24 de novembro de 2025

Sem consenso sobre fósseis no acordo final da COP30

A exclusão do plano para o fim dos fósseis decepcionou ambientalistas e parte das delegações (Foto: Ricardo Stuckert)

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) encerrou os trabalhos, após 13 dias, com um revés significativo para a agenda climática: o documento final deixa de fora a proposta de criar um roteiro global para eliminar, gradualmente, o uso de combustíveis fósseis, como petróleo e gás. O texto foi costurado após uma madrugada inteira de negociações intensas — e em meio a impasses.

Em discurso no final da plenária, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que o mundo avançou na discussão climática, "ainda que modestamente". Ela foi ovacionada pelos delegados de outros países e se emocionou ao fazer um paralelo com a Rio 92. Para ela, se os negociadores voltassem no tempo e se encontrassem com os líderes que participaram daquela reunião, ouviriam que os resultados estão aquém do esperado.

"Certamente nos diriam, antes de tudo, que sonhávamos com muito mais resultados, esperávamos que a virada ambiental seria mais rápida, a ciência seria suficiente para mover decisões, a urgência falaria mais alto do que qualquer outro interesse", refletiu.

Marina voltou a falar da necessidade da definição de roteiros para o afastamento de combustíveis fósseis e para o fim do desmatamento. Ambos objetivos ficaram de fora da decisão da Conferência das Partes, mas serão apresentados posteriormente pela presidência da conferência. "Em que pese ainda não ter sido possível o consenso para que esse fundamental chamado entrasse nas decisões desta COP30, tenho certeza de que o apoio que recebeu de muitas Partes e da sociedade fortalece o compromisso da atual Presidência de se dedicar para elaborar dois mapas do caminho", disse.

A exclusão do plano para o fim dos fósseis decepcionou ambientalistas e parte das delegações que pressionavam por avanços mais contundentes na transição energética. Cerca de 80 países apoiavam a construção do chamado "mapa do caminho", proposta que teve apoio público do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do secretário-geral da ONU, António Guterres. No entanto, nações como Arábia Saudita e Rússia lideraram a resistência para barrar o item.

Para organizações ambientais, o resultado está aquém da urgência climática. A diretora-executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, criticou a falta de ambição: "Não traz nem mapa e nem caminho para a transição para longe dos combustíveis fósseis e para o fim do desmatamento até 2030." Ela também apontou que os recursos necessários para adaptação continuam indefinidos.

Mesmo ocorrendo no coração da floresta amazônica, a COP não consolidou um plano robusto contra o desmatamento. O texto reconhece a importância de reverter a perda florestal até 2030, mas não define um roteiro, demanda defendida por cerca de 90 países. A menção ao tema, embora simbólica, ficou abaixo das expectativas de quem esperava decisões mais fortes em função do local do encontro.

Em sua fala, Marina celebrou, porém, alguns avanços obtidos na COP30, como o reconhecimento do papel dos povos indígenas. "Nos instrumentos globais para adaptação, também tivemos progresso. Embora haja desafios, pela primeira vez temos um rol de indicadores globais de adaptação que certamente precisam ser aperfeiçoados e ampliados." 

Publicado originalmente no Correio Braziliense

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