27 de julho de 2025

Governadores de direita se unem em críticas a Lula sobre tarifaço de Trump

Ronaldo Caiado, Ratinho Junior e Tarcisio de Freitas participaram do Festival Expert XP em São Paulo (Foto: Rosana Hessel)

Governadores da direita aproveitaram o palanque do segundo dia da Expert XP, realizado ontem (26/07), para criticar a reação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao tarifaço de Donald Trump sobre o Brasil, que aumentou para 50% os impostos sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos.

“O Lula não quer resolver o problema do tarifaço”, disse o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), no painel sobre eleições de 2026, ao lado dos governadores do Paraná, Ratinho Junior (PSD) e de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), ambos possíveis presidenciáveis que, de acordo com pesquisas eleitorais recentes, não conseguem derrotar Lula nas pesquisas presidenciais em um eventual segundo turno.

Para Caiado, Lula foi “irresponsável” e tem tomado medidas na área da diplomacia questionáveis, como a visita que fez para a ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner, em prisão domiciliar, quando esteve em Buenos Aires em vez de se aproximar do atual presidente do principal parceiro comercial do Brasil na América Latina, Javier Milei.

Para Caiado, Lula segue mal preparado e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, perdeu o status de ministro do primeiro escalão e não é mais ouvido pelo atual chefe do Executivo, que passou a ouvir apenas o marqueteiro Sidônio Palmeira, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência, porque ele antecipou a corrida eleitoral.

“Hoje, o Lula não consulta ministro da Fazenda e do Planejamento. Ele só consulta o marqueteiro. O ministro da Fazenda é de baixo clero, porque o presidente quer tirar mais benefício do ponto de vista pessoal para a campanha eleitoral”, afirmou Caiado, que foi aplaudido pela plateia sempre que criticava o atual governo. “Ele fala de soberania, mas sabemos que o Brasil é dos brasileiros, mas o Brasil não é do PT. E não fomos consultados para ele tomar qualquer decisão”, afirmou.

O governador do Paraná também criticou o fato de o presidente Lula não ter enviado aos Estados Unidos o chanceler Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores, para negociar pessoalmente um acordo sobre a aplicação da sobretaxa. “Os outros países mandaram seus representantes para discutir o assunto e o governo fica fazendo vídeo para brincar sobre o assunto. Não vemos nenhum chanceler indo para os EUA para discutir a questão. O governo só está antecipando o debate eleitoral”, criticou Ratinho Júnior. Para ele, essa antecipação do debate, em boa parte, tem ocorrido porque a população não está se sentindo representada no atual governo. Para o governador paranaense, é possível fazer as medidas que são necessárias para o controle das contas públicas, que, pelos cálculos do próprio governo, devem colapsar em 2027.

“Acredito que o Brasil está em um momento difícil a aprendi com o Paulo Hartung (ex-governador do Espírito Santo) que quem não cuida das contas públicas não cuida dos mais humildes e não consegue cuidar das pessoas”, afirmou. Ele contou que reduziu em 50% o número de secretarias quando assumiu o cargo em 2019 e entregou o jatinho que era alugado para o governo e acabou com as aposentadorias dos governadores, alguns exemplos, do começo e que deram a largada para outras ações, como como privatizações, parcerias público-privadas em várias áreas.

Tarcisio de Freitas, que comemorou a vitória de Trump nas eleições e chegou a usar o boné da campanha do republicano, assim como os demais, evitaram fazer críticas a Bolsonaro, que, quando era citado, recebeu poucos aplausos da plateia. Ele procurou citar os impactos do aumento de tarifas para o estado, que, segundo ele, pode perder 120 mil empregos, além de sofrer perdas de receitas de 0,3% a 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB).

O republicano disse que pretende fazer uma “grande liberação” de crédito do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para as empresas do estado afetadas pelo tarifaço para “atenuar os efeitos”. Ele também não poupou críticas ao atual governo e à divisão interna na área política. “Vivemos um problema de tentar tirar vantagem política de tudo, mas nunca vamos fortalecer o aliado atacando o empregador”, afirmou.

União da direita

Ao serem questionados sobre a possibilidade de uma união da direita em torno de um nome para disputar o primeiro turno nas eleições de 2026, Ratinho e Tarcísio concordaram que a união faz a força.

“Sim, podemos esperar a união, e o primeiro ponto positivo é esse espectro ideológico. O grande problema é se não houvesse quadro. Mas existe e isso é bom. Um mesmo candidato (da direita), se tiver condição, eu não tenho dúvida que vai apresentar um projeto para o Brasil”, disse.

Tarcísio de Freitas, por sua vez, fez questão de afirmar que o ex-presidente, que está inelegível, deverá participar desse processo de união da direita. “Se engana quem acha que Bolsonaro não vai participar desse processo. Não vai haver um racha na direita”, afirmou. Segundo ele, quem prega a divisão é o atual governo. “Temos um grupo que sabe exatamente o caminho para a reforma administrativa, a desvinculação das receitas e endurecer com os bandidos. E tem uma turma que sabe fazer o projeto nacional que está acima de todas as vaidades”, defendeu.

Caiado, por sua vez, reforçou a sua candidatura e defendeu o maior número de candidatos no primeiro turno, para que o atual governo não tenha a vantagem de ter um único alvo na campanha eleitoral. “Um único candidato aumenta a capacidade destrutiva do PT sobre a oposição”, disse. O governador goiano ainda que a união da direita ocorra apenas no segundo turno. “Um vai chegar e todos os outros vão estar juntos, porque temos que ganhar as eleições”, afirmou.

Entre os três governadores, o ex-senador foi o único que defendeu o fim da reeleição. “Tenho por convicção na minha vida política que o candidato à Presidência da República precisa de apenas um mandato para fazer mudança. Não dá para pensar em enfrentar e resolver (os problemas do país) se tem o objetivo da segunda eleição”, afirmou.

O Expert XP é o maior festival de investimentos do mundo. Em 2024, o evento reuniu mais de 45 mil pessoas, com 117 horas de conteúdo, 300 palestrantes e temas que abrangeram investimentos, economia, política, sustentabilidade e cultura na Expo São Paulo, na Zona Sul da capital paulista. Neste ano, a expectativa dos organizadores é superar o público do ano passado. Com mais de 100 painéis e plenárias simultâneas ao longo dos dois dias do evento, o festival reúne 173 patrocinadores financeiros e não financeiros, 170 fornecedores e um staff de 4 mil pessoas.

Publicado originalmente no Correio Braziliense

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