9 de abril de 2024

O PT a.C. contra o PT d.C, por Érico Firmo

Camilo e Elmano com Evandro Leitão no ato de filiação ao PT (Foto: Aurélio Alves)

Há dois PTs em confronto na disputa interna pela candidatura à Prefeitura de Fortaleza. A maioria obtida por Evandro Leitão na eleição de delegados é a vitória do PT d.C. O PT depois de Camilo Santana ter sido governador do Ceará. O estilo sereno de evitar conflito, conciliador ao limite, de fala mansa. A camisa branca de botão, a manga dobrada. É o perfil que Camilo inaugurou na primeira experiência do PT no governo estadual. Elmano de Freitas é a réplica disso, da vestimenta à postura. Evandro também.

Luizianne Lins é a expressão mais destacada do PT a.C. O que a legenda era antes da ascensão de Camilo. Ou, mais especificamente, antes de 2022, quando ele assumiu a liderança da articulação política do grupo. O estilo camilista e a formação de um grupo em torno dele já vinha de algum tempo. Mas, até ali, o senador Cid Gomes (PSB) tocava a política e Camilo governava o Estado. No começo de 2022, o hoje ministro mergulhou nas articulações, inclusive no PT. E as coisas mudaram de vez.

Os dois PTs dividiram o mesmo espaço na votação de domingo da forma talvez mais intensa até hoje. Houve estranhamentos. Não que haja blocos monolíticos. Até porque um dos expoentes do PT d.C., o deputado De Assis Diniz, tem décadas de PT, dos primeiros anos, e viveu praticamente todas as fases. E sabe fazer a confrontação quando necessário.

O estilo Evandro causa estranheza na militância luizianista, mais tradicional. Na sede da Avenida da Universidade, ele pingava de suor com o calor do ambiente lotado. Os aliados, por sua vez, puxaram palavra de ordem tantas vezes usada para Luizianne: “É pra lutar, é pra vencer, é o Evandro candidato do PT”, com adequação à métrica para substituir “Luizianne” por “Evandro”.

O deputado busca mostrar costume e não se sai mal. Parece se divertir, inclusive. Nas redes sociais, eleitores do PT tradicional reagem ao que consideram desvirtuamento do partido.

A questão é que, com esse modelo, o PT se tornou vitorioso pela primeira vez no Ceará. Com o estilo e o apoio do então governador Cid Gomes, que escolheu Camilo em 2014 quando nem o partido falava em ter candidato. Mas, principalmente, foi com esse estilo que Camilo se consolidou, foi reeleito e emplacou Elmano. Até então, a sigla acumulava derrotas.

Mais que isso. Exceção feita a 2002, quando José Airton por muito pouco não venceu, o PT em roupagens tradicionais nunca passou nem perto de vencer eleição estadual. Salvo no ano já mencionado, o partido nunca tinha conseguido nem segunda colocação em disputa pelo Governo do Ceará. Por isso, uma vez no poder estadual, Camilo começou a arquitetar uma nova ordem petista. Introduziu estilo diferente. É natural. E, pelo Interior, o choque não foi tanto.

Todavia, se o PT nunca havia sido vencedor no Estado, em Fortaleza possui histórico de marcantes vitórias, sempre com mulheres. São esses dois paradigmas que se confrontam para decidir o futuro petista na Capital.

Polarização dentro do PT

Tal qual na política nacional, a disputa no PT Fortaleza ficou polarizada entre Evandro e Luizianne. Os demais nomes apostavam na hipótese de serem terceira via. Mesmo quem já havia sido bem-sucedido em outras disputas internas, como Guilherme Sampaio, acabou com desempenho com pouca capacidade de influenciar a decisão.

Divisões

Luizianne reclamou de “influências externas que invadiram a integridade dos processos internos do PT”. A candidatura apoiada por Camilo e Lula, ficou evidenciado em 2022 na eleição de Elmano, é capaz de se tornar a força a ser batida. Mas, para os adversários, o clima interno petista é motivo de esperança.

Publicado originalmente no portal O Povo +

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