29 de outubro de 2025

Busca por terras raras no Brasil é concentrada no Nordeste

Mapa Geológico e da Mineração do Estado do Ceará (Foto: Reprodução/ADECE)

Um dos principais pontos de tensão da economia mundial hoje, a exploração de terras raras é interesse das grandes potências no Brasil e já motivam investigações em sete, dos nove estados nordestinos.

Dados da Agência Nacional de Mineração (ANM) indicam mais de mil pesquisas ao longo dos últimos 20 anos na Região. Mas, apenas em 2025, o número de requerimentos de pesquisa chega a 110, enquanto que as autorizações de pesquisa somam 145.

Os processos representam mais da metade dos 208 requerimentos feitos no ano em todo o País e também das 2012 autorizações de pesquisas emitidas desde janeiro, segundo a ANM. O movimento nos birôs da autarquia sinaliza que há indícios de terras raras na Região e, principalmente, há investidores de olho neste nicho.

Usados na fabricação de chips e ímãs em diversos setores produtivos - como smartphones, TVs, eletrodomésticos e veículos -, os minerais de terras raras são cobiçados pelos principais players mundiais e estão como assunto recorrente na pauta de negociações do Brasil com os Estados Unidos e a China.

No Nordeste, em 2025, Pernambuco é onde se vê maior interesse em terras raras. Foram 39 requerimentos e outras 53 autorizações de pesquisa no ano até agora. Em seguida, atestam os dados da ANM, está a Bahia, com 30 requerimentos e 49 solicitações. Alagoas fecha o pódio no ano, com 10 requerimentos e 38 autorizações.

O Ceará conta com 14 requerimentos e uma autorização no ano. Atrás do Piauí - 12 e 3, respectivamente - e acima da Paraíba - uma solicitação para cada tipo de processo. Já o Rio Grande do Norte possui 4 requerimentos, enquanto Maranhão e Sergipe não possuem registros.

Atrás dos chineses, que possuem 49% das reservas mundiais, o Brasil é apontado como o segundo de maior potencial de exploração, com 23% das reservas.

Cálculos feitos pelo serviço geológico americano e apresentados pelo governo brasileiro apontam a presença de 35 bilhões de toneladas de terras raras em território nacional. Estrategicamente, a União diz observar a exploração desses minérios como um passo rumo à liderança científico-tecnológica internacional.

E mais uma vez se abre uma possibilidade de investimento robusto que pode transformar a realidade socioeconômica da Região. Afinal, estimativas do mercado apontam aplicações de US$ 8,42 bilhões em terras raras em 2024 com uma projeção de chegar até US$ 19,6 bilhões em 2032. Investimentos que incluem exploração e beneficiamento desse material - prática essencial para não tornar o Brasil mais uma vez um exportador de commodity.

Fortescue pesquisa minerais críticos no Ceará

A australiana Fortescue ampliou a atuação no Brasil e pesquisa os chamados minerais críticos em diversos estados do País. No território cearense, as atividades são concentradas na região do Cariri. Os projetos Aratama e Alegre são desenvolvidos nas cidades de Altaneira, Assaré, Farias Brito, Cedro, Várzea Alegre "outros municípios próximos."

O trabalho já tem mais dois anos de execução. A empresa é a mesma que projeta o investimento de US$ 5 bilhões no Complexo do Pecém para a construção de uma planta de hidrogênio verde - cujo projeto é considerado o mais avançado entre os seis pré-contratos assinados.

"No Ceará, o objetivo é pesquisar se há minerais críticos que possibilitem a produção de painéis solares e turbinas eólicas para a produção de energia solar e eólica, contribuindo para fontes de energia mais limpa que não emitam gases de efeito estufa e não causem impactos no meio ambiente, assim como a planta de H2V no Pecém", respondeu a empresa à coluna.

Há registros na Agência Nacional de Mineração (ANM) de autorização para a Fortescue pesquisar, especialmente cobre, em cidades do Ceará e também Goiás, Paraíba e Rio Grande do Norte desde 2021 - com permissões de pesquisa já neste ano.

A empresa não revela, no entanto, se já encontrou indícios que valham a pena minerar e observa que a "fase de pesquisa é longa, leva em média entre 10 e 15 anos, até conhecer o potencial mineral da região."

Classificado como inicial, o trabalho consiste na coleta de amostras feita durante o processo de perfuração para análise e, em seguida, enviadas para laboratórios para perceber se têm mineralização. Uma autorização da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) foi concedida à empresa para desempenhar o trabalho.

"Atualmente, estamos realizando o Multicadastro e, quando necessário, a inscrição de imóveis rurais no Cadastro Ambiental Rural (CAR), para coletar informações da área e atender às regulamentações locais. Ambos cadastros são exigidos para esta etapa do projeto pela autoridade ambiental local, a Semace (Superintendência Estadual do Meio Ambiente)", detalha o site da empresa dedicado ao projeto.

Conhecida no Brasil pelo projeto de hidrogênio verde, a empresa teve a nova atividade sob holofotes em novembro do ano passado, quando o bilionário Andrew Forrest esteve em Juazeiro do Norte. Na ocasião, ele voltava de Brasília, onde esteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e deixou vazar que estaria visitando a cidade para possíveis investimentos.

Os trabalhos desenvolvidos ao longo de dois anos requerem profissionais de pesquisa mineral, ambiental e social. Segundo a mineradora, sete pessoas foram contratadas. Mas a coluna apurou que, a partir das atividades terceirizadas, somam cerca de 60 profissionais atuando nas pesquisas de minerais no interior do Ceará.

Autoridades políticas de Várzea Alegre e Altaneira já receberam esses profissionais para detalhamento das atividades. O impacto ambiental nos municípios foi classificado como mínimo e o econômico se dá pelos serviços contratados, como alimentação, hospedagem, combustível, manutenção e logística.

"A pesquisa de minerais críticos também é uma ação transversal da cadeia produtiva de valor do hidrogênio verde não só local e nacional, mas também internacional, uma vez que a Fortescue está liderando a revolução industrial verde, construindo um portfólio global de projetos de hidrogênio verde e amônia verde renováveis e soluções de tecnologia verde", finaliza a nota.

Publicado originalmente no portal O Povo +

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