22 de novembro de 2025

Trump recua, mas negociações continuam

A importância da negociação foi reconhecida por Trump, ao citar Lula no documento em que divulgou a sua decisão (Foto: Reprodução/Getty Imagens)

A partir do momento em que os Estados Unidos passaram a adotar uma postura "adulta" com relação ao tarifaço imposto ao Brasil, as negociações tomaram um rumo que vai beneficiar os dois países.

O confronto, estava claro desde o início, não prejudicaria apenas o Brasil — e outros países em situação parecida —, pois o comércio mundial é de tal forma complexo e integrado que não seria uma canetada, ainda que do líder do país mais poderoso do mundo, iria fazer a situação mudar da noite para o dia.

De qualquer forma, passaram-se longos sete meses, desde abril, quando o presidente americano, Donald Trump, anunciou um pacote de "tarifas recíprocas" de 10%, atingindo praticamente todos os países. Em julho, ele assinou a ordem executiva 14323, impondo uma taxa adicional de 40% aos produtos brasileiros.

Além disso, vinculou possíveis negociações a um "perdão" aos crimes pelos quais o ex-presidente Jair Bolsonaro foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), aspecto considerado inaceitável pelo Brasil.

A situação começou a mudar após um encontro "casual" entre Trump e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia Geral da ONU, em setembro. Em seguida, os dois presidentes falaram por telefone; depois tiveram um encontro presencial na Malásia, em outubro, quando anunciaram que os dois países iniciaram as negociações para resolver as pendências.

Essas conversas, conduzidas com a reconhecida competência da diplomacia brasileira, resultaram em um recuo de Trump, retirando a sobretaxa de 40% sobre mais de 200 produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos, como carne bovina, café e frutas. Para o que também contribuiu a pressão interna, provocada pelo aumento de preços devido à barreira tarifária.

A importância da negociação foi reconhecida por Trump, ao citar explicitamente o nome de Lula no documento em que divulgou a sua decisão. "Em 6 de outubro de 2025, participei de uma conversa telefônica com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, durante a qual concordamos em iniciar negociações para abordar as preocupações identificadas no decreto Executivo 14323".

Até agora, considerando-se o resultado obtido, a estratégia escolhida pelo Brasil para negociar com os Estados Unidos mostra-se acertada. Desde a insistência de Lula em recusar a pauta política, até a distensão, ocorrida no momento certo, no primeiro encontro entre os dois presidentes.

Mas é preciso lembrar ainda que, comparando com outros países dos quais a Casa Branca impôs contrapartida para retirar ou baixar tarifas, isso não aconteceu com o Brasil. A sobretaxa foi retirada sem nenhuma exigência recíproca.

Portanto, mesmo reconhecendo o progresso obtido até agora, o processo vai continuar, pois ainda existe uma quantidade importante de produtos brasileiros sobre os quais continua incidindo a sobretaxa. Mas, se os EUA continuarem se comportando como adulto, são grandes as possibilidades de se chegar a bom termo.

Publicado originalmente no portal O Povo +

Leia também:

Uma indicação incômoda para o STF

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.