27 de fevereiro de 2021

Bolsonaro promove aglomerações e discursa pensando em 2022

Em Tianguá, Bolsonaro não só não evitou como também estimulou o desrespeito às normas sanitárias  (Foto: Julio Caesar)

Em visita ao Ceará um dia após o Brasil registrar recorde de mortos por Covid-19 num único dia, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) promoveu aglomerações ao abraçar apoiadores que o aguardavam no município de Tianguá, Interior do Estado. Na cidade serrana, o presidente assinou ordem de serviço para conclusão de duas obras, uma delas a de um viaduto que estava parada havia mais de dez anos, segundo ele. De lá, o chefe do Executivo seguiu de avião para Fortaleza e depois para Caucaia, na Região Metropolitana, onde também cumpriu agenda.

No primeiro ponto dessa rota do presidente em solo cearense, em Tianguá, o presidente quebrou todos os protocolos sanitários previstos nos decretos estaduais de enfrentamento à pandemia.

Ao chegar às 11 horas na Praça Régis Diniz, no Centro, Bolsonaro caminhou em direção às pessoas, aglomeradas atrás de gradis que as mantinham afastadas do palco principal onde o militar da reserva, ministros e deputados participariam da cerimônia.

Depois de percorrer todo o perímetro da praça, cumprimentar eleitores e causar empurra-empurra, o presidente se dirigiu à tenda principal. As barreiras que protegiam o logradouro, no entanto, foram abertas e o público, liberado para acompanhar o discurso do presidente de perto, sem qualquer distanciamento social.

No palanque montado sob uma ampla tenda, Bolsonaro rebateu críticas a sua visita, feitas pelo governador Camilo Santana (PT) um dia antes – o petista considerou a passagem como um “grave equívoco” por se dar em meio a um aumento de casos de Covid.

Sem citar Camilo, o presidente se referiu a gestores estaduais que “estão na contramão daquilo que seu povo quer” e desafiou seus adversários a irem para “o meio do povo”.

“Vão para o meio do povo, mesmo depois das eleições. Porque durante as eleições é muito fácil, quero ver é depois”, provocou.

“Faço (visitas aos estados) com muito orgulho. Não reclamo das dificuldades”, continuou Bolsonaro. “Ataques aconteceram praticamente 24 horas por dia, mas entre esses que me atacam e vocês, vocês estão muito na frente.” Em seguida, acrescentou: “Não vão me fazer desistir, porque, afinal de contas, sou imbrochável”.

Cercado por uma comitiva que incluía parlamentares cearenses, entre eles os deputados federais Domingos Neto (PSD), Capitão Wagner (Pros) e Jaziel Pereira (PL) e o estadual André Fernandes (PSL), Bolsonaro lembrou ainda que sua família tem “sangue cearense”.

Também ressaltou a série de eventos que têm realizado por regiões do país onde sua popularidade é baixa: “Confesso que, quando venho para o Nordeste, me sinto fortalecido e feliz, saudado pelo povo tão sincero, leal e patriota”.

Ao público, prometeu: “Tenho certeza de que, quando deixar meu governo, vou entregar o Brasil, apesar da pandemia, muito melhor do que aquele que recebi em janeiro de 2019”.

À reportagem, Domingos Neto justificou a agenda do presidente mesmo com quadro de agravamento da pandemia no Estado. Questionado sobre as críticas de Camilo a Bolsonaro, o deputado se esquivou.

“Não queria avaliar as questões políticas locais porque o ambiente para avaliar política vai ser na época da eleição. Nós estamos hoje dando ordem de serviço de três inacabadas no Estado do Ceará”, devolveu.

Antes do presidente, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, fez discurso mais político. Ao comentar a assinatura da ordem de serviço, Freitas, que é cotado como vice de Bolsonaro em 2022, assegurou que o Planalto vai “avançar com todas as obras que estavam paradas”.

E complementou: “A travessia urbana de Tianguá traz a memória daquilo que tem de pior. Traz a memória da corrupção. Foi a roubalheira que paralisou essa obra. Isso acabou”.

Ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni retrucou críticas do governador Camilo Santana (PT) ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Pelas redes sociais um dia antes da visita de Bolsonaro ao Ceará, o petista considerou a agenda como um "grave equívoco", por se realizar em momento de explosão de casos de Covid no Ceará e de recorde de mortos no Brasil.

Em resposta, Lorenzoni, que integrou a comitiva de Bolsonaro, declarou: "O presidente vem para fazer o ato e voluntariamente as pessoas estão presentes. Elas vêm fazer o quê? Expressar o seu carinho por ele que é amado pela população brasileira. Talvez o problema do governador é que ele não é amado pela população do Ceará".

Durante evento ontem em Tianguá, no Interior, primeiro ponto da parada de Bolsonaro em terra cearense, o governador do Estado chegou a ser vaiado por apoiadores do presidente.

Para o ministro, a ida do chefe do Planalto ao Ceará foi importante para dar continuidade a "obras de governos anteriores que se serviam do povo brasileiro, trabalhavam com corrupção e falsidade", referindo-se a ex-presidentes filiados ao PT.

E voltou a se dirigir a Camilo: "Nunca se preocupou de, com o governo que ele apoiava (do PT), resolver os problemas da comunidade?".

O auxiliar palaciano também negou que houvesse desrespeito aos protocolos sanitários durante a visita - ele mesmo não usava máscara enquanto acompanhava o presidente. Segundo o ministro, os aliados foram "voluntariamente" ao encontro do presidente na praça da cidade e que Bolsonaro apenas os cumprimentou.

