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O presidente da comissão, Marcos Rogério, cortou várias vezes o microfone da ministra, em meio a uma discussão entre os dois (Foto: Geraldo Magela) |
Convidada pela comissão para tratar de unidades de conservação na Margem Equatorial, Marina reagiu imediatamente ao senador: "Se o senhor não pedir desculpa, eu vou me retirar". Ante a recusa do parlamentar, ela deixou a sala.
Mariana explicou, em entrevista após o episódio, que não poderia permanecer após ser alvo de fala desrespeitosa. "Eu fui convidada por ser ministra e, como convidada, dei a chance de que ele pedisse desculpas, e, aí, eu permaneceria na reunião. Como pessoas que não respeitam a democracia, não respeitam as mulheres, não respeitam os indígenas, não respeitam o povo preto, não são afeitas a pedir desculpas, ele disse que não ia se desculpar, e obviamente que eu me retirei da audiência", destacou.
Plínio Valério é o mesmo senador que falou, em março deste ano, em enforcar Marina. Durante evento no Amazonas, ele contou que a ministra esteve na CPI das ONGs. "Imagina vocês o que é ficar com a Marina 6 horas e 10 minutos sem ter vontade de enforcá-la", disparou, na ocasião.
A ministra foi alvo de outros senadores também. O presidente da comissão, Marcos Rogério (PL-RO), cortou várias vezes o microfone dela, em meio a uma discussão entre os dois. Marina reagiu à tentativa de cerceamento: "O senhor quer que eu seja uma mulher submissão; eu não sou". O senador respondeu: "Me respeite, ministra. Se ponha no seu lugar". Os senadores Eliziane Gama (PSD-MA) e Rogério Carvalho (PT-SE) acusaram Marcos Rogério de misoginia. Foram os únicos da base aliada que saíram em defesa de Marina na sessão.
A discussão com Marcos Rogério ocorreu após Marina contestar a condução da sessão, pelo presidente do colegiado, depois de se dizer ofendida com declarações do senador Omar Aziz (PSD-AM). O parlamentar do Amazonas culpou a convidada pela aprovação, na Casa, do projeito de lei que afrouxa as regras do licenciamento ambiental. O texto é chamado por ambientalistas de PL da Devastação.
"A senhora também terá responsabilidade do que nós estamos aprovando aqui. Pode ter certeza. Pela intransigência, a falta de vontade de dialogar, de negociar, de agilizar, mas nós iremos agilizar", enfatizou Aziz. Marina rebateu: "É não querer honrar os votos de quem os elegeu, porque, quem tem manato de senador, de deputado, vota pelas convicções que tem, não porque alguém o obrigou a fazer alguma coisa".
Aziz também defendeu a pavimentação da rodovia BR-319 porque, segundo sustentou, é essencial para as populações locais. Marina respondeu: "Nós estamos dizendo que, para fazer, precisa da avaliação ambiental estratégica. (...) Eu digo para Vossa Excelência que tem uma mistura de técnica e ética, porque eu não faço meu trabalho pensando nas próximas eleições. Faço com base na lei e nas futuras gerações", destacou.
O parlamentar rebateu: "A senhora não é mais ética do que ninguém aqui. Não venha mensurar ética aqui, porque a senhora não tem esse direito. A senhora está atrapalhando o desenvolvimento do país. Tem mais de cinco mil obras paradas por causa dessa conversinha 'governança', bá-bá,bá'."
Na saída da sessão, Marina frisou: "Eles pensam que estão agredindo uma pessoa, mas estão agredindo um povo, o futuro de um povo." Ela criticou a tentativa de retroceder nas leis ambientais, afirmando que "o licenciamento ambiental é uma conquista da sociedade brasileira" e que a atual proposta ameaça a própria agenda ambiental e econômica do país.
Nas redes sociais, Marcos Rogério afirmou: "Lamento que a ministra tenha perdido o equilíbrio esperado de um agente público ao comparecer a uma comissão do Senado. O contraditório é parte fundamental da democracia. As divergências políticas não podem ultrapassar o limite do respeito institucional".
Encontro
com Motta
Horas depois do tumulto, Marina reuniu-se com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para tratar do novo relatório sobre o licenciamento ambiental, aprovado no Senado. A ministra solicitou que a Câmara garanta mais tempo para uma análise detalhada do texto e criticou o que chamou de "esvaziamento" de órgãos como o Ibama.
"Esse relatório apresentado no Senado não foi debatido. Foi uma peça praticamente entregue no dia da votação. Estamos pedindo que haja o tempo necessário de democracia para discutir uma matéria que amputa décadas de construção do licenciamento ambiental brasileiro", afirmou.
Marina apontou pontos críticos do relatório, como a redução do papel de órgãos colegiados, o enfraquecimento da consulta a povos indígenas e a introdução do licenciamento por adesão, que, segundo ela, elimina a análise técnica de impactos indiretos relevantes.
Segundo
Marina, Motta foi "acolhedor" e se comprometeu a consultar os líderes
partidários antes de qualquer decisão. "Ele disse que vai analisar com
responsabilidade, ouvir todos os setores", relatou a ministra.
Publicado
originalmente no Correio Braziliense
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