23 de agosto de 2020

O impacto dos assintomáticos no curso da pandemia

 

Estudos indicam que algumas pessoas sem sinais da doença têm uma alta carga viral (foto: Divulgação/Facebook)

Duas pesquisas publicadas nos últimos dias evidenciaram que a pandemia de Covid-19 tem peculiaridades que fazem os cientistas perderem o sono. Uma delas tem a ver com os indivíduos assintomáticos, ou seja, aqueles que estão infectados pelo novo coronavírus mas não desenvolvem sintomas.

O primeiro estudo é sul-coreano, foi publicado no Journal of the American Medical Association e diz que os assintomáticos carregam em seus corpos uma carga viral semelhante àquela encontrada nos que apresentam sinais da infecção, o que sugere que esse grupo tem um potencial igualmente importante de transmitir a doença. Ainda que outras pesquisas mundo afora já apontavam para essa direção, o estudo asiático é uma das primeiras investigações que trazem provas mais concretas da presença do vírus em grandes quantidades no nariz, garganta e pulmão daqueles que não apresentam sinais da doença.

A outra pesquisa recente é brasileira, desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com a Secretaria de Saúde de Betim, município da Região Metropolitana de Belo Horizonte, em um projeto que faz busca ativa para identificar a prevalência do coronavírus na população. O estudo indica que algumas pessoas sem sinais da doença têm uma alta carga viral (concentração de vírus no organismo), a ponto de surpreender os cientistas. Até o momento, não existe explicação para o achado, mas uma possibilidade é que essas pessoas tenham sido infectadas por uma linhagem do coronavírus mais contagiosa, ainda que o grupo da UFMG também considere o fato de que ter maior capacidade de contágio não implica em maior agressividade do vírus, já que há muitos pacientes graves de Covid-19 com baixa carga viral.

"A pesquisa é interessantíssima e mostra como a Covid-19 é uma doença que quebra paradigmas. Não se sabe ainda por que um indivíduo com carga viral alta tem um vírus que se replica sem causar nada nele. Normalmente, quando entra no organismo, um vírus usa a célula como se fosse um parasita e faz várias cópias dele. No caso da Covid-19, o doente pode apresentar febre e sintomas pulmonares, mas isso não acontece nos indivíduos assintomáticos. A resposta para que a pessoa não desenvolva a Covid-19 pode estar na genética", explica Vasco Ariston de Carvalho Azevedo, pesquisador da UFMG que está desenvolvendo um sistema inédito de diagnóstico da Covid-19 por meio de testagem da saliva e que será lançado em setembro com apoio do governo federal.

"A carga viral alta estava sempre associada ao aparecimento de sintomas de uma doença. Por exemplo: a pessoa que tem aids toma medicamentos para baixar a carga viral no organismo e dar um descanso ao sistema imune. Os que morriam tinham o sistema imune em falência por causa do esforço para tentar eliminar o vírus. Mas na Covid-19 o sujeito tem alta carga viral e permanece sem sintomas, e esse mecanismo ainda é um mistério. Atualmente se fala que a transmissão assintomática seja responsável por cerca de 60% da propagação do vírus, mas a cada hora nós, cientistas, temos que reavaliar paradigmas", completa.

Para o médico epidemiologista Antônio Silva Lima Neto, gerente da célula de vigilância epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a questão dos assintomáticos é uma pedra no sapato desde o início da pandemia. "As primeiras publicações científicas não consideravam as pessoas infectadas sem sintomas e os modelos matemáticos de projeção da pandemia também não. O resultado foram previsões não acuradas. Hoje ainda não temos muito bem definido no meio científico que os assintomáticos teriam carga viral tão alta quanto as das pessoas que apresentam sintomas - várias publicações importantes apontam que os primeiros têm carga viral 50% menor - mas o que se sabe com certeza é que os assintomáticos têm um papel essencial na pandemia porque são mantenedores da transmissão", destaca.

Estudo coreano

303 pacientes, com 22 a 36 anos tiveram amostras analisadas. 110 (36,3%) estavam assintomáticos quando deram entrada no local, mas 21 passaram a desenvolver sintomas da doença entre 13 e 20 dias após o início do isolamento. Os demais 89 permaneceram assintomáticos de 20 a 26 dias até testarem negativo;

Quase 34% dos pacientes assintomáticos apresentaram resultado negativo para o novo coronavírus após 14 dias. Essa porcentagem cresceu para 75% após 21 dias. Em comparação, quase 30% dos pacientes sintomáticos tiveram resultados negativos após 14 dias e pouco menos de 70% apresentaram resultados negativos após 21 dias;

Na conclusão do estudo, autores afirmam que pacientes que nunca chegam a desenvolver sintomas não diferem dos sintomáticos quanto à carga viral.

Com informações portal O Povo Online

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