14 de outubro de 2022

A exploração da fé em busca de voto, por Érico Firmo

Arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, cumprimenta a comitiva do presidente  Bolsonaro em Aparecida (Foto: Gustavo Marcelino)

A relação entre política e religião é tão antiga quanto o poder. Governantes diziam ter "direito divino". Deu um trabalhão para começar a separar as coisas. Mas, candidatos sempre mantiveram ao menos um pé na religião. Não por devoção deles - francamente, não me diga que é inocente a ponto de cair nessa.

A fé é poderosa a ponto de governar a vida dos devotos. Mobiliza sentimentos e pensamentos como talvez nenhuma outra força seja capaz. Quando essa energia é canalizada para objetivos políticos, pode ser avassaladora. Não à toa, em toda eleição surge uma fake news de que algum candidato disse: "Só Deus me tira a vitória". É pior que usar o nome de Deus em vão — é usar para jogo sujo mesmo.

Esse tipo de coisa é mais velho que andar para frente, mas neste ano ocorrem episódios que nunca vi antes. Em Aparecida, houve bispo vaiado em sermão sobre fome, padre que exibiu camisa da seleção brasileira sob a batina, em sinalização de simpatia à candidatura de Jair Bolsonaro (PL). Equipe de televisão foi agredida na basílica, pelos "fiéis" seguidores do candidato. Alguns dos quais com cerveja na mão.

No mesmo dia, Bolsonaro foi a inauguração de igreja evangélica. O oportunismo foi repreendido pelo arcebispo dom Orlando Brandes. "Precisamos ter uma identidade de religiosa. Ou somos evangélicos ou somos católicos."

Hoje, em Fortaleza, Michelle Bolsonaro e Damares Alves vão a uma igreja, para evento chamado "Grande Clamor pelo Brasil". Evidente que elas não se deslocam para o Ceará por razão religiosa, mas política. A fé sempre foi alvo de aproveitadores, mas, em momentos desta eleição, ela quase substitui a campanha — ou se torna toda a campanha.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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