16 de fevereiro de 2020

A difamação à imprensa como estratégia de ataque


Ataques à imprensa profissional têm sido cada vez mais recorrentes no Brasil. As investidas ocorrem de diversas formas, seja contra veículos ou pessoas físicas. Semana passada, um caso chamou a atenção. 

Em depoimento prestado à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News no Congresso, Hans River do Rio Nascimento, ex-funcionário de uma empresa de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, fez insultos à jornalista da Folha de São Paulo, Patrícia Campos Mello.


Ele afirmou que Patrícia queria informações em troca de sexo. Na ocasião e nas redes sociais, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse acreditar que Hans falava a verdade. A jornalista comprovou que o depoimento era mentiroso com registros das conversas que teve com Hans — sua fonte, à época. Na quarta-feira, 12, dia seguinte ao ocorrido, mulheres jornalistas organizaram manifesto de apoio à colega.

O ataque à imprensa tem alcançado novo patamar. Para especialistas, os casos refletem um "projeto de governo" com o objetivo de tirar a credibilidade da imprensa e enfraquecê-la. O teor sexual das mentiras como estratégia desqualificatória suscita ainda a discussão sobre machismo e misoginia.

Elizabeth Saad, professora do Departamento de Jornalismo e Editoração das Escolas de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), frisa a importância do papel institucional e legítimo que a imprensa exerce na sociedade. "O jornalismo deve relatar e analisar os fatos, auxiliando a formação da opinião pública", diz.

Por causa do caráter intrinsecamente questionador, é comum que diversas governos em diferentes épocas critiquem veículos de comunicação. Atualmente, no entanto, um "conjunto de sistemas, máquinas e aparatos" têm intensificado e mudado a forma dos ataques. "As tecnologias criaram uma aceleração no modo de as pessoas se expressarem, ficou muito mais evidente essa polarização", detalha.

Ela considera que o cenário de acirramento não vai mudar. Isso ocorre, principalmente, por causa do aumento do volume de ferramentas. "O futuro é arriscado para o campo do jornalismo. Mas isso não significa o impedimento do jornalismo como uma instituição legítima e democrática", avalia Elizabeth.

O cenário atual e as perspectivas demandam "uma questão séria de segurança dos jornalistas". "Há, cada vez mais, uma necessidade de organização da mídia, das empresas, dos próprios jornalistas de buscarem caminhos de segurança digital e proteção. Como o que a Patrícia fez de registrar todos os contatos com a fonte", diz.

Janayde Gonçalves, professora de ética e legislação jornalística da Universidade de Fortaleza (Unifor), destaca gravidade dos ataques tendo em vista que representam uma violação a acordos internacionais e dispositivos legais. "Quando existem amarras ou qualquer empecilho para que a imprensa possa se posicionar livremente, a gente tem uma série de consequências negativas", defende.

Apesar de as agressões à imprensa não serem "novidade", "ataques diretos como os que vêm sendo feitos, inclusive pelo presidente, nunca houve na história". "Existem levantamentos estatísticos que mostram que essa média de ataques verbais e diretos é de um a cada três dias. Além desse problema, temos a descaracterização da própria profissão", destaca.

"É muito importante que as entidades representativas continuem fazendo o papel de levantamento de dados, que esse problema seja levado as entidades internacionais e que a população de forma geral esteja atenta. Essas atitudes não são gratuitas, existem com uma intenção ideológica por trás. O atual governo tem um projeto político de ataque a todas as minorias e liberdades".

Com informações portal O Povo Online e foto de Alice Vergueiro

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