No local, a comitiva presidencial promoveu aglomerações e estimulou que os presentes se aglomerassem no entorno do palco principal. 

Camilo rebate Bolsonaro em recado sobre os que "debocham da ciência"

O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), devolveu na noite dessa sexta-feira, 26, provocações que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez a governadores na passagem por Tianguá, na Serra da Ibiapaba.

Bolsonaro "convidou" os chefes de Executivo a "testarem" a popularidade saindo às ruas, ao encontro do povo, prática que tem pautado a conduta negacionista que lhe acompanha desde o início da pandemia.

"Aqueles que debocham da ciência, ignoram a luta dos profissionais de saúde para salvar vidas, e, principalmente, desrespeitam a dor das milhares de famílias vítimas da Covid, receberão o justo julgamento. Continuaremos firmes, combatendo o negacionismo, e lutando sempre pela vida", reagiu o petista nas redes, sem citar o presidente abertamente.

Tanto no município serrano como em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), Bolsonaro dispensou uso de máscara e não poupou cumprimentos a apoiadores, estes aglomerados para acompanhar a passagem da comitiva presidencial.

"O povo não quer mais ficar dentro de casa, o povo quer trabalhar, esses que fecham tudo e destroem empregos, estão na contramão daquilo que seu povo quer", disse o presidente em Tianguá, após ter citado os "chefes de Executivo". Ele ainda se dirigiu ao PT, num modo de antecipar a disputa à reeleição do próximo ano.

O petista, por sua vez, usou a sexta-feira para abrir leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Hospital Leonardo da Vinci, no bairro Aldeota, em Fortaleza. Segundo postou nas redes sociais, são mais 20 leitos para reforçar atendimento aos pacientes infectados com Covid-19.

Ao contrário dos eventos dos quais Bolsonaro participou, não foi presença de pessoas durante a inauguração das UTIs. O petista afirmou que outra ala, com iguais 20 leitos de UTI, será entregue nos próximos dias.

"Enquanto isso, continuamos ampliando nossa rede de assistência, devendo superar os 3 mil leitos de atendimento Covid, com mais de mil UTIs", disse o chefe do Executivo estadual, que ao longo do dia ainda anunciaria endurecimento de decreto com medidas de combate ao vírus.

E adicionou, chamando atenção das pessoas: "O momento sanitário é muito grave e exige de todos nós esforço e responsabilidade para superarmos essa crise."

Até 19 horas de sexta-feira, o Ceará contabilizava 421.763 casos confirmados de Covid-19, com total de 11.227 mortes e 311.209 pessoas recuperadas. Há uma verdadeira corrida pela vacina entre os estados. Perante a demora do Governo Federal na aquisição de imunizantes, governadores tentam negociar diretamente com biofarmacêuticas.

Camilo decretou nessa sexta-feira novas medidas ainda mais restritivas para combater a disseminação do vírus. Entre elas, a antecipação do horário do toque de recolher e do fechamento do comércio.

O Brasil já superou a marca dos 250 mil mortos pelo vírus. De total 9,1 milhões de habitantes do Ceará, 281 mil receberam a primeira dose, 85,8 mil receberam a segunda, num total de 366,8 mil doses aplicadas. Dados epidemiológicos e de vacinação foram extraídos da plataforma Integrasus, da Secretaria de Saúde do Ceará.

Há pelo menos dois dias é pública a tentativa do Palácio da Abolição de comprar vacinas diretamente de laboratórios. Existem conversas abertas com alguns deles neste sentido, de modo a evitar a intermediação do ministro Eduardo Pazuello (Saúde).

Durante a passagem pelo Ceará, o presidente não mencionou o recorde de mortes atingido na quinta-feira (1.582 óbitos), tampouco fez qualquer gesto de solidariedade às vítimas da pandemia.

Parlamentares cearenses pegaram "carona" no avião da comitiva presidencial que veio de Brasília ao Ceará nesta sexta-feira, 26. Ao lado de Jair Bolsonaro (sem partido) estiveram aliados locais como o deputado estadual André Fernandes (Republicanos) e os deputados federais Capitão Wagner (Pros), Dr. Jaziel (PL), Domingos Neto (PSD) e AJ Albuquerque (PP).

O presidente vive fase de cumplicidade com o Centrão da Câmara dos Deputados, grupo do qual Neto, Albuquerque e Jaziel fazem parte. Curiosamente, à exceção de Wagner, todos os federais que estiveram no avião são aliados do governador Camilo Santana (PT) na esfera estadual.

"A caminho de Tianguá, juntamente com o nosso Presidente Jair Messias Bolsonaro e alguns colegas. Nosso Presidente será bem recepcionado", escreveu o deputado Dr. Jaziel nas redes sociais.

Domingos Neto celebrou a assinatura da ordem de serviço para início das três obras federais: Travessia de Tianguá na BR 222, a Travessia de Frios e Umirim e o viaduto do Horizonte. "Na condição de relator do Orçamento, aloquei os recursos para que o Dnit pudesse tocar as obras", publicou o parlamentar.

Neto endossou discurso de Bolsonaro sobre a parceria Poderes Executivo e Legislativo. "Tudo sem intrigas", escreveu o cearense, "porque o que importa é o trabalho! Obrigado também DNIT, através do general Santos Filho e ministro Tarcísio Gomes."

Com informações portal O Povo Online

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