23 de outubro de 2021

Brasil perdeu 15% das áreas de água doce

 

O Ceará já sofre com as mudanças climáticas provocadas
pelo aquecimento global (Foto: Fco Fontenele)

O baixo nível atual dos reservatórios que mergulhou o Brasil numa crise hídrica não parece ser um fato isolado. Em todo o país, a água doce disponível para consumo vem desaparecendo da superfície num ritmo assustador: 15,7% dela foram perdidos nos últimos 35 anos. Foram 31 mil km² de área inundada que evaporaram definitivamente nesse período - como se todo o Sistema Cantareira, que abastece a região metropolitana de São Paulo, tivesse sido esvaziado 16 vezes.

O cálculo faz parte de uma iniciativa inédita do MapBiomas, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, e disponibilizado numa plataforma online gratuita desde agosto. A análise da série histórica foi feita por meio de imagens de satélites obtidas a partir de 1985, ano em que começaram a ser registradas. A tendência de queda de água superficial foi registrada em todos os seis biomas do país.

O mais afetado foi o Pantanal, a maior planície inundável do planeta. De 1985 a 2020, o decréscimo foi de 68%. "São dados alarmantes. É um sinal de que o Pantanal está secando como um todo, que ele está morrendo. Uma área úmida sem água perde seu principal atributo ecológico", avalia Cássio Bernadino, coordenador de projetos do WWF-Brasil que participou do levantamento.

A região com o rio mais volumoso do planeta, a Amazônia, também não passou incólume pelo fenômeno. No período analisado, a redução observada foi de 10,4%. "Isso é uma enormidade para a maior bacia hidrográfica do mundo", ressalta Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas. A água doce que escorre para o oceano não tem voltado para abastecer o continente em forma de chuvas.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alerta para consequências graves do aquecimento global. Os cientistas afirmam, em relatório divulgado em agosto, que é estimado que as atividades humanas tenham causado o aquecimento de 1°C do mundo desde os níveis de temperatura globais pré-industriais, com variação de 0,8°C a 1,2°C. Segundo o documento, esse acréscimo na temperatura pode chegar a 1,5°C entre 2030 e 2052, caso continue no ritmo atual. O estudo aponta ainda o Nordeste do Brasil como região propensa a sofrer com secas severas caso o aquecimento não seja freado.

Para o cientista do clima Alexandre Araújo, professor titular da Universidade Estadual do Ceará (Uece), os efeitos do aquecimento global já podem ser sentidos no Estado. "A gente teve uma seca prolongada de 2012 a 2016 e teve uma amostra do que isso pode representar. Só que a repetição desse processo é muito grave. Na época a gente estava com o Castanhão cheio. E agora, como faz?", questiona. Ele explica que relatórios do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas já indicam a redução da vazão de afluentes e o agravamento de secas com o aumento da temperatura média do planeta.

Alexandre lembra ainda que a temperatura média do Ceará já aumentou 2,09°C, com variação de mais ou menos 0,35°C, entre os anos de 1961 e 2020. O dado é de um estudo da organização sem fins lucrativos Berkeley Earth. Esse estudo mostra ainda que houve aumento da temperatura média em todos os estados do Nordeste nos últimos 60 anos.

Além das secas em regiões áridas e semiáridas e aumento da temperatura de regiões terrestres e oceânicas, o relatório do IPCC ainda alerta para aumento de extremos de calor em regiões habitadas e ocorrência de chuvas intensas.

O professor, que já foi gerente do Departamento de Meteorologia e Oceanografia da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), afirma que, enquanto partes do Ceará podem sofrer com o agravamento das secas, outros locais ficam propensos a registrar alagamentos mais severos também.

"A questão é que a atmosfera mais quente tanto agrava secas quanto concentra vapor d'água. E então as chuvas caem de forma mais centrada, em vez de se distribuir. Então, a gente teria muito provavelmente agravamento nas condições de seca do semiárido, e a região costeira, litorânea, sofrendo com chuvas severas, alagamentos mais graves", projeta.

Com informações portal O Povo Online

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