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Lula sabe que mostrar desânimo agora pode ser perigoso (Foto: Marcelo Camargo) |
Foi mais uma semana dura para o governo Lula, com destaque para a série de derrotas sofridas em votações importantes no Congresso Nacional. Uma inédita (pelo volume) derrubada de vetos em bloco e até a incômoda leitura do requerimento que instala uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para apurar o escândalo das fraudes no INSS.
O discurso oficial é de que a investigação não mete medo, mas seria desnecessária diante do que já vem sendo feito, desde a descoberta do esquema e das fraudes, por instâncias como a Polícia Federal e a Controladoria Geral da União (CGU). O circo político que tende a se armar, é o argumento, pode mais atrapalhar do que ajudar na busca dos responsáveis pelos desvios que tinham como alvo principal a população de aposentados do País.
Enfim, a semana fechou deixando um saldo bastante negativo para a articulação política do Palácio do Planalto. O que vale discutir, diante disso, é o comportamento ausente do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se manteve à distância de tudo, não se conhecendo qualquer gesto dele concreto e objetivo para ajudar no convencimento aos parlamentares ligados à base de que não deveriam alimentar movimentos que fortalecem, no aspecto político, a oposição.
O gosto de Lula pela política, por participar das fases agudas de mobilização dos seus governos, especialmente aqueles que exigem um corpo-a-corpo na ação de convencimento pessoal, sempre foi apontado como uma de suas características mais eloquentes, como qualidade. O embate destes últimos dias no Congresso estava anunciado, com expectativa geral de que seria desafiador reverter o cenário, e chama atenção que não se conheça movimentos do presidente, para além das falas públicas genéricas, no sentido de colocar seu "charme político", já elogiado até por adversários, à disposição do esforço de reverter as coisas.
Em outros tempos, certamente a tarefa não seria, como foi, completamente terceirizada para ministros e lideranças governistas. Havia um prazer pessoal do Lula em participar desses momentos com um entusiasmo que ele parece ter perdido, o que até pode ser visto como natural diante da clara perda de qualidade da representação parlamentar em nosso País. Deve ser mesmo duro olhar para o Congresso e encontrar em papéis importantes e decisivos algumas das tristes figuras que hoje controlam sua pauta e a própria agenda.
É um rebaixamento que dá sentido real àquilo que por muito tempo circulou como uma espécie de anedota política. Diz-se que alguém do meio empresarial conversava num dia qualquer de 1991 com o lendário Ulysses Guimarães, deputado paulista do PMDB histórico que presidiu a Câmara em momentos capitais, reclamando da má qualidade dos parlamentares com mandato à época, definindo-os como os piores da história. A resposta do sábio político teria sido cortante: "calma, se acha que está ruim espere a turma que vem depois dessa".
Lula, que conviveu com o velho político nos seus tempos gloriosos, precisa também refletir agora sobre a verdade que a história embute, tendo acontecido ou não o diálogo. O próximo Congresso, voltando aos dias atuais, ameaça vir ainda mais pior do que este atual em termos de qualidade na representação, significando que dirigir o Brasil poderá ser uma tarefa ainda mais desafiadora na perspectiva do mandato que começa em 1º de janeiro de 2027.
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desânimo agora pode ser perigoso para alguém, como o atual presidente, que
segue sinalizando vontade de buscar reeleição em 2026.
Publicado
originalmente no portal O Povo +
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