15 de dezembro de 2019

É da ordem natural que a notícia venha depois do fato por Guálter George


Os políticos costumam dizer, até com alguma razão em casos determinados, que os jornalistas é que são os maiores interessados na história de antecipação de processo eleitoral, de movimentação de bastidores sobre uma campanha que ainda não existe oficialmente etc. 

Em resumo, alega-se que há muito factoide no que se informa ao público acerca de conversas que acontecem a essa altura, por exemplo, que miram acordos a serem validados apenas em meados do próximo ano. Pode ser, mas, na real, o que tem acontecido no caso de Fortaleza e do Ceará, mais recentemente, deixa muito evidentes as marcas de 2020, apesar dos desmentidos e mesmo que se tivesse a maior boa vontade para concluir que uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Olhemos o movimento expressivo do senador Cid Gomes (PDT), peça decisiva em todo o jogo de disputas anunciado para o ano que vem. Poucos movimentos relacionados ao próximo processo eleitoral terão chances de ir adiante, ou o contrário, sem que passem por algum crivo dele, ainda a voz principal de uma ala importante da política cearense contemporânea e, inclusive, com influências que vão além dos limites do próprio partido ao qual pertence. 

Essa é a razão principal de sua decisão de dar um tempo de Brasília, entregar o mandato ao empresário Prisco Bezerra, não por coincidência irmão do prefeito Roberto Cláudio, e disponibilizar 24 horas do seu dia, até fins de abril, pelo menos, às conversas e articulações que têm como alvo as eleições. Sim, é 2020 sendo antecipado.

Claro que Fortaleza é uma das preocupações mais urgentes, inclusive pelo aspecto em que continua inexistindo o nome natural do grupo para ser lançado à disputa. Sem ele, as especulações transitam com desenvoltura e a opção Cid permanece frequentando as conversas, por mais que suas negativas sejam enfáticas e que nos sintamos obrigados a dar a elas uma dose maior de credibilidade do que aquela que daríamos, por exemplo, ao irmão Ciro Gomes. 

Um movimento que arranha a ideia que se tenta passar de que tudo está dentro dos conformes e que não haveria razão para qualquer mudança de ritmo no processo que levará ao nome do grupo na disputa, que se anuncia intensa, pela sucessão fortalezense.

Até pelo fato de em outros segmentos a coisa estar avançando a passos largos. Em relação ao Capitão Wagner (Pros) é chover no molhado apontar sua decisão, a cada dia mais clara, de não esperar as datas que o cronograma oficial oferece e, desde já, precipitar o ânimo da população quanto à próxima escolha de prefeito que terá que fazer. 

É evidente que isso precisa ser feito de maneira cuidadosa, sob pena de caracterizar campanha antecipada e, nesse aspecto, abrir brechas legais a questionamentos que poderiam mais atrasar os passos do que apressá-los, como seria intenção inicial.

Dos eventos políticos mais recentes, em dias ou horas, até, vale inserir na análise de um cenário de clima eleitoral antecipado a posse na sexta-feira à noite do vereador Guilherme Sampaio como presidente do PT de Fortaleza e, mais ainda, o seu discurso. A escolha dos alvos - Capitão Wagner, Roberto Cláudio e Cid Gomes - parece atender um roteiro preciso, foca em quem precisará estar na mira de um candidato de oposição à gestão municipal pedetista, colocado à esquerda dela. 

O tom é outro ponto que chama atenção, escalando-se para responder a Cid, expondo Wagner na sua relação mal resolvida com o governo Bolsonaro e atacando o prefeito por aspectos relacionados ao olhar que lança à periferia, que ele considera preterida em relação ao Aldeota e seus entornos.

Bom, com tudo isso acontecendo, só espero que os políticos não venham acusar os jornalistas de artificializarem o debate para lhe dar um tom eleitoral. É intrínseco a ele, pela forma como acontece nesse momento.

Publicado originalmente no portal O Povo Online



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