1 de abril de 2024

O 31 de março de protesto na rua e silêncio de Lula

Familiares e militantes participaram da 4ª Caminhada do Silêncio, que se concentrou em frente à sede do antigo Doi-Codi, em São Paulo (Foto: Miguel Schincariol)

O 31 de março dos 60 anos do golpe militar foi marcado por protestos contra o regime de exceção em várias capitais, por manifestações de ataques à ditadura — como as da ex-presidente Dilma Rousseff e de ministros do governo — por discursos de familiares e vítimas em frente a centros de tortura, mas também pelo silêncio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vetou atos oficiais críticos ao golpe. A mobilização foi apenas o início de uma série de eventos previstos para lembrar os anos de chumbo, que vão seguir durante esta semana.

Lula passou este domingo sem qualquer publicação nas suas redes sociais sobre o assunto. O presidente entende que atos oficiais de seu governo poderiam melindrar as Forças Armadas, segmento ao qual tenta se aproximar.

Dilma lembrou daqueles companheiros de luta contra os militares, que foram mortos e desaparecidos. Ex-ministro da Justiça de Lula, Flávio Dino deu seu voto no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o poder moderador militar e classificou a ditadura como "abominável".

O mais atingido pelo veto do presidente a manifestação oficial sobre o tema, o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, que cancelou atos, não deixou de se pronunciar nas redes.

Pelo menos um dos integrantes do governo, o ex-deputado Nilmário Miranda — que é assessor especial da Defesa da Democracia, Memória e Verdade —, participou de um ato público, em São Paulo e discursou. Ele compareceu à 4ª Caminhada do Silêncio, que se concentrou em frente à sede do antigo Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informações — Centro de Operações de Defesa Interna), onde funcionou um local de tortura.

Nilmário tocou em algo sensível ao Palácio do Planalto e disse que "a luta pelos mortos e desaparecidos é política de Estado, e não está submetida a nenhum limite". 

Lula resiste em assinar o decreto que reinstala a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, extinta no apagar das luzes do governo de Jair Bolsonaro.

Todo-poderoso no primeiro mandato do petista (2003 a 2006), o ex-ministro José Dirceu também esteve no protesto em São Paulo. Afirmou que ele e outros companheiros ali presentes têm um "compromisso irrenunciável" na luta pela memória dos companheiros que caíram lutando contra a ditadura.

"Somos o único país em que militares não responderam pelos crimes cometidos durante a ditadura. E ainda tivemos núcleos das Forças Armadas que sustentaram o governo de Jair Bolsonaro, que foi um governo civil-militar", frisou Dirceu.

Autoras da ação judicial que reconheceu e declarou o coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra como torturador, as irmãs Amelinha e Crimeia Telles, alvos da violência do militar, estiveram no ato. As duas ficaram presas naquele Doi-Codi.

"Aqui, funcionou uma delegacia de polícia de fachada. Aqui, fomos estupradas, violentadas, torturadas. Assistimos a assassinatos comandados por Ustra", enfatizou Amelinha.

"Há 50 anos, eu estava sendo torturada aqui, nesse prédio. Felizmente, hoje estamos aqui, nos reunindo, mas ainda falta uma placa bem grande dizendo que neste local foram assassinados 54 brasileiros, sob o comando de Ustra, o carrasco do povo brasileiro", emendou Criméia.

Durante os anos em que tramitou a ação pedindo o reconhecimento de Brilhante Ustra como torturador, a defesa do militar sempre negou as acusações. Em vários documentos anexados ao processo, os advogados de Ustra argumentam que ele "nunca participou de sessões de tortura ou de qualquer atividade ilegal descrita pelos autores na inicial".

Com informações Correio Braziliense

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