprir a missão, mas como quem está arrasado por não ter um pouquinho mais do que dizia ser um sacrifício. Imagine se achasse bom.

São só mais 72 horas.

Publicado originalmente no portal O Povo Online 

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