20 de julho de 2016

"De como manipular estatística para favorecer um dado cenário" por Ivan Valente

É sabido que a grande imprensa interpreta e apresenta os fatos de acordo com as suas preferências políticas. Isso seria menos grave se, em primeiro lugar, fosse mais sincero e, em segundo, se outras opiniões também circulassem. O que não é o caso, tendo em vista a concentração de informação nos monopólios dos meios de comunicação.

No último domingo, foi divulgada uma pesquisa Datafolha que avalia a expectativa dos brasileiros em relação à economia e a compreensão do governo Temer. A maneira como foi apresentado o resultado conduz o leitor a uma compreensão equivocada dos números e do contexto político. 

O gráfico mais comemorado pela edição indica que a expectativa do brasileiro em relação à economia apresentou um relativo aumento diante de um cenário de terra arrasada. Atualmente 38% acreditam que a economia tende a melhorar, contra os 28% de fevereiro. Números fracos.

Vejamos que a situação é mais grave. De acordo com o próprio Datafolha, os que acham que o Brasil é um bom lugar para se viver caiu de 61% para 53%. Ao passo que o “orgulho de ser brasileiro” foi de 71% para 67% e o índice de vergonha em relação ao país subiu de 26% para 30%.

Outros indicadores apontam que a maioria está pessimista. 60% acreditam que a inflação subirá. Somente 15% pensam que cairá. Aqueles que entendem que a inflação ficará como está são 20%. Quanto ao desemprego, 60% entendem que a carência será maior. 20% pensam que diminuirá e para 18% continuará como está. Os números dizem por si só.

Quando observamos a avaliação do governo interino, a situação é lamentável. 31% consideram ruim ou péssimo. 42%, regular. Minguados 14% julgam bom ou ótimo. Para o início de uma “nova fase” com o apoio das classes dominantes e dos veículos de comunicação, tais índices impressionam de tão baixos.

Algo que valeria maior destaque: 33% dos entrevistados simplesmente não sabem quem é o atual presidente da República. Visto os escândalos de corrupção que assolam o governo, as medidas impopulares que estão sendo prometidas e a incrível falta de carisma de Temer, se conhecessem de fato o presidente interino, podemos supor que seus índices de popularidade seriam ainda piores.

A “cereja do bolo” da pesquisa, todavia, é apresentada com destaque: 50% defende que Temer deve continuar na presidência. Esse número legitimaria o afastamento de Dilma. Considerando que 33% não sabem que Temer é presidente, o correto seria destacar que dos entrevistados que sabem que Michel Temer é o atual presidente, 50% apoiam a sua permanência. Algo completamente diferente do que indicar que 50% dos brasileiros apoiam a sua permanência.

O governo legítimo custa a aumentar o seu apoio social, a despeito do esforço colossal da mídia e dos donos do poder. A manipulação não suplanta a realidade. Estamos atentos. Nosso sempre presente senso crítico deve estar ainda mais antenado nos dias atuais.

Publicado originalmente no portal Carta Capital

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