27 de novembro de 2023

Extrema-direita ensaia volta às ruas, mas adesão a manifestações é baixa

Manifestantes ocuparam apenas a área da Paulista próxima ao Masp (Foto: Nelson Almeida)

Após meses de pouca convocação de manifestações, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de todo o País voltaram às ruas ontem em protesto pela morte de Cleriston Pereira da Cunha, vítima de um mal súbito na última semana na penitenciária da Papuda, em Brasília. Em Fortaleza e em diversas capitais, no entanto, atos tiveram baixa adesão.

Cleriston estava preso desde 8 de janeiro, acusado de participação nos ataques a prédios dos Três Poderes. O evento com o maior número de participantes ocorreu em São Paulo, na Avenida Paulista, e teria reunido cerca de 13 mil pessoas, segundo cálculo de grupo da Universidade de São Paulo (USP) com base em imagens aéreas do evento.

Como o protesto havia sido amplamente divulgado por parlamentares bolsonaristas e por lideranças religiosas como Silas Malafaia, a participação acabou ficando bem abaixo do esperado. Na semana passada, o próprio Bolsonaro divulgou vídeo apoiando os protestos, mas teria desistido "de última hora" de participar do ato na Avenida Paulista.

Oficialmente, mote dos atos era "defesa do Estado democrático de direito", tendo como reivindicação principal o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Além da participação de Malafaia e outros religiosos, ato da Paulista contou também com deputados como Carla Zambelli (PL-SP) e Ricardo Salles (PL-SP).

Para o cientista político Cleyton Monte, pesquisador da Universidade Federal do Ceará (UFC), os protestos respondem a episódios recentes - como a própria morte de Cleriston e até a vitória do ultradireitista Javier Milei na Argentina -, mas têm como pano de fundo maior a necessidade de "mobilização permanente" da militância bolsonarista.

"Essas manifestações são muito uma resposta a todo o avanço que o governo Lula está fazendo em territórios que tinham maior proximidade com o bolsonarismo, como os partidos do Centrão, governadores e a própria melhora da economia", diz. "O que a gente tem visto, no entanto, é uma dificuldade deles em fazer essas mobilizações".

Cleyton destaca, no entanto, que a baixa adesão não significa que o bolsonarismo tenha "morrido" ou perdido protagonismo. "Está vivíssimo, só não tem os mesmos canais de mobilização, os mesmos parceiros, as alianças", afirma. Ele destaca a crescente proximidade da eleição de 2024 como fator que deve estimular novos atos.

Presidente do PL Ceará, o deputado Carmelo Neto considers manifestações "marco importante em defesa das liberdades e do Estado Democrático de Direito", seguindo uma "tradição da direita por atos pacíficos e ordeiros". "(Isso ocorre) desde 2015, quando iniciaram as manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma", diz.

Carmelo confirma ter participado do ato marcado para Fortaleza, realizado na Praça Portugal mas que contou com pouca presença de pessoas. O deputado, no entanto, minimiza a baixa adesão local, destacando que manifestação foi "espontânea" e "não teve grande convocação ou grupo organizador". "Foi uma manifestação que ocorreu a partir de um sentimento das pessoas! Tenho certeza que as próximas serão maiores", diz.

Líder do bloco do PT na Assembleia Legislativa, o deputado De Assis Diniz (PT) tem outro olhar: "Fracasso total e absoluto", resume. Para ele, a manifestação seria apenas uma tentativa de bolsonaristas em criar uma "cortina de fumaça", que estaria tendo menor adesão pois, segundo ele, as pessoas percebem a melhora da economia durante a gestão Lula.

Neste sentido, ele critica sobretudo falas recentes de Bolsonaro que voltaram a criticar ministros do STF e a questionar o resultado das eleições do ano passado. "A qualquer momento sairá a prisão do Bolsonaro. Então eles precisam ter elementos que desconstituem o fato e criem versões. Mas o fracasso do dia de hoje já reflete a lógica de que muita gente não considera essa narrativa que eles têm", diz.

Com informações portal O Povo +

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