22 de março de 2024

Reúso pode ser alternativa para diminuir consumo de água

Demonstração de estudo de qualidade da água de esgoto (Foto: Fábio Lima)

Dias cada vez mais quentes, aumento populacional e as indústrias são alguns dos fatores que explicam o crescimento do consumo de água no Brasil. Segundo pesquisa realizada pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), o nível do consumo do recurso no País, até o ano de 2030, tende a crescer até 24%, quando deve-se alcançar a marca de 2,5 milhões de litros utilizados a cada segundo.

Ainda de acordo com o estudo da ANA, os principais contribuintes para esse alto consumo no território nacional são a agricultura, responsável por 52% de toda a água retirada dos mananciais; seguida do abastecimento urbano, com 23,8%; e a indústria, com 9,1%. Os dados foram divulgados pela Agência Brasil.

Em meio a esse crescimento, algumas alternativas surgem para aliviar a carga exigida do meio ambiente, dentre elas o reúso das chamadas "águas cinzas", que são aquelas utilizadas pelas pessoas no banho e no uso de máquinas de lavar.

O líquido passa a ser assim chamado porque, apesar de ser um material sujo, não houve contato com as "águas escuras", que consistem nos volumes provenientes de aparelhos sanitários, por exemplo, cuja quantidade de dejetos é maior.

Devido a esse menor fator de contaminação, essas águas têm a possibilidade de ser tratadas e reutilizadas em atividades que não necessitam de água potável, como irrigação de jardins e lavagem de veículos. Isso reduz a exigência sobre as fontes oriundas das companhias de água.

"As águas cinzas são tratadas e você pode, então, usar — logicamente que não para uso humano, mas para irrigar os jardins, por exemplo. Se você imaginar, quando você usa essa água em edificações é uma água clorada, cara, e não há necessidade dessa qualidade para esses fins", explica o o doutor em saúde ambiental, Suetônio Mota.

No entanto, Suetênio, que é também professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que essa alternativa exige que o local de aplicação tenha um sistema de tratamento de água. Por isso, é uma alternativa que costuma ser mais utilizada em edifícios residenciais ou empreendimentos comerciais.

Esse reúso é um caminho inclusive para a agricultura, principal responsável pelo consumo de água no País. Os líquidos podem ser utilizados em processos essenciais como a irrigação e substituir o recurso que seria retirado de reservatórios, gerando sustentabilidade e economia para os produtores.

"O reúso não é só nas edificações. Você pode usar o reúso na irrigação. É possível você irrigar principalmente culturas não alimentícias, por exemplo, mamonas, algodão, plantas forrageiras e outros tipos de cultura que você pode irrigar usando esgoto tratado", acrescenta Mota.

O reúso de água, porém, não é uma solução para controlar definitivamente a alta carga exigida dos sistemas de abastecimento no País. A alternativa busca diminuir os impactos causados pela grande demanda que populações, indústrias e diversas áreas da sociedade têm sobre o bem tão precioso que é a água.

No Ceará, o abastecimento não é suprido apenas pelas precipitações da quadra chuvosa, que ocorre anualmente no período entre os meses de fevereiro a maio. Para este ano, foi estimado que o Ceará tem 45% de probabilidade de chuvas abaixo da média no primeiro trimestre do período de precipitação, conforme a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).

Para o doutor em engenharia civil, Francisco de Assis Filho, a gerência dos recursos hídricos é de suma importância também para a manutenção de diversas áreas no Estado.

"É fundamental para a gente promover desenvolvimento. A gestão de recursos hídricos no estado do Ceará não é uma questão setorial, é uma questão sistêmica. Todo o processo de desenvolvimento do Estado, como mostraram as secas do passado, dependem de uma adequada gestão dos recursos hídricos", explica o também professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará.

Tratamento de esgoto: o que acontece com a água que sai das casas?

Tratamento e destino adequados aos resíduos que ainda são gerados nas residências são necessários para permitir o reúso, de forma a reduzir o volume de água exigido dos mananciais. Segundo dados da Ambiental Ceará, empresa responsável pela coleta, afastamento e tratamento de esgoto em 24 municípios cearenses, apenas em Fortaleza são coletados cerca de 600 toneladas de lixo por mês nas estações de tratamento de esgoto.

Esses locais, conhecidos como Estações de Pré-Condicionamento (EPCs), são responsáveis por receber grande parte do esgoto gerado nas cidades e realizar todo o processo necessário para devolver à natureza os volumes que chegam diariamente para a remoção de impurezas.

Uma das estações utilizadas pela empresa está localizada na avenida Presidente Castelo Branco, mais conhecida como Leste Oeste, em Fortaleza. O local recebe mais de 60% do esgoto gerado na cidade e entre os dejetos encontrados estão desde produtos pequenos, como preservativos e copos de plástico, até grandes materiais tal qual restos de obras e sofás.

Após chegar à estação, as águas do esgoto passam por um sistema de purificação que conta com esteiras removedoras, grades de proteção, bombas d'água e reservatórios para a separação entre o que é água e o que é lixo.

Todo esse processo, no entanto, é chamado apenas de "preliminar", já que a conclusão da limpeza do esgoto ocorre dentro do mar. A água tratada, com apenas alguns resíduos restantes, é jogada a três quilômetros da orla, onde terminará de ser limpa pelo oceano.

Esse serviço, no entanto, não representa risco à população ou ao meio ambiente, conforme afirma o diretor-presidente da Ambiental Ceará, André Facó. Segundo ele, a água é suficientemente tratada antes de ser lançada ao oceano para que chegue o menos poluída o possível e possa terminar de ser limpa pela própria natureza.

Ainda durante o processo, a água é coletada e analisada em laboratório três vezes, em diferentes etapas, para acompanhar quanto de resíduo ainda existe nos líquidos e só depois de atestados os níveis de segurança ambiental, é jogada no mar. Após isso, a água também é monitorada dentro do mar, para observar a faixa em que estão os resíduos ainda existentes e evitar que retornem à orla, local que os banhistas utilizam para o lazer.

"Nós temos um emissário submarino que lança esse esgoto tratado a três quilômetros da orla e a gente faz o monitoramento desse esgoto que é lançado e eventualmente a proteção para que esse esgoto não retorne para a orla. Essa planta já funciona desde 1998, é uma planta que tem licenciamento ambiental, que tem acompanhamento ambiental e que garante a proteção das pessoas, mas também a proteção do mar", pontua Facó, que também destaca a importância desse esquema de tratamento de esgoto.

"As estações de tratamento de esgoto são o que garante a confiabilidade de que essas águas, que tinham essas impurezas, após o tratamento irão retornar ao meio ambiente de forma segura", conclui.

Além do tratamento do esgoto, outro problema importante que cai sobre a estação é a relação com a comunidade em volta. Por ser um local de tratamento de águas sujas, a indústria chega a emitir odores fétidos, que incomodam quem mora perto do ponto de tratamento.

Devido a esse incômodo, novas formas de trabalho têm sido testadas, como os picos de trabalho durante a madrugada, para evitar que o cheiro atrapalhe os moradores durante as refeições, por exemplo.

"O que se procura na verdade é você interferir o mínimo na dinâmica da população. Muitas vezes essas estações são um pouco mais afastadas para evitar qualquer desconforto", afirma o diretor-presidente da Ambiental Ceará.

Com informações portal O Povo +

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A dimensão da histórica da escassez de água no Ceará


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