30 de abril de 2022

Paranoia bolsonarista propaga o caos por Érico Firmo

 O bolsonarismo tem certeza de que tudo está armado para prejudicá-lo  (Foto: Rafael Carvalho)

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e muitos de seus apoiadores mais próximos são bastante desconfiados. Há suspeita que leva à dúvida, dúvida que leva à desconfiança, desconfiança que conduz à insegurança, o que os coloca naquilo que o psicanalista Valton Miranda descreveu como "motor estrutural paranoico na práxis política", ao tratar do tema no livro A paranoia do soberano (Vozes, 1999).

Isso leva a manifestações como o que se chama "mania de perseguição", e leva às teorias conspiratórias. Esse comportamento passa de forma central pela ideia de inimigo, sentir-se ameaçado. A reação se dá de forma agressiva. Escrito na virada do século, o livro de Valton faz uma descrição que se torna espantosa ao observar o bolsonarismo hoje.

O bolsonarismo tem certeza de que tudo está armado para prejudicá-lo. O Judiciário, a imprensa, as pesquisas eleitorais. Tudo é uma grande trama contra eles.

A "velha política" e o Centrão estavam nisso também, mas agora são aliados. Porém, a rigor, Bolsonaro só parece confiar mesmo nas Forças Armadas, de onde vem. Por isso quer que caiba a eles contar em paralelo os votos da eleição.

Bolsonaro não acredita no sistema político que o elegeu. Queria instituir voto impresso e afirmava que, sem ele, não haveria eleição. Hoje diz que não precisa mais de voto impresso, mas quer as Forças Armadas na apuração.

O presidente e seu entorno deixam claro uma coisa: não aceitarão resultado que não for a vitória. Ocorre que um fundamento da democracia é que os participantes de um processo de eleição reconheçam aquele mecanismo como legítimo para tomar a decisão. Não é aceitável participar com a condição de que aceita se for vencedor, mas não aceita se perder.

Desde 2018, os aliados do hoje presidente diziam que, se ele não vencesse, é porque teria havido fraude. Até outro dia ele falava que tinha sido vítima de fraude, mesmo tendo sido eleito. Disse que tinha provas e ia mostrar, nunca apresentou, depois reconheceu que não tinha. Democracia é coisa muito séria para ser aviltada dessa forma.

O prazo para aprovar mudanças legais no processo eleitoral terminou há mais de seis meses. Há ritos legislativos para promover alterações. A base governista tentou estabelecer o voto impresso, legitimamente, e não conseguiu. Sem alterações aprovadas, as eleições seguem a ocorrer como vinham sendo. O sistema que elegeu Bolsonaro, vários governadores que o apoiavam, os filhos dele.

Movido pela paranoia, Bolsonaro lança suspeitas sobre as instituições democráticas e tenta semear o caos. Desacredita o que existe sem ser capaz de construir algo para o lugar.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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