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A ministra Márcia propôs ainda a criação de uma frente unificada que articule ministras (Foto: Alícia Bernardes) |
A posse da socióloga Márcia Lopes como nova ministra das Mulheres, nesta quarta-feira, transformou-se em um contundente ato político em defesa da dos direitos das mulheres e da democracia, um dia depois de a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ser alvo de ataques misóginos de senadores durante audiência no Congresso.
Em um discurso marcado pela emoção e pela firmeza, Márcia propôs a criação de uma frente unificada que articule ministras, parlamentares e lideranças sociais para combater a violência política de gênero e fortalecer políticas públicas voltadas às mulheres.
O caso de Marina — que não participou da posse — repercutiu de forma direta no evento. Márcia condenou os ataques à colega de governo e defendeu uma reação coordenada e institucional contra a violência política de gênero. "Estamos estarrecidas. Décadas de luta das mulheres por respeito não podem ser ignoradas. O que vimos com a Marina é inadmissível", enfatizou.
Ela disse ter proposto à ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, uma reunião oficial entre todas as titulares de pastas para tratar do tema e articular um posicionamento coletivo diante de novos episódios de violência. "Queremos mais do que notas isoladas, precisamos de uma ação institucional forte", ressaltou.
Em entrevista, Márcia destacou a necessidade de preparar lideranças e militantes femininas para reagirem com rapidez a agressões políticas. "Se eu estivesse lá, eu teria agido. É isso que precisamos: coragem, mobilização e resposta rápida", pontuou.
Ela também informou que o Ministério das Mulheres está em articulação com a Secretaria da Mulher da Câmara, atualmente comandada pela deputada Jack Rocha (PT-ES), para definir mecanismos de proteção e estratégias de enfrentamento em eventos públicos.
A nova ministra, que já comandou o Ministério do Desenvolvimento Social, assume a pasta no lugar de Cida Gonçalves, responsável pela ampliação das Casas da Mulher Brasileira e pela aprovação da Lei da Igualdade Salarial.
O discurso de despedida de Cida Gonçalves também foi marcado pela emoção e pelo repúdio aos ataques à ministra do Meio Ambiente. "Somos poucas na política e ainda vítimas constantes de ataques misóginos. Deixo aqui minha total solidariedade à Marina. Nosso trabalho sempre foi pautado pelo respeito à democracia e isso inclui respeitar as mulheres que a constroem todos os dias", declarou.
Em meio às manifestações de solidariedade a Marina, Márcia destacou o compromisso do governo federal com a ampliação da participação feminina na política, com foco nas eleições municipais de 2026. "Queremos mais mulheres nas câmaras de vereadores, nas assembleias e nos governos estaduais. É hora de mobilizar o país inteiro pela equidade de gênero", concluiu.
Metas
Márcia afirmou que seu compromisso à frente da pasta será dar continuidade ao legado da antecessora, com foco na reconstrução de políticas públicas, no fortalecimento da participação social e no combate às desigualdades que afetam mulheres em todo o país.
"Vamos enfrentar as vozes que tentam desvalorizar as mulheres por serem beneficiárias de programas sociais. Precisamos que elas sejam reconhecidas como protagonistas deste país", declarou.
Ela anunciou a realização da 5ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, prevista para este ano, e encontros regionais para ampliar o debate sobre igualdade de gênero em todo o território nacional.
A cerimônia contou com a presença de diversas lideranças políticas e representantes de movimentos sociais. Gleisi Hoffmann, que representou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no evento, destacou a trajetória de Márcia e sua experiência na formulação de políticas sociais.
"É uma mulher com profundo conhecimento das desigualdades que atingem mães, avós, meninas e adolescentes. Tenho certeza de que saberá articular os esforços necessários para transformar essa realidade", afirmou.
Na sua fala de encerramento, Márcia frisou: "Um país que promove os direitos das mulheres, promove o seu próprio futuro".
Câmara
A Secretaria de Mulher da Câmara publicou nota de repúdio "à violência política de gênero e racial contra a ministra Marina Silva".
"O que ocorreu não foi apenas um desrespeito a uma ministra de Estado, foi um ataque brutal à democracia, à dignidade das mulheres e, em especial, à história de uma mulher negra que construiu sua trajetória com coragem, sabedoria e compromisso com o Brasil", destacou o texto.
Também
conforme a nota, "a sessão conduzida pelo senador Marcos Rogério tornou-se
palco de um espetáculo vergonhoso de impunidade e covardia". "Marina
Silva é símbolo da luta ambiental, da ética pública e da resistência das
mulheres brasileiras. Sua presença no governo e na história do Brasil é
patrimônio da nossa democracia. Atacá-la não é apenas ofender uma ministra — é
atentar contra todas nós."
Publicado
originalmente no Correio Braziliense
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no Nordeste
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