23 de julho de 2025

As contradições do clã Bolsonaro, por Érico Firmo

As movimentações dos Bolsonaro depois das denúncias em investigação são bastante sérias (Foto: Reprodução/Facebook)

As medidas decretadas por Alexandre de Moraes contra Jair Bolsonaro (PL) são implacáveis, certamente. Respeitáveis juristas consideram haver exagero, mas muitos concordam que as cautelares foram a maneira encontrada para não haver a prisão do ex-presidente, com a comoção que causaria.

O senador Sergio Moro (União Brasil), responsável, na época como juiz, pela condenação que acabaria levando Lula à prisão, enfatizou que não determinou restrições semelhantes contra o novamente presidente. Porém, tampouco houve ações de Estados estrangeiros contra o Brasil por articulação petista.

As medidas são extremas e acho difícil dizer se eram necessárias. O que me parece evidente é que não há dúvidas sobre uma movimentação internacional bastante explícita para atentar contra a economia brasileira, com o argumento de pressionar o Judiciário a inocentar um réu. Isso é também gravíssimo e alguns tratam como banalidade. Os simpatizantes falam como se nem crime fosse. É um descalabro e exigiria ação de fato contundente.

Importante notar, para alguém que é réu e alvo de medidas cautelares, o quanto há de contradições e idas e vindas no discurso dos Bolsonaro.

Em nota publicada em 13 de julho, o ex-presidente disse: “O tempo urge, as sanções entram em vigor no dia 1° de agosto. A solução está nas mãos das autoridades brasileiras. Em havendo harmonia e independência entre os Poderes nasce o perdão entre irmãos e, com a anistia, também a paz para a economia”. Na mesma carta, ele dizia: “(...) tem muito mais, ou quase tudo, a ver com valores e liberdade, do que com economia”.

No fim da mesma semana, porém, Bolsonaro foi alvo de ação da Polícia Federal. De tornozeleira eletrônica, ele já mudou a conversa: “O que incomodou o governo americano, e muito, foi, por ocasião do Brics, o Lula falar em um novo padrão monetário, quer o dólar fora das negociações do Brics, entre outras coisas que ele fez”.

Ah, é? Agora já é a economia? Dá para acreditar em Jair Bolsonaro? Qual Jair Bolsonaro? O que falou no começo da semana ou o que disse coisa completamente diferente no fim da mesma semana? E tem mais: então, ele estava usando uma situação para se favorecer no processo judicial, acenando com um acordo com os Estados Unidos em troca da anistia, mas sem isso estar acertado com o governo Trump? Muito bonito para a cara dele.

Mas a coisa ficou melhor. Na segunda-feira desta semana, 21, ele disse em entrevista: “Isso é lá do governo Trump. Não tem nada a ver com a gente. Querem colar na gente os 50%. Mentira”. Ora, se foi mentira, ele e o filho participaram. Olha só as redes sociais de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), as antecipações e comemorações.

Ocorre que, na própria segunda-feira, Eduardo participou de um podcast chamado Inteligência Limitada e, ao lado do influenciador Paulo Figueiredo, disse que o governo Trump informou antecipadamente a eles sobre as taxas que seriam impostas ao Brasil. Eles disseram que, no primeiro momento, achavam que apenas Alexandre de Moraes deveria ser o alvo, mas agora concordam integralmente com a tributação contra o País.

Ora, então parece que a comunicação entre pai e filho, impedida pelo STF, já não andava bem. O ex-presidente disse que a taxa não tinha a ver “com a gente”. E o filho falou que já sabia antecipadamente de informação tão delicada.

As movimentações dos Bolsonaro depois das denúncias em investigação são bastante sérias. As consequências atingem o Brasil todo. As manifestações públicas são contraditórias e causam confusão. Quão duro é necessário ser para lidar com isso?

Quem ganhou?

Vale lembrar que, também na conturbada segunda-feira, Moraes determinou abertura de investigação sobre operações de compra e venda de dólar no dia em que foi anunciado o aumento de tarifa. Os dois países perdem, mas houve gente que ganhou bilhões.

Publicado originalmente no portal O Povo +

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